Jean Wyllys defende enredo da Imperatriz e pode ser convidado a desfilar

Deputado Jean Wyllys. Foto: Facebook

Deputado Jean Wyllys. Foto: Facebook


O deputado Jean Wyllys escreveu o texto abaixo em defesa do enredo da Imperatriz Leopoldinense e o artigo foi recebido muito bem pela direção artística da escola de samba do Rio. Embora os boatos que estejam circulando digam que Wyllys seria convidado a desfilar no Carnaval deste ano, o carnavalesco da escola, Cahê Rodrigues, declarou ao SRzd que ainda não formalizou o convite, mas que seria uma honra ter o deputado na apresentação deste ano. O convite ainda pode acontecer.

Leia o texto que pode vir a ser o passaporte do deputado Jean Wyllys para desfilar no Carnaval deste ano:

O índio luta por sua terra: da Imperatriz vem o seu grito de guerra
O verso do samba-enredo da escola de samba Imperatriz Leopoldinense, uma das mais tradicionais do carnaval carioca, é mais do que só letra de música. É mais um capítulo da comunhão histórica entre o samba e os povos marginalizados do Brasil.

Recentemente, essa escola tradicional do bairro de Ramos, na zona da Leopoldina, passou a receber uma verdadeira enxurrada de críticas de associações ruralistas, diga-se muito bem organizadas, a respeito da escolha do tema para o seu carnaval deste ano.

Tudo porque a agremiação escolheu homenagear os povos tradicionais do Xingu, abalados pela expansão irresponsável da fronteira agrícola e pela construção de mega usinas hidroelétricas nos seus territórios.
Depois da Sociedade Rural Brasileira e da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu, no últimos dias, duas novas associações do setor, a Associação Brasileira dos Criadores de Girolando e Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador, também sentiram-se na obrigação de soltar notas de repúdio à escola.

O que a Imperatriz fez, no entanto, foi trazer para a festa de carnaval temas que já foram apontados diversas vezes por organizações internacionais e por ativistas brasileiros pelos direitos humanos.

Os povos do Xingu representam quinze tribos e quatro grupos linguísticos indígenas diferentes, ameaçados, segundo ação do Ministério Público Federal, de etnocídio, que é quando toda uma historicidade e a cultura de um povo se tornam ameaçadas de sobrevivência.

As mudanças promovidas pelo represamento da água dos rios da região altera o fluxo das marés, tornado-o imprevisível. Peixes deixaram de ser encontrados ali. Habitações ribeirinhas, como são muitas aldeias, precisaram ser removidas e outras estão ameaçadas.

É evidente que, por se tratarem de povos indígenas, essas população não podem simplesmente ser deslocadas. Tampouco seus hábitos tradicionais de cultivo podem ser substituídos pelo agronegócio e a sua intensiva utilização de agrotóxicos e fertilizantes artificiais. Do respeito as suas tradições ancestrais, depende a vida desses povos.
Quero saudar a feliz escolha da escola Imperatriz Leopoldinense. Não é de hoje que o samba, também ele posto à margem e difamado desde a sua origem, dá às mãos aos mais vulneráveis. Se no meio da floresta há poucos recursos para dar voz ao desespero de nossos irmãos e irmãs indígenas em sofrimento, então, que isso possa ser feito com o ritmo da bateria, as fantasias de carnaval e a escolha brilhante do carnavalesco Cahê Rodrigues. O amor ao próximo é a essência dessa festa.

Ouça aqui o samba-enredo da Imperatriz

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