Direção de Carnaval da Viradouro: ‘Implantar uma gestão profissional dentro da direção de Carnaval foi fundamental para driblar a crise’

Dudu Falcão e Alex Fab. Foto: Carlos Papacena

Dudu Falcão e Alex Fab. Foto: Carlos Papacena

Após alguns dias da festa do título de 2018, o SRzd bateu um papo com os diretores de Carnaval da Unidos do Viradouro, escola campeã da séria A. Trabalhando juntos desde 2009 e com passagens por agremiações como Portela, Caprichosos de Pilares e Imperatriz Leolpodinese, Alex Fab e Dudu Falcão inovaram ao imprimir um ritmo de trabalho pautado na profissionalização e gestão empresarial dentro da vermelho e branco do Barreto. Confira:

Uma das coisas que mais chamaram atenção durante a preparação da Viradouro para o Carnaval foi o clima de tranquilidade no barracão da escola. A que vocês atribuem a isso?

Dudu Falcão: Na verdade não era tranquilidade, era muito trabalho. O que buscamos foi manter um ambiente organizado, focado no trabalho. Isso nos ajudou muito para colaborar com a execução do projeto da escola. Quando a presidência nos apresentou o projeto com toda a sua grandeza, a primeira coisa que pensamos foi em traçar uma estratégia que nos possibilitasse colocar o projeto em prática dentro de todas as limitações que as escolas do grupo de acesso possuem em termos de local para trabalhar e orçamento. Tudo isso, agravado pela crise que vivenciamos em 2017, aumentou ainda mais nossa responsabilidade.

Alex Fab: Existe uma máxima de que o sucesso de uma escola de samba reflete o equilíbrio entre três fatores: administrativo, técnico e artístico. O que buscamos na Viradouro foi, diante da crise, priorizar o fator administrativo para que os fatores técnico e artístico fossem fortalecidos e tivessem êxito. Sabíamos que em um ano de dificuldades orçamentárias e incertezas com relação ao repasse de recursos, a escola precisaria de uma direção de Carnaval extremamente envolvida com cada etapa do processo de execução.

Como vocês falaram foi um ano de crise financeira. Qual estratégia vocês usaram para driblar a crise?

Alex: Dudu e eu traçamos um plano de ação. Esse plano envolvia desde a busca de novos parceiros comerciais dentro e fora do Estado, como o estreitamento da relação com quem já trabalhava com a escola, mantenedores, profissionais de barracão, de ateliê. É importante destacar a equipe de barracão que tivemos. Eles abraçaram o projeto. Essa parceria foi muito importante, realizar essa escuta foi fundamental, pessoas que têm a vivência de estar dentro de um barracão, que conhecem materiais. Então, criamos esse canal com eles, dando liberdade para que também sugerissem a aquisição de determinado material, que pensassem conosco as estratégias. Realizamos a troca de materiais que tínhamos em estoque e não usaríamos. Enfim, criamos novos hábitos, novas possibilidades. Trabalhos como se fossem uma espécie de licitação, sempre com no mínimo dois orçamentos. Pensávamos não somente na vantagem financeira, mas de entrega, qualidade de material. Tudo foi analisado de forma muito profissional. Usamos ferramentas de gestão, de logística, de gestão orçamentária, experiências que temos na nossa formação acadêmica e na nossa experiência profissional fora do Carnaval.

Dudu: Nós não poderíamos achar que era simplesmente escolher o melhor material e as melhores soluções e colocar dentro do nosso Carnaval. Buscamos parceiros fora do Rio. Havia a dificuldade de entrega por conta da distância, mas o custo-benefício nos fez ver que havia a possibilidade de realizar um Carnaval grande e barato. O que foi visto na Avenida custou bem menos do que as pessoas pensam.

A que vocês atribuem o sucesso de execução do projeto da Viradouro?

Dudu: Na verdade é mais simples do que se pensa. É algo feito em qualquer empresa do mundo. Ter, no mínimo, dois ou três orçamentos e dentro deles encontrar o que se adequa à sua realidade. Sempre pensando na relação preço x qualidade. Outro fator fundamental para a economia de recursos foi a negociação com profissionais que trabalham dentro do barracão. Ao montar a equipe cedo, fugimos do leilão com outras escolas. Nossos colaboradores de barracão iniciaram suas atividades em maio. Acho que de um novo modo de fazer Carnaval, no que se refere a questão administrativa, foi determinante nesse processo.

Alex: Tínhamos também um fluxo de produção bem alinhado para que não houvesse aquisições desnecessárias, desperdício de material, alocação de recursos equivocados. Pensamos no modal, no tipo de material a ser utilizado, na otimização das horas trabalhadas. Sabíamos que, dentro de uma realidade de grupo de acesso, todos os passos precisam ser bem pensados. Buscamos estabelecer e cumprir prazos, respeitar os acordos feitos com fornecedores e colaboradores. Terminamos o Carnaval com uma relação estabelecida e sólida com todos os nossos parceiros, fornecedores e colaboradores, o que certamente vai nos facilitar quando pensarmos o projeto 2019.

Vocês utilizam termos que vemos dentro do ambiente empresarial, mas que são pouco usados o cotidiano das escolas de samba, como logística, recursos humanos, gestão administrativa…

Dudu: Temos familiaridade com esses termos, não somente na teoria, como na prática. Alex e eu temos uma formação acadêmica e profissional que nos permitiu trazer para a direção de Carnaval da Viradouro uma administração empresarial. Eu acredito que este foi o nosso diferencial.

Alex: E a Viradouro se abriu a esse novo perfil de trabalho. Nosso presidente de honra e nosso presidente administrativo também possuem essa visão gerencial e nos deram todo o suporte para implantar nossa metodologia e autonomia para executar o projeto da melhor forma possível. Essa relação de confiança com a gestão da escola foi primordial para atingirmos nosso objetivo.

Qual a formação de vocês?

Alex: Eu trabalho há 27 anos com gerência logística dentro do serviço público. Sou docente do ILA (Instituto de Logística da Aeronáutica) em São Paulo. Tenho graduação em recursos humanos e pós-graduação em gestão de liderança, chefia e gestão de pessoas, além da especialização em logística. E fiz também alguns cursos voltados para a gestão de eventos com ênfase em Carnaval. Usamos o nosso conteúdo acadêmico e vivência profissional na escola. Isso é motivo de muita alegria, porque foi possível agregar valores a cada um que trabalhou conosco. O gestor financeiro da Viradouro também é um excelente profissional, com uma excelente formação e larga experiência, que contribuiu muito para o sucesso do trabalho. Destaco a troca com pessoas que tinham a vivência de barracão. Foi muito interessante. Na verdade, nossa formação é continuada, sempre vamos a palestras, seminários, workshops voltados para o Carnaval. Buscamos estar em contato com profissionais de outras agremiações para aprender com os mais experientes, agregar valores. É fundamental estar atento ao que acontece dentro e fora da nossa escola.

Dudu: Sou graduado em recursos humanos. Minha especialização também é em recursos humanos, além de departamento pessoal. Sou gestor de uma multinacional há cinco anos. Ter a possiblidade de usar a experiência de mercado em prol do Carnaval, que é a nossa cultura, é algo que me alegra muito. Espero muito que a experiência da Viradouro possa contribuir para que o Carnaval absorva mais profissionais preocupados com a parte gerencial das escolas de samba.

Quais os planos para 2019?

Alex: Começar o trabalho o quanto antes.
Dudu: Vamos continuar na direção de Carnaval e também vamos atuar na direção de harmonia, junto com Mauro Amorim.

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