Vila Isabel 2018: Escola ‘gira nas voltas da Avenida’ em desfile repleto de efeitos
Desfile da Vila Isabel 2018. Foto: Juliana Dias/SRzd
Paulo Barros e Paulo Menezes cumpriram o que prometeram e produziram, na Unidos de Vila Isabel, um desfile repleto de efeitos especiais. Com alegorias que abusaram da tecnologia e fantasias com elementos que giravam na Avenida, a agremiação defendeu o enredo “Corra que o futuro vem aí!” neste domingo (11) de Grupo Especial, quando foi a terceira a se apresentar. Apesar disso, de acordo com Luiz Fernando Reis, comentarista do SRzd, a Vila Isabel foi aquém das expectativas e fez um desfile frio, sem a famosa interação com as arquibancadas, marca dos trabalhos de Paulo Barros.
A apresentação da Vila Isabel se iniciou aos 6 minutos já da segunda-feira de Carnaval (12) e foi recebida pela torcida organizada “Guerreiros Vila Isabel” na arquibancada do Setor 01. Logo de início, o intérprete Igor Sorriso homenageou Martinho da Vila, destaque no abre-alas, que completou 80 anos nesta segunda. O cantor e compositor foi ovacionado por toda a Avenida.
Ainda de acordo com Luiz Fernando, não houve ‘casamento’ entre a azul e branca e os carnavalescos. Um dos fatores que colaboraram para o desfile não ter rendido o esperado.
Enredo
Com o enredo “Corra que o futuro vem aí!”, Paulo Barros e Paulo Menezes fizeram o dever de casa num desfile de fácil leitura. Era possível identificar o tema de alas e alegorias sem a necessidade de roteiro. A abertura, “E fez-se a luz”, mostrou o surgimento do fogo e a descoberta da luz. A segunda parte, “Gira mundo sem parar”, falou sobre a invenção da roda e trouxe fantasias com efeitos de giro. “O mundo na palma da mão” demonstrou a tecnologia presente nas nossas vidas em celulares e computadores. A parte seguinte, “Som e imagem em ação”, fez alusão às televisões e ao cinema. O quarto setor, “Aonde você quer ir?”, falou sobre as tecnologias que propiciam viagens às pessoas. Por fim, “Como será o amanhã?” trouxe uma mensagem de sustentabilidade.
Comissão de frente
A comissão de frente da Unidos de Vila Isabel, comandada por Alex Neoral, que chegou na escola há 3 semanas, trouxe a tecnologia como seu ponto forte. Com um efeito tridimensional em aparelhos que os componentes carregavam e um elemento cenográfico praticamente não utilizado, o grupo arrancou tímidos aplausos das arquibancadas. Esperava-se mais interação.
O coreógrafo conversou com o SRzd e justificou a escolha do tema da comissão, intitulada “Leonardo da Vinci, o visionário”: “São 14 Leonardo da Vinci. O público o conhece como pintor, mas ele foi um grande gênio da humanidade. Inventou o helicóptero, inventou um monte de coisa. O elemento surpresa da comissão é como se fosse uma metáfora do que ele tinha na imaginação. O que a gente tem hoje, como invenção e descoberta, tem o dedo dele lá no início. É uma mistura de passado e futuro”, explicou.
Alex também falou sobre o relacionamento com um dos carnavalescos: “O Paulo Barros tem essa característica de ser ousado e isso me instiga muito como criador e coreógrafo. Ele não tem medo de arriscar, ele arrisca no seguro. Acho que vai dar o que falar”.
Na opinião de Márcio Moura, especialista do SRzd no quesito, a comissão não aproveitou o elemento alegórico, o que evidenciou a pouca necessidade do mesmo no desfile. Apesar disso, Márcio elogiou a coreografia elaborada por Alex Neoral.
Casal de mestre-sala e porta-bandeira
O casal da Vila Isabel, Raphael e Denadir, arrancou aplausos dos setores 6 e 7 pela fantasia “Fogo, descoberta que ilumina”. A roupa da porta-bandeira apresentou uma saia de LED que era ligada por Denadir no início da coreografia. O figurino, no entanto, não agradou Mestre Manoel Dionísio, especialista do SRzd: “Acredito que a saia não tenha sido adequada. Pra ter aquele efeito todo, deve ter sido muito pesada. Pelo que vi, impediu a Denadir de dançar tudo que ela sabia”.
Segundo o Mestre, o casal tem talento, mas não conseguiu mostrar por completo no Sambódromo: “Para dançar com Raphael, tem que ser uma boa porta-bandeira e ela é. O que me chamou mais a atenção foi a indumentária. Eu achei que ela não desenvolveu tudo que ela pode mostrar”. Outra especialista no quesito, Eliane Santos de Souza, concordou com Dionísio e criticou o peso da fantasia usada pela porta-bandeira, que revelou-se, porteriormente, ter cerca de 40 kg.
Bateria
A bateria da Vila Isabel sofreu grande polêmica no pré-carnaval devido ao relacionamento de mestre Chuvisco com os ritmistas da Swingueira de Noel. Mas, de acordo com o mestre, os problemas foram sanados: “A gente teve uma vida inteira na Estácio de Sá e agora mudamos para Vila Isabel. Começamos em abril os ensaios de bateria para chegarmos com um bom entrosamento com o pessoal e acredito que agora está legal”.
Chuvisco também detalhou os truques da bateria na Avenida: “A gente tem bossa na cabeça do samba, no refrão do meio do samba, na segunda do samba, no refrão de baixo do samba, temos coreografias, a bateria dá uma ‘corridinha’, tem muita coisa interessante para gente mostrar”. No entanto, nem tudo falado pelo mestre foi realizado na pista.
O figurino da fantasia representou “Eureka!” e Sabrina Sato, rainha de bateria, incorporou “A luz da inspiração”. Ao lado de Sabrina, a princesa Dandara vestiu “Uma ideia brilhante”. Segundo o comentarista de bateria do SRzd Bruno Moraes, a Swingueira de Noel teve a passagem afetada por problemas no primeiro módulo.
“Em sua estreia na bateria da Vila, o Mestre Chuvisco teve problema na apresentação do primeiro módulo, o que impactou no astral e performance dos ritmistas ao longo da pista, com andamento muito acelerado e instável em alguns momentos. Os destaques positivos foram a bossa do refrão do meio e o desenho do tamborim.”
Samba e carro de som
A obra dos compositores Pinguim, JP, Marcelo Valência, Julio e Deco Augusto foi interpretada por Igor Sorriso. O intérprete encarnou um personagem e estava com um divertido figurino. A obra, não muito elogiada no pré-carnaval, impulsionou o desfile da agremiação.
Fantasias e alegorias e adereços
Uma estética moderna deu o tom do trabalho dos carnavalesco Paulo Barros e Paulo Menezes. A parte plástica agradou o comentarista do SRzd Hélio Rainho. Segundo ele, “Paulo Menezes muito feliz nas fantasias. A utilização de diversos materiais não convencionais deu um efeito muito legal”.
O abre-alas, “A luz do conhecimento”, trouxe o símbolo da escola, coroa, replicado com efeitos de iluminação. O carro teve a ilustre presença de Martinho da Vila como destaque central. O carro “Nas voltas da Vila” empolgou parte das arquibancadas quando os componentes corriam no globo presente na alegoria. A alegoria três, “Na ponta dos dedos”, trouxe um grande teclado movimentado pelos componentes. No momento que os integrantes saiam, parte do público vibrou. A alegoria “No ar, uma campeã de audiência” foi o destaque. O carro teve um karaokê em que os desfilantes cantavam o samba no microfone e o som era transmitido na alegoria, além disso, um grande telão de LED passava imagens do desfile. O carro “Rumo às estrelas” trouxe uma espécie de brinquedo de parque de diversão e, por fim, “O futuro a gente inventa” trouxe miniaturas de carros e adereços verdes em referência à sustentabilidade.
Harmonia e evolução
O forte canto da Vila Isabel, marca da escola, não foi notado em sua totalidade. A apresentação oscilou entre alas que cantavam e outras mais contidas. Já em evolução, a Unidos de Vila Isabel manteve a compactação e não abriu buracos. O comentarista do SRzd Luiz Fernando Reis aprovou, em partes, a escola no quesito. Segundo ele, “os componentes não compraram o enredo, as ideias do Paulo. Ele (o carnavalesco) precisa de desfilantes muito centrados e o pessoal da Vila brincava na Avenida e não realizava todos os efeitos de fantasias”.
Veja também:
– Vídeo: Sabrina Sato fala em ‘futuro’ ao explicar convite para Dandara desfilar ao seu lado
– Vídeo: Mug fala sobre mistura de estilos na bateria da Vila Isabel
Galeria de fotos
Ficha técnica
Local: Vila Isabel, Rio de Janeiro
Fundação: 4 de abril de 1946
Cores: Azul e branco
Símbolo: Coroa
Campeonatos no Especial: 1988, 2006 e 2013
Colocação em 2017: 10º Lugar – Grupo Especial
Presidente: Levi Júnior
Carnavalescos: Paulo Barros e Paulo Menezes
Intérprete: Igor Sorriso
Diretor de Carnaval: Ricardo Fernandes
Mestre de Bateria: Chuvisco
Rainha de Bateria: Sabrina Sato
1º casal de mestre-sala e porta-bandeira: Raphael e Denadir
Comissão de frente: Alex Neoral
Enredo 2018: “Corra que o futuro vem aí!”
Número de carros alegóricos: 06
Samba-enredo
Compositores: Pinguim, JP, Marcelo Valência, Julio e Deco Augusto
Quem quer tocar o horizonte
E conhecer o que virá
Mergulhe fundo, o passado é a fonte
Quem nunca foi, jamais será
O fogo que arde na alma da gente
Desvenda mistérios e traz o saber
Forja o sonho, ilumina a mente
Brilha no meu ser
O mundo gira nas voltas da Vila
Rodas da vida que movem moinhos
No sopro de um novo tempo, força do pensamento
Conduzindo novos caminhos
Destinos moldados na palma da mão
Lições da história pra se folhear
Os livros inspiram a evolução
Um click nos leva pra qualquer lugar
Nas ondas do rádio ou na televisão
Na sétima arte que mostra até mais
Ensinamentos, efeitos bem mais que especiais
Aventureiros cruzaram o oceano
Chegaram ao fundo do mar
Riscaram o espaço e deram um passo
Maior que o homem podia imaginar
Hoje pensar em ciência
É ter consciência do que está por vir
Então pra que desistir
Corra que o futuro vem aí
O povo do samba, é vanguarda popular
Mora nos macacos e no Boulevard
Vem aqui aprender, “minha vila tá legal”
“O moderno e o tradicional”
Comentários