Renascer 2018: Escola supera incêndios em barracão e faz bom desfile

Desfile da Renascer de Jacarepaguá. Foto: SRzd/Leandro Milton

Desfile da Renascer de Jacarepaguá. Foto: SRzd/Leandro Milton

Com enredo cultural sobre a Amazônia ser inspiração do compositor Heitor Villa-Lobos, a Renascer de Jacarepaguá foi a quinta escola a passar pela Avenida Marquês de Sapucaí na primeira noite de desfiles da Série A do Rio de Janeiro. A agremiação demonstrou uma certa opulência e, felizmente, decepcionou quem esperava um desfile fraco por causa das dificuldades enfrentadas no último ano. Em 2017, a escola sofreu dois incêndios que destruíram protótipos de fantasias e atrasaram as preparações para o desfile.

No início da apresentação, o presidente da agremiação, Antonio Carlos Salomão, comentou o acontecido do último ano. “Quem esperava que a Renascer fosse passar às cinzas se enganou muito. O fogo foi lá e tentou destruir. Com a mesma intensidade que tentou destruir, o amor construiu”, afirmou. O presidente também agradeceu a ajuda da Imperatriz Leopoldinense, que doou material para as fantasias e alegorias.

Desde 2013, quando voltou a desfilar na Série A após ter passado apenas um ano no Grupo Especial, a Renascer de Jacarepaguá tem sido classificada entre o 8° e o 11° lugares. No último ano, a escola conquistou a décima posição da principal divisão do grupo de acesso.

Enredo

Entitulado de “Renascer de flechas e de lobos”, o enredo da Renascer de Jacarepaguá se apropriou da diversidade e do folclore da Amazônia que serviram de inspiração para umas das últimas composições de Villa-Lobos. O enredo foi desenvolvido pelos carnavalescos Raphael Torres e Alexandre Rangel, que assinam um desfile da agremiação pelo segundo ano consecutivo.

Iniciado com uma comissão de frente que traduziu visualmente os sons da floresta amazônica, o primeiro setor abordou a beleza da flora da região. Com muito verde entre as alas, o segundo setor trouxe a fauna da Amazônia para a Avenida. Foram representados os animais jacaré-açu, sapo-cururu, papagaio-verdadeiro, tucano-toco, arara vermelha, onça-pintada e macaco-guariba. O terceiro setor abordou o folclore da região. Lendas e mitos dos povos da Amazônia foram abordados. Cobra grande, boto cor de rosa, Yara, saci-pererê, uirapuru. Já o quarto quarto setor trouxe alas para as composições de Heitor Villa-Lobos. O último carro da escola reproduziu uma orquestra sinfônica formada por índios e regida por uma grande escultura do maestro Villa-Lobos.

Desfile da Renascer de Jacarepaguá. Foto: SRzd/Leandro Milton
Desfile da Renascer de Jacarepaguá. Foto: SRzd/Leandro Milton

Comissão de frente

A comissão de frente, coreografada por Tony Tara, tentou traduzir visualmente os sons da floresta amazônica para saudar o compositor Heitor Villa-Lobos. A escola levou tripés de árvores que escondiam os integrantes da comissão com fantasias de animais. Apesar da exuberância no visual, a coreografia da comissão foi simples — porém eficaz. Na frente dos grupos de jurados, os integrantes da ala saíam de dentro de suas árvores e realizavam uma coreografia de acordo com os hábitos de cada animal.

Tony Tara, em uma rápida conversa com o SRzd, comentou que esteve à frente de grande parte do projeto da comissão de frente. “Eu assumi o projeto quase inteiro. Contribuí com as ideias, montei coreografia, executei os figurinos. Abracei tudo. Posso falar que eu sou um profissional que vou do inicio da coreografia até o visual”, afirmou.

A surpresa ficou pela aparição de animais e de um índio, que saíam do caule dessas árvores.

O comentarista do SRzd, Márcio Moura, reforçou que a escola levou à Sapucaí uma comissão com bastante volume. “Foram enormes árvores conduzidas por Heitor Villa-Lobos. A surpresa ficou pela aparição de animais e de um índio, que saíam do caule dessas árvores. Teve um colorido representativo da fauna brasileira. Mais uma comissão recheada de teatralidade”, concluiu.

Casal de mestre-sala e porta-bandeira

O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira fez um belíssimo desfile na Sapucaí. Bastante aplaudido pelo público, o mestre-sala Luiz Augusto Russier e a porta-bandeira Patrícia Cunha representaram a beleza da Flora Amazônica. Com cores vivas, a fantasia da porta-bandeira representou uma vitória-régia, enquanto a do mestre-sala representou uma borboleta. Patricia considerou sua fantasia leve, que facilita sua evolução.

A comentarista do SRzd Eliane Santos de Souza conversou com Patrícia Cunha no final do desfile. A porta-bandeira compartilhou que acreditava ter feito um ótimo desfile e que a fantasia leve facilitou sua apresentação. Patrícia comentou também que fez uma preparação de três meses de treinamento para aguentar a passagem na Sapucaí.

Eliane também conversou com Carlinhos Brilhante, antigo mestre-sala da Vila Isabel. Para ele, o casal da Renascer desenvolveu a coreografia com sintonia e equilíbrio, com muita simpatia. Ele disse ainda que os movimentos do casal foram leves e variados.

Desfile da Renascer de Jacarepaguá. Foto: SRzd/Leandro Milton
Desfile da Renascer de Jacarepaguá. Foto: SRzd/Leandro Milton

Bateria

Vencedora de Prêmio SRzd do último ano, a bateria Guerreira do Mestre Dinho Santos conseguiu fazer um ótimo trabalho na Avenida. De acordo com o comentarista Claudio Francioni, “a bateria da Renascer conseguiu ter um excelente desempenho mais uma vez”.

Desfile da Renascer de Jacarepaguá. Foto: SRzd/Leandro Milton
Desfile da Renascer de Jacarepaguá. Foto: SRzd/Leandro Milton

Silvinha Schreiber, rainha de bateria da Renascer de Jacarepaguá, abriu o caminho para a Guerreira do Mestre Dinho. Silvinha, ex-modelo e estudante de biomedicina, fez surpresa sobre a sua fantasia até o último momento. A rainha apareceu após o começo do desfile com uma fantasia de onça muito bem executada. Para os presentes no momento do desfile, a sensação era de que a Silvinha estava com uma pintura corporal. A rainha de bateria já passou por escolas como União do Parque Curicica e Unidos da Ponte, onde também reinou por dois anos.

Desfile da Renascer de Jacarepaguá. Foto: SRzd/Leandro Milton
Desfile da Renascer de Jacarepaguá. Foto: SRzd/Leandro Milton

Samba e carro de som

O carro de som foi comandado pelo intérprete Diego Nicolau, que neste ano assumiu a posição sozinho. Desde 2015, Diego dividia o posto de intérprete da Renascer com o cantor Evandro Mallandro, que agora assume os vocais da Acadêmicos do Cubango (Série A). Nicolau também assina a composição do samba-enredo, junto com Claudio Russo e Moacyr Luz.

De acordo com o comentarista do SRzd Wanderley Monteiro, o hino de 2018 da Renascer conseguiu agitar o público. “Um samba feito por craques conseguiu crescer na Avenida com o canto da comunidade”, afirmou.

Fantasias, alegorias e adereços

A Renascer coloriu a Avenida com tons que poderiam ser esperados de um desfile que tem a Amazônia como inspiração. As 21 alas representaram a fauna e flora da floresta amazônica, além do folclore da região. Na diversidade animal, houveram fantasias de sapo-cururu, onça pintada, arara vermelha, boto-cor-de-rosa, entre outras. O folclore foi representado por fantasias de Iara e saci-pererê. Já a relação com o compositor Heitor Villa-Lobos foi explorada mais para o final do desfile, com alas que representavam a canção e a melodia.

Desfile da Renascer de Jacarepaguá. Foto: SRzd/Leandro Milton
Desfile da Renascer de Jacarepaguá. Foto: SRzd/Leandro Milton

De acordo com o comentarista do SRzd, Hélio Rainho, a escola teve uma boa plástica, mas pecou um pouco na obviedade. “A Renascer teve um bom conjunto de alegorias; teve [também] um conjunto interessante de fantasias. Talvez pudesse ter sido um pouco mais criativa em algumas concepções”, comentou. Assista ao vídeo completo:

Harmonia e evolução

A Renascer de Jacarepaguá desfilou com 21 alas e quatro carros alegóricos. Com uma boa evolução na Avenida, a escola apenas precisou acelerar em alguns setores para manter um bom desfile. Durante todo o desfile, os componentes entoavam o samba-enredo com bastante animação.

Ficha técnica da escola

Local da quadra: Avenida Nelson Cardoso, 82, Largo do Tanque, Jacarepaguá
Local do barracão: Praça Dinah de Queiroz s/n – Santo Cristo
Fundação: 2 de agosto de 1992
Cores: Vermelho e branco
Presidente: Antonio Carlos Salomão
Gestora de Carnaval: Tatiana Mello
Carnavalescos: Raphael Torres e Alexandre Rangel
Diretores de Carnaval: Comissão (Tatiana Mello, Alexandre Dias, Cristiane Apolinário, Alexandre Almeida e Adriano Amaral)
Diretores de harmonia: Alexandre Dias e Cris Apolinário
Mestre de bateria: Dinho Santos
Rainha de bateria: Silvinha Schreiber
Primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira: Luiz Augusto Russier e Patrícia Cunha
Segundo casal mestre-sala e porta-bandeira: Paulo Erick e Fabiana Cid
Terceiro casal mestre-sala e porta-bandeira: Yuri Gomes e Juliana Lázaro
Intérprete: Diego Nicolau
Coreógrafo da comissão de frente: Tony Tara
Coreógrafo de alas e alegorias coreografadas: Diego Douratto
Coordenadora da ala de passistas: Rose Alves
Diretora da velha-guarda: Dona Cici
Diretoras da ala das baianas: Nanci Mendes e Bira Motta
Enredo de 2018: “Renascer de flechas e de lobos”
Resumo do enredo: O fio condutor do enredo é a floresta amazônica, onde serviu de inspiração para o maestro Heitor Villa Lobos compor sua grande obra, a suíte da Floresta Amazônica. Destacaremos a fauna, a flora, as lendas folclóricas da região e vamos fechar com uma grande orquestra com o maestro regendo suas canções que fizeram parte dessa grande obra que foi composta em 1958 e em 2018 completará 60 anos.
Samba-enredo dos compositores: Claudio Russo, Moacyr Luz e Diego Nicolau
Número de alas: 22
Número de carros alegóricos: 4
Número de componentes: 1.800

Samba-enredo de 2018:

Eu vou pedir a iluminada lua
que no azul flutua, pra compreender
Minha floresta, mãe de toda mata
Já é madrugada, o dia vai nascer
O Uirapuru em sua cantoria
Faz a harmonia pra chamar de amor

Já vai bem longe, o cururu vigia
outra melodia pro compositor

Yara segue o som da corredeira
O boto traz a sedução
Cobra Coral no pé da bananeira
Alma Brasileira, anunciação

ô ô ô pela flor do Buriti
Uma cuia de açaí
No Igapó do Tracajá
ô ô ô, pelos olhos de Tupã
A beleza de Cunhã
Afinando o sabiá

As bachianas são Ubirajaras
Imaginando um coral de sacis
Sob o céu repleto de araras
Vitória rege a orquestra de Tupis
Festa na aldeia, o índio pede bis

Laiá, Laiá, sou de flecha
Laiá, Laiá, de tacape e cocar
Ao bailar a batuta do maestro
Renasce a tribo Jacarepaguá

Canoeiro, canoeiro
O velho candieiro alumia
Villa-Lobos, brasileiro
Faz da Renascer a sua sinfonia

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