União da Ilha 2018: Bateria é ingrediente principal da mistura insulana e levanta público da Sapucaí

Mestre Ciça no desfile da União da Ilha 2018. Foto: Leandro Milton/SRzd.

A União da Ilha mostrou, nesta segunda-feira (12) de Grupo Especial, porque é a queridinha do público. Com um desfile animado que conquistou os presentes da Sapucaí, a escola apresentou o enredo “Brasil bom de boca”, desenvolvido pelo carnavalesco Severo Luzardo. A agremiação insulana foi a terceira a pisar no Sambódromo e, com uma clara leitura do tema, fez um bom desfile. Na opinião do comentarista do SRzd Luiz Fernando Reis, a Ilha brigará pela vaga nas campeãs.

“Foi uma grata surpresa. Ano passado, eu fiz severas críticas ao Severo Luzardo. Esse ano não, ele deu uma leitura impecável. Eu vi o renascimento de uma União da Ilha alegre, solta, descontraída. Gostei muito. Não sei se ela disputa o Carnaval, acredito que não, mas ela pode beliscar uma das seis primeiras colocações na apuração”, afirmou.

Já na opinião de outra especialista do SRzd, Rachel Valença, a Ilha perdeu boas oportunidades e pecou em alguns quesitos. De acordo com ela, os problemas foram na comissão de frente, a utilização das cores e o samba-enredo.

Desfile União da Ilha 2018.Foto: Leandro Milton/SRzd

Enredo

A União da Ilha escolheu um tema que pode ser considerado ‘a cara’ dela e que teve uma profunda pesquisa do carnavalesco Severo Luzardo para traçar uma história da culinária brasileira. O enredo “Brasil bom de boca” se iniciou com a chegada dos portugueses ao Brasil. Nas caravelas, trouxeram o café e o açúcar. Nas duas partes seguintes, a Ilha abordou as iguarias indígenas e africanas. O quarto setor apresentou o Brasil exportador e deu destaque ao cacau. A agremiação encerrou seu desfile com as comidas e bebidas tipicamente brasileiras, como coxinha, caipirinha e brigadeiro.

De acordo com o comentarista do SRzd Luiz Fernando Reis, diferentemente do ano passado, o enredo da Ilha teve uma leitura clara e perfeita na Avenida: “Esse ano não, ele deu uma leitura impecável. Acho que enredo claro é aquele que não necessita de roteiro para se entender, e o enredo da Ilha foi assim”.

Desfile União da Ilha 2018.Foto: Leandro Milton/SRzd

Comissão de frente

Coreografada por Márcio Moura, a comissão de frente da Ilha representou “O banquete”. Com uma mescla de teatralização e dança, a apresentação levantou o público de frisas e arquibancadas e foi muito bem aplaudida. A comissão teve a principal característica da escola: leveza e irreverência. Algumas pessoas chegaram a rir em determinado momento da coreografia. O grupo começou inicialmente vestido de cozinheiro. Parte dele trocou de figurino e incorporou personagens de corte clássica. Em cima de um elemento cenográfico, os dançarinos devoraram um porco e, ao final, apareciam barrigudos. A cena divertiu os presentes.

Apesar disso, os integrantes realizaram a apresentação quase que totalmente em cima do tripé, o que, para Rachel Valença, comentarista do SRzd, foi um grave erro: “A União da Ilha perdeu, neste desfile, boas oportunidades. Uma delas, a de apresentar uma comissão de frente no chão, o mínimo de resto de tradição que se exige. É hoje esse mínimo é mínimo mesmo”, afirmou.

Desfile União da Ilha 2018.Foto: Leandro Milton/SRzd

Casal de mestre-sala e porta-bandeira

Pelo segundo ano consecutivo, Phelipe Lemos e Dandara Ventapane foram os responsáveis pela defesa do pavilhão insulano. A dupla vestiu a fantasia “Vale das rosas e seu doce real”. O mestre-sala conversou com o SRzd poucos minutos antes de entrar na Sapucaí e se mostrou pronto para a apresentação: “Esgou feliz. Preparado para mostrar pra esse povo nosso espetáculo. Eu gosto de dar uma energizada na galera e gosto de receber o retorno deles”.

Phelipe também comentou sobre o figurino. Segundo ele, a roupa não atrapalha a apresentação da dupla: “Nada me atrapalha, porque a gente tem um trabalho junto do ateliê e do carnavalesco. Buscamos a mobilidade da dança, o entendimento de todas as partes, para que a dança apareça da melhor forma”.

De acordo com a especialista do SRzd no quesito, Eliane Santos de Souza, Phelipe e Dandara realizaram um dança que, em alguns movimentos, relembrou o balé. “A coreografia teve apoio e técnicas da dança que evidenciaram a plasticidade e um ritmo próximo ao balé. Houve harmonia e sincronismo. A reprodução de um passo realizado por Chiquinho, ex-mestre-sala da Imperatriz Leopoldinense, chamou atenção. Com a distribuição de movimentos contínuos e amplos, o casal fez boa apresentação”.

Desfile União da Ilha 2018.Foto: Leandro Milton/SRzd

Bateria

Destaque do desfile, os ritmistas do ‘Bonde do Caveira’, apelido para a bateria da Ilha comandada por mestre Ciça, passou pela Avenida representando os “Cozinheiros de raros sabores”. À frente, estreou na escola Gracyanne Barbosa. A musa fitness e rainha de bateria, usou uma fantasia intitulada “Eita tempero bom!”. A bateria levantou por completo o público da Marquês de Sapucaí e foi aplaudida de pé por todos os julgadores, numa passagem, segundo o comentarista do SRzd Claudio Francioni, apoteótica.

“Mestre Ciça deu uma aula na Avenida. A bateria da Ilha fez a melhor apresentação desde a chegada do veterano há quatro carnavais. Todos os naipes apresentaram levadas precisas e as afinações das marcações estavam bem equilibradas. O grande destaque foi a bossa com o conjunto de repiques-mor que se afastava da bateria para um solo. Tão simples, quanto arriscado e espetacular.”

Desfile União da Ilha 2018.Foto: Leandro Milton/SRzd

Samba e carro de som

Apoiado pela excelente passagem da bateria, o samba da Ilha empolgou componentes e público. A atuação do intérprete Ito Melodia, sempre marcante, contribuiu para o bom rendimento da obra dos compositores Ginho, Marcelão da Ilha, Flavinho Queiroga, Júnior, Thiago Caldas, John Bahiense, André de Souza e Prof. Hugo. A parte final e o refrão principal foram os destaques. O samba agradou ao comentarista do SRzd Wanderley Monteiro.

“Chegou a hora da merenda. O samba já na primeira parte mostra um falso refrão, duas estrofes de três versos com pequena mudança de letra de uma para outra e a mesma melodia deixando a impressão de ser um refrão ou um bis completo. Um farnel muito bem resolvido principalmente na segunda parte do samba, que entra em menor para bailar mais leve. Ito Melodia com sua potência de voz, volta em maior para explodir no refrão final. Principalmente com a participação fundamental da comunidade. a Ilha desfilou com um bom samba.”

Já para a especialista do SRzd Rachel Valença, faltou ‘brincadeira’ no samba: “A Ilha perdeu a oportunidade de ter um samba coerente com a brincadeira que era o enredo. Enquanto este trabalhava com o lúdico dos ingredientes, o samba abordava o tema com seriedade. Faltou graça. ‘Saudade de você, Didi’.”

Fantasias e alegorias e adereços

A parte plástica da Ilha surpreendeu pela fácil leitura, foi possível perceber os elementos principais das comidas sendo retratados em cada ala e alegoria. O abre-alas, “Caravelas a bailar no mar”, simbolizou a chegada dos portugueses e as comidas trazidas por eles. O tripé “E Tupã abençoou esse sabor da aldeia!” e a alegoria “Sabores da terra” retrataram a relação indígena da comida brasileira. Ambos os elementos abusaram do azul e verde em tons cítricos. “Fogo aceso no terreiro das Yabás” retratou a influência africana. A alegoria “Doce cacau” exalou cheiro de chocolate pela avenida e mostrou delícias infantis. Fechando o desfile, “Ilha prepara a mesa do bar, faz a festa” representou um grande botequim onde são servidos as principais comidas tipicamente brasileiras.

De acordo com a especialista do SRzd Rachel Valença, a utilização de cores prejudicou a plástica da escola: “A oportunidade de aproveitamento das possibilidades de uma escola tricolor também passou longe e a excessiva mistura se cores não deu muito certo”. No que diz respeito às fantasias, a comentarista criticou a ala de baianas: “Mais uma oportunidade perdida do desfile foi de ter uma baiana autêntica, daquelas saudosas que vendiam comida na rua. Por que as penas?”.

Desfile União da Ilha 2018.Foto: Leandro Milton/SRzd

Harmonia e evolução

A Ilha passou do seu jeito pela pista do Sambódromo: alegre, descontraída e irreverente. Os componentes cantaram e interagiram com o público. Alas compactas não abriram buracos e contribuíram para o bom desfile da agremiação.

Desfile União da Ilha 2018.Foto: Leandro Milton/SRzd

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– Com mais de 30 anos de Avenida, Ciça diz que mestre ‘não pode descaracterizar a bateria’

Galeria de fotos

Ficha técnica

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Local: Ilha do Governador, Rio de Janeiro
Fundação: 7 de março de 1953
Cores: Azul, vermelho e branco
Símbolo: Lira e cavalo marinho
Campeonatos no Especial: Nenhum
Colocação em 2017: 8º Lugar – Grupo Especial
Presidente: Ney Filardi
Carnavalesco: Severo Luzardo
Intérprete: Ito Melodia
Diretor de Carnaval: Wilsinho
Diretor de Harmonia: Valber Frutuoso
Mestre de Bateria: Ciça
Rainha de Bateria: Gracyanne Barbosa
1º casal de mestre-sala e porta-bandeira: Phelipe Lemos e Dandara Ventapane
Comissão de frente: Márcio Moura
Enredo 2018: “Brasil bom de boca”
Número de carros alegóricos: 05
Número de tripés: 01

Samba-enredo

Compositores: Ginho, Marcelão da Ilha, Flavinho Queiroga, Júnior, Thiago Caldas, John Bahiense, André de Souza e Prof. Hugo

PÕE LENHA NO FOGÃO!
O AROMA ESTA NO AR.
EXALA A NOSSA POESIA!
CARAVELAS A BAILAR NO MAR,
CHEGAM PRA MISCIGENAR ESSA FOLIA.
EITA TEMPERO BOM. EU QUERO PROVAR!
DERRAMA O CALDO DE LÁ, NOS FRUTOS DE CÁ.
EITA TEMPERO BOM, EU QUERO PROVAR
NAS TERRAS TUPINIQUINS O QUE SE PLANTA DÁ.
E TUPÃ ABENÇOOU ESSE SABOR DA ALDEIA.
INCENDEIA, AGUÇA O PALADAR.
MERGULHEI NO GOSTO QUE MAREIA.
RIQUEZA MILENAR

FOGO ACESO NO TERREIRO DAS YABAS Ô Ô
NA MISTURA A HERANÇA DOS MEUS ANCESTRAIS
BOTA ÁGUA NO FEIJÃO QUE O SAMBA ESQUENTOU
ÓÔÔÔ NA BATIDA DO TAMBOR

E NA FARTURA DO MEU TABULEIRO
O GRÃO É VIDA, MOSTRA O SEU VALOR
SINTO O CHEIRO DE CRAVO E CANELA
VÓ QUITUTEIRA MEXENDO A PANELA
DA NOSSA TERRA, UM GOSTINHO SEM IGUAL
PRO SEU PRAZER DOCE CACAU
ILHA…PREPARA A MESA, NO BAR FAZ A FESTA,
SERVINDO UM BANQUETE À FANTASIA
UMA RECEITA IMPOSSÍVEL DE ESQUECER
DUAS PITADAS DE AMOR, EU E VOCÊ,
JUNTANDO A FOME COM A VONTADE DE VENCER

VEM PROVAR O SABOR DESSE MEU CARNAVAL!
EU SOU A ILHA, SOU O PRATO PRINCIPAL
VOU DEIXAR ÁGUA NO BOCA
PROVOCAR UMA VONTADE LOUCA!

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