Mangueira 90 anos: relembre o Carnaval de 1987 da verde e rosa

Pavilhão da Estação Primeira de Mangueira. Foto: Reprodução

Um desfile que entrou para história da Mangueira. Assim podemos classificar o  Carnaval de 1987 da verde e rosa que levou para Avenida o enredo “O reino das palavras”.

A escola como fazia há algum tempo, apostou na tradição e isso pode ter feito toda diferença. Desfile simples, mas sem deixar de lado o gogô e a ginga dos seus componentes. O morro em festa celebra com Carlos Drummond de Andrade mais um título.

Os preparativos – Cuidado que a Mangueira vem aí!

A escola que vinha de um campeonato com o enredo em homenagem a Dorival Caymmi, com o tema “Caymmi mostra ao mundo o que a Bahia e a Mangueira têm”, preparava mais um super desfile para o ano seguinte. Mas não pense que a escola estava tão tranqüila com essa preparação não. Em matéria publicada em 04 de fevereiro de 1987, de “O Globo”, dava conta que faltando pouco mais de três semanas para o desfile e o barracão da escola, na Praça XI, ainda não estava pronto e que muito tiveram que improvisar. Com tudo isso, segundo a matéria, o carnavalesco Julio não se mostrava preocupado: “No ano passado eu preparei tudo em 22 dias e fizemos aquela beleza que vocês viram na Avenida – fala confiante. – por enquanto só, só estou preparando as esculturas, mas depois vamos virar noite”.

Carlos Drummond de Andrade – um poeta do tamanho do Brasil

Drummond nasceu em Itabira do Mato Dentro – MG, em 31 de outubro de 1902. De uma família de fazendeiros em decadência, estudou na cidade de Belo Horizonte, com os jesuítas no Colégio Anchieta de Nova Friburgo (RJ), de onde foi expulso por “insubordinação mental”. De novo em Belo Horizonte, começou a carreira de escritor como colaborador do “Diário de Minas”, que aglutinava os adeptos locais do incipiente Movimento Modernista Mineiro. A surpreendente sucessão de obras-primas, em seus livros, indica a plena maturidade do escritor, mantida sempre. O poeta mais influente da literatura brasileira em seu tempo, tendo também publicado diversos livros em prosa.

Sobre o Desenvolvimento do Enredo

Idealizado pelo carnavalesco Julio Matos, conhecido na época por Julinho da Mangueira, desdobrou o enredo em 12 quadros, cada um deles correspondendo a poemas de Carlos Drummond de Andrade. Com esse enredo não foi contado a vida do poeta, foram aproveitados os temas de alguns dos seus poemas. Com a ajuda da escritora Nevinha Pinheiro, o carnavalesco fez um dos trabalhos mais louváveis que já pudemos ver em um desenvolvimento de um tema carnavalesco.

A ação começava no poema “Procura da poesia” (“Penetra surdamente no reino das palavras/ lá estão os poemas que esperam ser escritos”). Depois se fixa nas fazendas da infância de Drummond, com os versos de “Confidências de Itabirano” (Alguns anos vivi em Itabira/ principalmente nasci em Itabira”). Mais adiante, o enredo assume a prosa do poeta em “Passeios na ilha” (“E porque nos seduz a Ilha? As composições de sombra e luz, o esmalte da relva, a cristalinidade dos regatos”). E volta à poesia com a obra “Quixote e Sancho de Portinari” (“A minha casa é rica de quimeras”). Segue com o “Canto ao homem do povo, Charlie Chaplin” (Velho Chaplin, as crianças do mundo te saúdam”). Lança-se ao poema “Meu Rio antigo”, e em seguida a “Europa, França e Bahia” (“A torre Eiffel alastrada de antenas como um caranguejo”). Chega ao poema “Três raças” e prossegue com” Carrancas do Rio São Francisco “(As carrancas do Rio São Francisco/ largaram suas prosas/ e vieram para um banco da Rua do Ouvidor”). Chega a “Minas que te quero” (Uma rua começa em Itabira / que vai dar em qualquer parte da terra”). Relembra o poema” O rio toma forma de sambista” (“A suculenta Mangueira escorrendo caldo de samba”). E termina com o “O elefante” (“fabrico um elefante/ de meus poucos recursos”).

O retoque final – O medo do Jurado Anselmo Vasconcelos – e o poeta vai ou não desfilar?

A Estação primeira de Mangueira, a poucos dias do desfile preparava alguma surpresas para esse desfile,  como a escultura de Charle Chaplin, mas para dois fatos eles não estavam preparados. Um que quase abalou a confiança da escola para esse desfile foi a presença do jurado Anselmo Vasconcelos, que ia julgar o quesito conjunto. O presidente da Mangueira, Carlos Dória, achava que o ator foi escolhido para compor o júri pelo fato de estar dirigindo a peça infantil “Aremanas”, que tem em seu elenco o filho de Aniz Abrão David, patrono da Beija-Flor e Presidente da Liga das Escolas na época (em 25 de fevereiro de 1987, “Matutino Jornais de Bairro”), O outro fato era se o homenageado iria desfilar ou não. O que acabou se confirmado. Ele não foi.

Drummond verá a Mangueira pela TV

Estátua Drummond, imortalizado pelas mãos do mineiro Leo Santana em Copacabana. Foto: Reprodução
Estátua Drummond, imortalizado pelas mãos do mineiro Leo Santana em Copacabana. Foto: Reprodução

Em matéria publicada em 1 de março de 1987, no jornal “O Globo”, dizia: “Quando a Mangueira entrar na Passarela do Samba pela manhã de segunda-feira, alguém muito especial estará assistindo o desfile ansioso e emocionado num apartamento em Copacabana. Proibido pelos médicos de desfilar, o homenageado Drummond, em disse:

“Lamento em não poder participar dessa festa, mas estarei torcendo pela Mangueira. Não dei qualquer tipo de palpite para o desenvolvimento do enredo criado pelo Julio Matos, exatamente para que a Escola pudesse se sentir livre.”

Literatura para o Carnaval

Contribuir para ver a obra de Carlos Drummond de Andrade popularizada, foi gratificante para a crítica literária Nevinha Pinheiro, conforme matéria publicada em 24 de fevereiro de 1987, “Matutino Jornal de Bairro”. Nevinha foi a responsável por preparar o roteiro que o Carnavalesco Julio Matos ia transformar em alegorias, fantasias e adereços. Ela que era escritora e professora de literatura e também era amiga do poeta. Nevinha disse na matéria que se sentia feliz por levar as obras do Drummond tão absorvida por intelectuais e agora poderia ser conhecida pelo povo. A oportunidade de fazer esse trabalho foi o acaso, segundo ela. Um amigo em comum ao carnavalesco fez essa ponte entre os dois. Disse que a forma que ela fez foi para divertir principalmente ao poeta, que submeteu a ele todo projeto e que o mesmo aceitou integralmente. Ao todo ela separou 25 poemas sobre os quais deu a sua interpretação, oferecendo sugestões para alegorias. No final preparou 17 textos.

“Achei que o enredo poderia ser “O Reino das palavras”, já que elas são a ferramentas de trabalho dos poetas. O próprio Drummond no poema ‘Procura da poesia’, do livro ‘A rosa do povo’, usa essa expressão.

Ela diz na matéria, que o Samba-Enredo está perfeitamente enquadrado dentro de Carlos Drummond de Andrade.

Julinho, o carnavalesco disse: “A ditadura é o único regime capaz de fazer tudo dar certo num desfile”

Carnavalesco Julio Mattos. Foto: Reprodução
Carnavalesco Julio Mattos. Foto: Reprodução

Essa frase foi a chamada de uma nota no “O Globo”, de 01 de março de 1987, que ilustra a difícil missão de comandar um barracão na época. A missão do ser carnavalesco dentro de uma agremiação não devia ser fácil.  Ele é uma das pessoas mais importante nessa engrenagem. Dos oito desfiles organizados por Julinho, a escola foi vice em quatro e campeã no restante. Ele fazia tudo dentro do barracão. Além de assinar o enredo, era responsável pelo roteiro do desfile, projetava os carros alegóricos, desenhava os figurinos e fazia até as esculturas. Morador do Morro, o carnavalesco tinha uma equipe de 10 pessoas que o acompanhava há muito tempo.

O Desfile

Dividido em 75 alas, 300 baianas, 200 crianças, 300 ritmistas, 12 carros alegóricos e muitos adereços de mão. Os dados na época, já indicavam até a algumas semanas antes do desfile, que os gastos já ultrapassavam os Cz$12 Milhões.

A Comissão de Frente foi o primeiro grande momento do desfile, a nata da cultura, do samba e da história da Escola estava ali, homenageando o poeta, como Chico Buarque, João Nogueira, Hermínio Bello de Carvalho, Aldir Blanc, entre outros. A Escola veio com um belo abre-alas. Outra alegoria foi em homenagem à Fazenda dos Doze Vinténs, que pertenceu ao pai de Drummond, em Itabira. Várias obras como “Passeios na Ilha”, “Quixote e Sancho, de Portinari” e “Brincando de brincar”, este último repleto de alas fantasiadas de piratas, arlequins, palhaços, entre outros; representando o Rio de Janeiro dos antigos carnavais, estavam presentes. Uma escultura do Zé Pereira era o destaque de mais uma alegoria. Teve também o poema “Canto ao homem do povo”, com inúmeras fantasias em preto e branco, sobre Charles Chaplin. Os doze profetas de pedra-sabão estavam presentes, que lembravam o Aleijadinho. Outra imagem marcante ficou por conta das baianas, com panos de costa verde, encerraram o desfile. A garra de sempre fez toda diferença. O que veio a levantar o público na Passarela.

Aquela Comissão de Frente

Esse foi para muitos um dos pontos alto do desfile: a comissão era simplesmente composta por Chico Buarque, Aldir Blanc, João Nogueira e Affonso Romano de Sant’anna, entre outros. Um verdadeiro luxo. Uma grande surpresa para o espectador.

Chico Buarque na Comissão de Frente de 1987. Foto: Reprodução
Chico Buarque na Comissão de Frente de 1987. Foto: Reprodução

Componentes: 14 masculinos – Nome da fantasia: Tradicional

O que representou: “… será formado como sempre por sete integrantes da Velha Guarda, compositores como Cartola, Carlos Cachaça, Nelson Sargento, Zagaia e João Nogueira. A novidade deste ano é que eles serão acompanhados por sete intelectuais amigos de Drummond, convidados para abrir o desfile: Chico Buarque, Afonso Romano de Sant’anna, Hélio Tys, Paulo Henrique Barbará, Aldir Blanc, Hermínio Bello de Carvalho”.

Pontuação: 10,0 – 10,0 – 10,0 – 10,0

Anos depois, em 1998, não é que Chico Buarque seria o grande homenageado em um desfile da Escola, com enredo também campeão, “Chico Buarque da Mangueira”. Oh sorte!

A crítica da Carnavalesca Maria Augusta ao desfile de 1987

A carnavalesca Maria Augusta faz severas críticas ao desfile da Escola, pela transmissão da TV Manchete.

Mas antes, o Roberto Barreira (comentarista) fala sobre as fantasias da Escola, que não tem muito compromisso com o enredo e que elas serviam para qualquer enredo, para qualquer história e que a função dela é emoldurar alegria, euforia do mangueirense. O samba da Mangueira ainda assim, disse ele, está correto, fantasias caras, bonitas e esmero no acabamento, no nível das fantasias da Beija-Flor. A alegria das alas contagia, o mistério da Mangueira vai para segundo plano para ele.

Aí Maria Augusta diz que tudo que ela está vendo no desfile, ela já viu.  Na Mangueira e em outras escolas. Que está cansada com o que viu na Mangueira e também na Imperatriz Leopoldinense. Disse que parecia uma salada misturada, só mantendo as cores da Escola. “Maravilha, tudo bem o rosa e o verde, tenho maior respeito. Mas fora isso, na concepção das fantasias, nada de novo. Pelo contrário, tudo repetido com soluções muito mais pobres”. Isso foi só o início da crítica. Ela fez elogios apenas às fantasias da bateria e disse que ali se vê que a Escola gastou dinheiro.  Fala que a Mangueira tem samba, mas a Escola marcha na Avenida. Ao fim da transmissão, o comentarista Aroldo fez muito elogios ao desfile da Escola, diz que o Drummond deve ter ficado feliz. Maria Augusta ao final da fala dele, diz que não concorda. E cita a correria da Escola, fala do horror em termos de cor da Escola. Diz que os carros não contaram o enredo coisa nenhuma, que o enredo não existiu, nem fantasia, nem alegoria, são alegorias mal tratadas, as fantasias algumas bem feitas, lamentava, que não gostou e que a Mangueira fica devendo um desfile a sua altura. Não sei o que aconteceu, mas Madame Augusta esse ano não curtiu nada.

O comentarista Roberto Barreira diz depois das palavras dela, algumas das melhores frases sobre a agremiação e o que passou ali:

“A fantasia da Mangueira não tem compromisso, agora a empolgação, a vibração, sabe, esse mar de VERDE E ROSA na Avenida, sabe, a gente deixa assim. Se é de bom gosto ou de mau gosto, para lá”.

“a Mangueira e o mangueirense estão dançando, estão fazendo um espetáculo pra todos nós”

“em nome dessa dedicação deles, dessa paixão pelo samba, o mangueirense é o sambista mais apaixonado de todos”

“Mangueira não se discute, acontece todo ano”

“aí ganha ou a gente perde”

Imagem do desfile da Mangueira 1987. Foto: Reprodução
Imagem do desfile da Mangueira 1987. Foto: Reprodução

A apuração

Uma vitória que surpreendeu a Escola e os moradores do Morro da Mangueira. Mas antes da apuração aos gritos de – “O pau vai comer, se a Mangueira não vencer…”, a torcida da Escola chegava ao Maracanãzinho (local da apuração na época). Mas teve também desmaio, teve Dona Zica, teve recursos do GRES Império da Tijuca, que pedia que não levasse em consideração o atraso da Escola no domingo. Em matéria publicada com a chamada: “Maioria dos jurados acha vitória justa”. Para o julgador Marcio de Souza (Enredo): “achei perfeita a Mangueira ser a primeira e Mocidade a segunda”; Luiz Mario Gazzaneo (Harmonia): “o resultado não foi justo. Houve muita generosidade com algumas Escolas e muita rigidez com outras”; Para Marilia Krantz (Alegoria): “A Mangueira era tudo, foi a Escola que levantou o público” (05, de março de 1987, matutino, “O Globo”)

Mapas de notas 1987

Alegorias e adereços1010810
Bateria10101010
Comissão de Frente10101010
Conjunto1061010
Enredo10101010
Evolução10101010
Fantasia10101010
Harmonia109810
Mestre-sala e Porta-bandeira1010109
Samba-enredo10101010

 

Mapas de notas 1987

Quem causou e virou o destaque, foi a julgadora Marina Montine, o ano que ela só deu 10 para Mocidade e para as demais Escolas entre 5 ou 6 (quesito Conjunto).

Em matéria publicada no artigo do Pedro Migão, “Sambódromo em 30 Atos – 1987: Equilíbrio incrível e o bicampeonato injusto” têm uma interessante explicação:

“Este ano houve o famoso caso da jurada Marina Montini, que deu notas 5 e 6 a todas as Escolas e 10 à Mocidade. De acordo com amigo que estava na Coordenação dos Jurados, aquele ano o quesito Conjunto era julgado através de dois subitens: SEQUÊNCIA (notas de 3 a 6) e UNIDADE (notas de 2 a 4). Por infelicidade para a jurada, a sequência estava na pág. 27, enquanto que a Unidade estava na pág. 28… Montini NÃO virou a página; ou seja, ficou só na página 27, dando notas de 3 a 6. E assim foi.”

Matéria do “O Globo”, de 05 de março de 1987, matutino diz que em uma entrevista para TV a modelo tentou justificar sua nota para o quesito. Aparentando estar chorando disse que recebeu ameaças telefônicas e outro telefonema tentando comprometê-la, no qual o interlocutor dizia que havia um cheque à sua disposição emitido por Castor de Andrade: “Não fui paga por ninguém, para mim, cinco é dez. Recebi as ameaças como um bacará (lustre de cristal francês) partido”, desabafa a julgadora. “Eu sempre serei uma artista. Se depender de dinheiro morrerei pobre, porque nada comprará minha beleza e a minha soberania. Dei 5 e 6 consciente. Com nota máxima a Mocidade, não quis prejudicar ninguém e jamais faria isso com ninguém. Quem é já nasce feito”. E Finaliza: “Um minuto de silêncio ao Brasil. Tomara que melhore e que as negras, como eu, aprendam um pouco de vida, que sejam elegantes”. Onde andará Marina Montine?

Ala das baianas da Mangueira em 1987. Foto: Reprodução
Ala das baianas da Mangueira em 1987. Foto: Reprodução

Um samba com a cara da Mangueira

Para alguns o samba enredo tinha jeito de marchinha, para outros tinha letra muito simples. Também foi considerado uma obra com melodia animada. A quem diga que a letra é muito bem feita e por aí… Mas o fato é que ele embalou perfeitamente mais uma vitória da Mangueira. Na função de conduzi-lo estava o Mestre Jamelão, que com sua voz potente fez os componentes cantarem como se não houvesse amanhã.

Na coluna do Artur da Távora, escrita por Eugenio Lyra Filho (suplente) cita que os compositores cumpriram a missão de transformar os 12 poemas do homenageado, e que tiveram dois êxitos. Um no começo singelo e expressivo na cabeça do samba (“Mangueira/ de mãos dadas com a poesia”) e um refrão gostoso que apenas alude a alguns poemas, mas que sintetiza a intenção da Escola: (“É Dom Quixote, Ó / É Zé Pereira/ É Charles Chaplin no embalo da Mangueira”) (06 de março de 1987, matutino segundo caderno, “O Globo”).

Samba Enredo

Autor (es): Rody, Verinha e Bira do Ponto

Puxador (es) : José Bispo Clementino dos Santos (Jamelão)

Mangueira
De mãos dadas com a poesia
Traz para os braços do povo
Este poeta genial
Carlos Drummond de Andrade
Suas obras são palavras
De um reino de verdade
Itabira
Em seus versos ele tanto exaltou
Com amor
Eis a minha verde e rosa
Cantando em verso e prosa
O que o poeta inspirou

É Dom Quixote, ô
É Zé Pereira
É Charlie Chaplin
No embalo da Mangueira

Olha as carrancas
Do Rio São Francisco
Rema, rema, remador
Primavera vem chegando
Inspirando o amor
O Rio toma forma de sambista
Como o artista imaginou

Na ilusão de um sonho
Achei
O elefante que eu imaginei

Dados do desfile

Resultado: Campeã do Grupo 1 (LIESA) com 224 pontos

Data, local e ordem do desfile:  8ª Escola de 01/03/87, Domingo – Passarela do Samba

Autor (es) do Enredo: Júlio Matos

Carnavalesco(s): Júlio Matos

Presidente: Carlos Alberto Dória

Diretor de Harmonia: Alberto Baiano e Delegado

A Bateria vinha com 300 Componentes sob o comando de Mestre Taranta

Contingente da Escola foi de 3500 Componentes, em 35 Alas

Fatos Sobre o Carnaval e o ano de 1987

Em matéria publicada em 22 de janeiro de 1987, a chamada da página dava conta que a Riotur anulava venda de 1080 ingressos da Passarela (todos da cadeira de pista do setor 4, por reconhecer irregularidade nas vendas).

Para a jornalista Sonia Biondo, em publicação de 03 de março de 1987, ela cita que esse ano o “verão do pessimismo, em meio à desilusão com o cruzado, que coroou um ano de escassez de produtos, de alimento e de matéria prima, o carnaval do Rio de Janeiro tinha que estar mais para “Dark”, do que para a tradicional festa colorida de todos os anos”. Fala da falta de entusiasmo da festa, referindo-se aos desfilantes e a platéia, não fosse o desfile da Mangueira, além da correta apresentação do Salgueiro. Do bom momento da bateria da Caprichosos de Pilares e da criatividade das carnavalescas Rosa Magalhães e Lícia Lacerda, do Estácio (com o “Tititi do Sapoti”). A jornalista diz que a Mangueira foi a única que fez jus a categoria, nessa primeira parte do grupo A.

Um compositor morreu pouco antes do desfile: Mario Pereira, o Marinho da Muda, como era conhecido, era o compositor do samba e “puxador” da Escola Império da Tijuca, que levava para Avenida o enredo: “Viva o povo brasileiro”. Marinho da Muda morreu aos 59 anos de um enfarte fulminante (publicado em 28 de fevereiro de 1987 no matutino, pág. 17).

O passista Ademir Gargalhada ganhou o Estandarte de Ouro como melhor passista masculino de 1987.

“Riotur anula desfile desse ano e não patrocinará grandes clubes em 1988”, em matéria publicada em 05 de março de 1987. Essa era a chamada de uma das matérias que dava indícios sobre a crise na época.

Depois da vitória o tititi… Dona Neuma declara que esse foi o Carnaval mais tumultuado que já tiveram. Teve briga entre a cantora Lecy Brandão e o presidente Dória, que também demitiu o Xangô da Mangueira, Diretor de Harmonia.

Em 05 de outubro de 1987 os jornais anunciavam: Mangueira de luto com o assassinato de Dória. O presidente da agremiação de 44 anos foi assassinado com três tiros na madrugada, na garagem do prédio onde morava com a mãe. Carlos Alberto Dória era soldado da PM. A notícia interrompeu o samba em várias Escolas durante a madrugada. E a Escola que tentaria o “Tri”, ficaria em 2º lugar em 1988, com o enredo “100 anos de liberdade, realidade ou ilusão?.

Em 1987 foi o auge do grupo Olodum, dando visibilidade ao samba-reggae e aos ritmos de percussão afro-baianos, que ainda hoje dominam o carnaval. A Banda Mel gravava “Faraó”, composta pelo Olodum. A música se tornou conhecida nacionalmente.

Esse ano de 1987 foi o ano da guerra dos logotipos das TVs Globo e Manchete, que quase ofuscam o brilho da festa durante a transmissão. Tinha estrela que cobria um logo da concorrente durante a transmissão. Foi uma verdadeira guerra. Deu até saudade desse tempo!

Foi nesse ano que o povo do samba via pela primeira vez o cantor Roberto Carlos desfilar na Avenida. Foi pela Escola Unidos do Cabuçu, cujo enredo o homenageava. Vestido com um terno branco, envolto por rolos de fumaça de gelo seco, o cantor evoluía com acenos de mão e tímidos passos de samba. Ele foi muito ovacionado em sua passagem pelo Sambódromo.

Outro desfile que marcou época foi o da Mocidade, que criou “Tupinicópolis”, uma metrópole fantasiosa só de índios.

Teve a Deputada Estadual Jandira Feghali desfilando em uma ala no GRES Caprichosos de Pilares com o seu enredo batizado de ‘Eu Prometo’. Satirizava a demagogia eleitoreira e sua fantasia reproduzia manchetes de jornais.

No Carnaval, Chacrinha fez a marchinha “Bota a Camisinha”, a Modelo Luma de Oliveira foi a grande revelação (e saiu na PLAYBOY meses depois), o cantor Lobão, menos polêmico na época, desfilou na bateria da Mangueira.

No ano de 1987, o carnaval carioca perdeu dois grandes artistas que marcaram os desfiles: os carnavalescos Fernando Pinto e Arlindo Rodrigues.

No dia 17 de agosto de 1987, morria no Rio de Janeiro, Carlos Drummond de Andrade, poeta, contista e cronista. Nascido em Itabira (MG), no dia 31 de outubro de 1902.

Mangueira teu cenário é uma beleza

BRASÃO

Brasão da Mangueira. Foto: Divulgação
Brasão da Mangueira. Foto: Divulgação

Estrelas na cor dourada em igual número aos campeonatos conquistados pelo Grêmio nos desfiles oficiais das Escolas de Samba, tendo em destaque uma estrela maior que representa o título de supercampeã do Carnaval de 1984. E uma estrela com as cores dos anéis olímpicos, referente ao título de 2016, no ano das Olimpíadas do Rio.

A BANDEIRA

O pavilhão é composto por 8 (oito) polígonos de cor verde e 8 (oito) polígonos de cor rosa que, alternadamente, convergem para um octógono na cor verde, com bordas douradas, que contém o Brasão do Grêmio

Verde e Rosa as cores de uma escola campeã

 *1932 Enredo: Sorrindo e A Floresta

1º lugar: Mangueira

*1933 Enredo: Uma Segunda Feira no Bonfim da Bahia

1º lugar: Mangueira

*1934 Enredo: Divina Dama / República da Orgia

1º lugar: Mangueira

*1940 Enredo: Prantos, Pretos e Poetas

1º lugar: Mangueira

*1949 Enredo: Apologia ao Mestre

1º lugar: Mangueira

*1950 Enredo: Plano Salte – Saúde, Lavoura, Transporte e Educação

1º lugar: Mangueira

*1954 Enredo: Rio de Janeiro de Ontem e Hoje

1º lugar: Mangueira

*1960 Enredo: Carnaval de Todos os Tempos

Campeã do Grupo 1

*1967 Enredo: O Mundo Encantado de Monteiro Lobato

1º lugar: Mangueira

*1968 Enredo: Samba, Festa de um Povo

1º lugar: Mangueira

*1973 Enredo: Lendas do Abaeté

1º lugar: Mangueira

*1984 Enredo: Yes, Nós temos Braguinha

Campeã e Supercampeã

*1986 Enredo: Caymmi Mostra ao Mundo o que a Bahia e a Mangueira Têm

1º lugar: Mangueira

*1987 Enredo: O Reino das Palavras

1º lugar: Mangueira

*1998 Enredo: Chico Buarque da Mangueira

1º lugar: Mangueira

*2002 Enredo: Brazil com “Z” é pra Cabra da Peste, Brasil com “S” é Nação do Nordeste

1º lugar: Mangueira

*2016 Maria Bethânia: A Menina dos Olhos de Oyá

1º lugar: Mangueira

O GRES Estação Primeira de Mangueira é uma das mais tradicionais Escolas de Samba do Rio de Janeiro. Fundada em 28 de abril de 1928, mantém, desde a sua fundação, uma única marcação, com o surdo de primeira na bateria. Ganhou, ainda, 1 Super-Campeonato, exclusivo, oferecido no ano de 1984, na inauguração do Sambódromo.

Samba de Exaltação à Mangueira

Aloísio Costa e Eneas Brites da Silva

Pavilhão da Mangueira. Foto: Reprodução
Pavilhão da Mangueira. Foto: Reprodução

Mangueira teu cenário é uma beleza

Que a natureza criou, ô…ô…
O morro com teus barracões de zinco,
Quando amanhece, que esplendor,
Todo o mundo te conhece ao longe,
Pelo som de teus tamborins
E o rufar do seu tambor,
Chegou, ô… ô…
A mangueira chegou, ô… ô…
Mangueira, teu passado de glória,
Está gravado na história,
É verde-rosa a cor da tua bandeira,
Pra mostrar a essa gente,
Que o samba é lá em Mangueira !

SALVE A MANGUEIRA! FELIZ 90 ANOS!

 A Estação Primeira de Mangueira, escola de tradição e crença nos orixás, escola de várias influências raciais.  No dia 28 de abril de 1928, decidiram unir todos os blocos de Mangueira, para desfilar na Praça Onze. Reuniram-se Angenor de Oliveira (Cartola), Saturnino Gonçalves (Seu Saturnino), Abelardo da Bolinha, Carlos Moreira de Castro (Carlos Cachaça), José Gomes da Costa (Zé Espinguela), Euclides Roberto dos Santos (Seu Euclides), Marcelino José Claudino (Seu Maçu), Pedro Paquetá e fundaram o Grêmio Recreativo Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira. Como seu primeiro presidente, elegeram o Sr. Saturnino Gonçalves. Por sugestão de Cartola, adotaram as cores verde e rosa. PARABÉNS!

* Artigo de autoria de Claudio Rocha de Jesus – Bibliotecário e Pesquisador

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