Acadêmicos da Rocinha 2018: agremiação ‘voa’ na Avenida, mas peca em finalização e fantasias

Desfile da Acadêmicos da Rocinha. Foto: Leandro Milton /SRzd

Sediada em São Conrado, a Acadêmicos da Rocinha foi a 4ª escola a se apresentar na Marquês de Sapucaí no segundo dia de desfiles da Série A. Com o enredo “Madeira Matriz”, que falou sobre os 110 anos da xilogravura no Brasil, homenageou J. Borges, o maior xilógrafo do nosso país. Apesar da tentativa, a azul, verde e branca da Zona Sul não conquistou o público. Com um samba fraco, a agremiação não teve seu canto clamado na Avenida.

Assinado pelo carnavalesco Marcus Ferreira, atual campeão da Série A, que levou o Império Serrano à elite do Carnaval em 2017, o enredo percorreu detalhes da técnica de ilustração mais antiga do mundo. A xilografia têm origem chinesa, onde o artesão utiliza um pedaço de madeira para entalhar um desenho, deixando em relevo a parte que pretende fazer a reprodução. Em seguida, utiliza tinta para pintar a parte em relevo do desenho.

A Rocinha vêm superando as expectativas

Segundo o presidente da escola, Ronaldo Oliveira, a força do desfile está na comunidade. “A Rocinha vem superando as expectativas, pelo momento que a comunidade vem vivendo, muito difícil, são sete meses de guerra. Mas a comunidade é guerreira, ela quer pisar forte na Avenida. Apesar de todas as dificuldades, a Rocinha chegou e vai tentar, da melhor maneira possível, cumprir o seu papel. O Hélio e a Beth são pessoas mega competentes, fizemos um ‘truquezinho’, e o público vai gostar”.

Enredo

Acadêmicos da Rocinha 2018. Foto: Leandro Milton /SRzd

Para o desfile, a agremiação também contou com uma homenagem, gravuras em madeira feitas por J. Borges foram entregues à escola. O artista, renomado internacionalmente, já expôs na Europa, México e Estados Unidos.

Não foi fácil ver o enredo sendo contado durante o desfile. O que foi descrito no roteiro, não foi perfeitamente visto.

Comissão de frente

Acadêmicos da Rocinha 2018. Foto: Leandro Milton /SRzd

A comissão de frente da Acadêmicos da Rocinha levou drones para a Sapucaí. Quatro equipamentos “fantasiados” de guarda-chuvas de frevo compuseram a ala, que foi coreografada pelo casal Hélio e Beth Bejani. Com uma dança simples, os 15 bailarinos se dividiram em mostrar a festividade dos foliões da cidade de Bezerros e o espírito festivo de J. Borges, o homenageado. Quatro caixas de madeira com imagens de uma xilogravura com o desenho de uma borboleta, símbolo da escola, uniam o homenageado e a agremiação.

No primeiro box de jurados, no entanto, o espetáculo dos drones deixou um pouco a desejar. O movimento de sobe e desce proposto não funcionou perfeitamente. Mesmo assim, o público, que não esperava o uso da tecnologia, aplaudiu a performance.

Hélio sempre traz o tradicional com a inovação

Segundo o comentarista de comissão de frente, Márcio Moura, o trabalho de Hélio Bejani foi o diferencial para o êxito da apresentação. “A Acadêmicos da Rocinha vem com uma comissão de frente muito criativa, muito eficaz, obviamente na mão de Hélio e Beth Bejani, um casal com uma experiência sensacional. Hélio que é coreógrafo do Salgueiro também, então ele traz sempre a mesma equipe. Ele traz sempre os mesmo bailarinos, são pouquíssimas trocas, para que possa fazer um trabalho conjunto nos ensaios na madrugada. Uma hora ele ‘passava’ a Rocinha, outra hora ele ‘passava’ o Salgueiro, e o Hélio sempre traz o tradicional com a inovação. Sempre. Em todos os trabalhos dele, ele e a Beth, e ele fez isso novamente na Rocinha, quando ele trouxe chapéus de frevo. De longe, como tinha uma bailarina que trazia um chapéu mesmo, você acreditava que que eram todos chapéus”.

Para o coreógrafo da comissão Hélio Bejani, de frente da Rocinha, a Série A está abandonada:

Grupo Especial está difícil, a Série A ficou meio que abandonada

“Um ano super difícil, a gente está fazendo um trabalho da melhor maneira que a gente possa. Mas a gente vai fazer uns ‘bichinhos’ voarem na Avenida. Como é uma festa nordestina, a gente está usando o frevo como base. O samba fala de ‘estrelinhas lá no céu’, os guarda-chuvinhas das mãos das meninas vão para o céu. Foi muito difícil, mesmo. O Grupo Especial está difícil, a Série A ficou meio que abandonada, a gente está fazendo o que pode.

Casal de mestre-sala e porta-bandeira

Acadêmicos da Rocinha 2018. Foto: Leandro Milton /SRzd

Primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Acadêmicos da Rocinha, David Sabiá e Thainá Teixeira foram só entrosamento durante o desfile. Representando os “Folheteiros de Ilusão”, que são os vendedores de Cordel e as capas dos folhetins estampados com as xilogravuras de J. Borges nas cores preto, com alguns detalhes bastante interessantes como penas nas cores rosa e amarelo fluorescente.

Durante o desfile, o sorriso tomou conta. O casal emanou interação e pareceu se divertir, tornando leve o bailado.

Bateria

Acadêmicos da Rocinha 2018. Foto: Leandro Milton /SRzd

Uma das melhores baterias da Série A, a  Rocinha fez um bom desfile durante todo o percurso. Comandada pelo Mestre Júnior, a bateria, que representou “O Casamento do Diabo”, não economizou nas bossas e variações rítmicas.

A bateria do mestre Júnior fez um desfile perfeito

Para o comentarista do SRzd, Bruno Moraes, o desfile foi “perfeito”. “Ótimo desfile da bateria da Rocinha. Bateria muito segura mesmo com a complexidade das bossas e variações rítmicas. A bateria do mestre Júnior fez um desfile perfeito, mesmo com toda dificuldade durante o ano para realizar ensaios.”

Acadêmicos da Rocinha 2018. Foto: Leandro Milton /SRzd

Mônika Nascimento, Rainha de Bateria, foi um espetáculo à parte. Vestida de Noiva do Diabo e com um tridente nas mãos, a morena contou com diversos leds na cabeça e no adereço, dando um tom interessante e descontraído.

Samba e carro de som

Acadêmicos da Rocinha 2018. Foto: Leandro Milton /SRzd

O carro de som não deixou a desejar durante todo o show. Comandado pelo intérprete Leléu, contou com uma falha técnica aos 14 minutos, mas que não atrapalhou o andamento do desfile. Na apresentação em frente ao terceiro módulo de jurados, a bateria deixou um buraco na pista, e pode ser penalizada com perda de pontos no quesito “evolução”.

Wanderlei Monteiro – “No olhar de J. Borges, o xilógrafo brasileiro, o samba da Rocinha traz as tristezas e as alegrias do nordeste/sertão. Um samba de boa melodia que parecia ser ‘calangueado’, mas na Avenida o Leléu interpretou com muita segurança e funcionou muito bem.”

Fantasias, alegorias e adereços

Acadêmicos da Rocinha 2018. Foto: Leandro Milton /SRzd

A Acadêmicos da Rocinha sofreu com grande parte de suas fantasias. Pares de regatas e calças foram comuns em todos os desfiles, incluindo na ala de passistas, a 13ª do desfile. As passistas femininas contavam com sutiãs próprios ou tops, na parte de cima de seus trajes. Algumas até optaram por utilizar a parte de cima de um biquíni, provendo assim, uma não-harmonia.

Acadêmicos da Rocinha 2018. Foto: Leandro Milton /SRzd

Os carros alegóricos também sofreram. O abre-alas tinha uma ideia interessante, com um grande carrossel em sua parte frontal, mas o acabamento nas estátuas deixou a desejar. Não foi difícil ver panos rasgados, imperfeições nas esculturas. A terceira alegoria, no entanto, que retratou “A Chegança de Lampião no Inferno”, ganhou pontos por retratar caveiras nas cores ciano e magenta, fugindo um pouco dos tradicionais vermelho e preto.

Harmonia e evolução

Acadêmicos da Rocinha 2018. Foto: Leandro Milton /SRzd

A Acadêmicos da Rocinha passou bem por quase todo o desfile na Marquês de Sapucaí. Se não fosse por alguns pequenos momentos onde a comissão de evolução não conseguiu controlar o avanço da escola, não haveria nenhum problema, mas em frente ao primeiro box de jurados, aos 29 minutos, onde o desfile ficou parado por alguns minutos.

Veja fotos do desfile

Ficha técnica da escola

Fundação: 30 de março de 1988
Cores: azul, verde e branco
Presidente: Ronaldo Oliveira
Carnavalesco: Marcus Ferreira
Diretor de Carnaval e Harmonia: Márcio André
Mestre de bateria: Júnior
Rainha de bateria: Mônika Nascimento
Mestre-sala e porta-bandeira: David Sabiá e Thainá Teixeira
Coreógrafos da comissão de frente: Hélio e Beth Bejani
Alas: 22
Carros alegóricos: 4
Classificação em 2017:

Samba-enredo

Autores: Márcio André, Marquinhos do Armazém, Amaury Cardoso, Ronaldo Nunes, Rafael Prates, Flavinho Segal, Anderson Benson, JR Vidigal
Intérprete: Leléu

– Ouça o samba-enredo

Um olhar acende a luz da inspiração
Vem ilustrar… Em preto e branco o meu Agreste
No taco da umburana, a matriz traçou
A xilogravura de um matuto sonhador
Nos muros, vou retratar…
A lida de sua gente

Nas feiras nuvens de balões,
Folheteiros de ilusões,
Doces frutas e piões…

O barro é ouro nas margens do Ipojuca
Floriu da palma o alimento dessa luta

Contra o Monstro do Sertão

Seca danada como essa ninguém viu
´´Vamo“ simbora que Asa Branca já partiu
Meu ´´Padim“ faz chover,
São Jorge não vença o dragão!
Quem carrega a fé pra valer,
Vai seguindo a procissão…
Estrelinhas lá no céu, alumiam Bezerros!

É São José Padroeiro!

Qual ´´muié“ pôs o cão na garrafa,
Quem viu casar Lampião?
É o pecado e a graça,
Desses causos do Sertão…
Tem batuque pra Xangô, no pé da ´´Serra“
Maracatú, Bumba-Meu-Boi
Papangú da minha terra
Nessa ciranda todo mundo vai chegar
Esse cortejo tem frevo e cantoria
Fiz de papel colè, as máscaras dessa folia!

Vem que a Rocinha chegou,
É nosso caso de amor
Deixa a borboleta te encantar,
Chora viola! (viola)
A minha história vai emocionar!

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