Olha lá, Mocidade! ‘Menino tempo’ da parceria de Jefinho Rodrigues é o samba da escola
“Eu já sabia”, disse um dos torcedores na quadra da Mocidade Independente na manhã deste domingo (23). A frase, no entanto, não foi unanimidade. Em uma disputa polarizada entre duas parcerias e que deixou muito torcedor em dúvida a respeito do resultado, o ‘menino tempo’, como foi apelidado a obra campeã, cresceu e se tornou o samba-enredo da Mocidade para o Carnaval 2019. A parceria de Jefinho Rodrigues, Diego Nicolau, Marquinho Índio, Jonas Marques, Richard Valença, Roni Pit’sTop, Orlando Ambrosio e Cabeça do Ajax assina o hino do enredo “Eu sou o tempo. Tempo é vida”, do carnavalesco Alexandre Louzada.
Os leitores do SRzd apontaram o samba de J. Giovanni, Ricardo Simpatia, Gustavo Soares, Solano Santos, Jedir Brisa, Eduardo Educar, G. Alves e Igor Vianna como o favorito na decisão. De fato era um dos postulantes, mas a obra vencedora conquistou redes sociais e grande parte dos integrantes da escola desde a divulgação do áudio e letra, ainda em junho. Diego Nicolau, cria da Mocidade, intérprete da Renascer de Jacarepaguá e um dos compositores do samba, se emocionou no palco e abraçou os parceiros no meio da apresentação.
Nós focamos na linha do tempo de um personagem da Mocidade
“Eu acredito que o sucesso do nosso samba se deu devido a nossa maneira de fazer algo diferente, seja na letra ou na melodia. Nós focamos na linha do tempo de um personagem da Mocidade: a velha-guarda, porque o enredo diz “Eu sou o tempo. Tempo é vida”. Isso acabou o aproximando o samba dos torcedores”, explicou o compositor.
Nicolau, que cantou o samba na final junto de Tinga, dividiu a emoção do campeonato com Jefinho Rodrigues, agora nove vezes vencedor de eliminatória da Mocidade. O compositor que encabeça a turma confessou que a parte preferida da composição é primeira estrofe e revelou uma semelhança da obra com o enredo da agremiação.
Depois de tantos anos, ainda vivenciar isso
“Foi maravilhoso. Estou super emocionado. Depois de tantos anos, ainda vivenciar isso. Estou sem palavras. Uma coisa curiosa é que um dos parceiros, o Richard Valença, me contou que a mãe dele antigamente torcia por mim, quando ele ainda era um menino. Hoje, ele é meu parceiro. Para você ver como é o tempo.”
O samba ganhador foi o terceiro a se apresentar e arrebatou o público. Assim como no momento do anúncio da obra. Já havia clareado quando a festa terminou no “Maracanã do Samba”, como é chamada a quadra da verde e branco na Zona Oeste.
Na decisão deste sábado (22), que rompeu a madrugada, cada uma das parcerias finalistas se apresentou em 10 passadas, sendo duas sem baterias, três com bateria, duas só a torcida e encerrou com três com bateria. As passagens do samba de Jefinho Rodrigues e cia e J. Giovanni e cia se destacaram. Os dois eram os favoritos da final.
Os quatro concorrentes demonstraram o alto nível da safra de composições deste ano. O carnavalesco Alexandre Louzada, que torceu para a parceria campeã, revelou a receita de sucesso: “A culpa é minha, porque eu dei liberdade a todos os compositores. Cada samba saiu com um pensamento diferente. Acho que isso está se tornando moda na Mocidade, e eu aderi. Qualquer um dos finalistas estava dentro do enredo”.
Para o casal de mestre-sala e porta-bandeira, Marcinho Siqueira e Cristiane Caldas, as eliminatórias para o Carnaval 2019 foram mais disputadas: “Ano passado a gente já sabia mais ou menos o samba que ia ganhar, e foi o que queríamos. Esse ano foi mais aberto”, disse a porta-bandeira. O casal, que não revelou preferência dentre os finalistas, contou qual seria o modelo de hino ideal para desfilar.
“Um samba menor e de preferência que tenha uma melodia com diferenças e nuances. Na Avenida, a gente dança uma passada ou um pouco mais que isso. Com um samba menor, fica melhor para dançarmos no tempo”, explicou o mestre-sala.
Sonha, Mocidade!
Depois de 20 anos, os independentes puderam soltar o grito de campeão em 2017. E ao que tudo indica, não esperarão tanto tempo para realizar o desejo novamente. “Hoje a Mocidade pode sonhar” é o que diz os componentes da agremiação. O samba de 2017, aliás, foi um dos destaques durante a apresentação dos segmentos na final. Em alto e bom som, toda a comunidade gritou “Sonha, Mocidade!” e mostrou que é possível conquistar outro título – de preferência na quarta-feira de cinzas.
O coro foi endossado por um dos coreógrafos da comissão de frente, Jorge Teixeira, que também torceu para a parceria campeã: “Tudo está fluindo. A equipe é muito unida e trabalha muito bem. Assim a gente constrói um caminho para a vitória”. Outro segmento que vai de vento em pompa é o casal de mestre-sala e porta-bandeira. Após a nota máxima no Carnaval 2018, Cristiane e Marcinho prometeram ensaiar ainda mais para manter o resultado. O segredo do sucesso, no entanto, não se resume a isso: “É cumplicidade, respeito, admiração pelo trabalho um do outro e dançar com muito amor”, revelou a porta-bandeira.
Além do casal, baianas, passistas, velha-guarda e destaques de luxo se exibiram no meio da quadra ao som da bateria Não Existe Mais Quente, comandada por mestre Dudu. Soberana à frente dos ritmistas, Camila Silva sambou e mostrou por que é uma das rainhas mais queridas da atualidade.
Vice-presidente faz coro a favor das disputas de samba
Antes do início das apresentações das obras finalistas, o vice-presidente da Mocidade, Rodrigo Pacheco, subiu ao palco para se posicionar contrário às encomendas de samba. Ele já havia dado a declaração na entrevista exclusiva da Live SRzd.
“Faço votos de que as escolas prossigam nesse caminho que a Mocidade seguiu, para que a gente não perca a essência do samba. Sou muito fã dessa festa maravilhosa que é a final de uma disputa. Conseguimos reunir comunidade, amigos e torcedores para escolher a obra que levaremos para a Sapucaí ano que vem”, afirmou.
Durante a decisão, em conversa com o SRzd, Rodrigo contou que tentou ao máximo reduzir os custos da disputa para viabilizar a participação dos compositores. No entanto, segundo ele, foram os autores que criaram muitos dos gastos que hoje encarecerem as eliminatórias.
A torcida, se você não colocar comida e bebida, não vem
“A parceria paga R$ 1.500 para um intérprete se apresentar, além do time de canto e os músicos. A torcida, se você não colocar comida e bebida, não vem. Nós tentamos fazer um preço diferenciado ao longo do processo. Os compositores receberam as cortesias e compravam o restante por R$ 5. Na final, eles pagaram a metade do preço do ingresso e a bebida em um valor diferenciado.”
Já a Mocidade, de acordo com ele, pode comemorar. Após anos de prejuízo, essa foi a primeira disputa de samba em que a escola conseguiu lucrar: “Não tivemos dia algum de disputa em que terminamos no negativo. Isso mostra para a gente que o caminho foi ajustado”, declarou o vice-presidente.
Obra campeã passará por ajustes
O samba do ‘menino tempo’ ganhou, mas ainda não está perfeito para representar a Mocidade na Avenida em 2019, quando a escola será a última a desfilar na segunda-feira de Carnaval. Em conversa com o SRzd, o vice-presidente Rodrigo Pacheco afirmou que a composição da parceria de Jefinho Rodrigues sofrerá mudanças até a gravação do CD.
“Qualquer obra que viesse a ganhar passaria por algumas modificações. A gente faz sempre um ajuste, uma adaptação para se adequar melhor ao projeto ou algo relacionado a melodia para se encaixar melhor na voz do cantor”, revelou.
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