Porto da Pedra 2018: Luxuosa, escola surpreende com nostalgia e faz desfile de Grupo Especial

Porto da Pedra. Foto: Juliana Dias/SRzd

Porto da Pedra. Foto: Juliana Dias/SRzd

Luxo e sofisticação: esse é o resumo básico do desfile da Porto da Pedra, quarta escola a pisar na Marquês de Sapucaí no primeiro dia dos desfiles da Série A. Com o enredo “Rainhas do Rádio – Nas ondas da emoção, o Tigre coroa as Divas da canção!”, a agremiação de São Gonçalo fez o público reviver a era dos grandes artistas do rádio brasileiro. Devido à idade elevada, algumas das convidadas, como a lendária cantora Ângela Maria, de 90 anos, foram impossibilitadas de participar da homenagem.

Mas a ausência das eternas rainhas não deixou de lado a majestade. Com muita riqueza, a escola de São Gonçalo se destacou como uma das mais belas. O enredo, desenvolvido pelo carnavalesco Jaime Cezário, é mais um dos que homenageia grandes cantoras, seguindo o êxito de Mangueira e Grande Rio, que homenagearam, nos últimos dois anos, Maria Bethânia e Ivete Sangalo.

Apesar dos problemas financeiros gerados pela diminuição no repasse da verba da Prefeitura do Rio de Janeiro para as escolas de samba, a ausência de recursos abriu alas para a criatividade.

Enredo

A escola de São Gonçalo não poupou esforços para desfilar um Carnaval condizente com a proposta de Jaime Cezário. Afinal, nada melhor que homenagear em vida grandes personalidades do mundo da música, quando o rádio era a única fonte de entretenimento. Vozes eternizadas como Emilinha Borba, Marlene, Doris Monteiro, Mary Gonçalves, Vera Lúcia, entre outras, foram lembradas durante o desfile.

Porto da Pedra. Foto: Juliana Dias/SRzd

Na Sapucaí, o enredo pareceu fluir, conseguindo contar a história de uma maneira bonita, simples e de fácil entendimento.

Comissão de frente

Teatralizada, a comissão de frente representava as rainhas do rádio, desde 1936 até 1954. As cantoras Linda Batista (1937), Dircinha Batista (1949), Marlene (1950), Dalva de Oliveira (1951), Emilinha Borba (1953), Ângela Maria (1954), Vera Lúcia (1955), Dóris Monteiro (1956), Mary Gonçalves (1957) e Julie Joy (1958) foram representadas por bailarinas, que encenaram, em cima de um tapete vermelho, o recebimento das faixas.

Porto da Pedra. Foto: Juliana Dias/SRzd

Eu nem precisava estar aqui.

Em entrevista ao SRzd, Jardel Lemos, coreógrafo da comissão de frente, falou sobre o desafio. “Eu acho que esse trabalho, pela primeira vez, entra na Avenida 100% pronto. Eu nem precisava estar aqui, eles levariam esse trabalho sem a minha pessoa. Eu me emociono muito, porque o trabalho está 100% pronto. Eu sou de São Gonçalo, estreando em São Gonçalo. Era um sonho profissional participar dessa escola, que é a Porto da Pedra”.

Jardel Lemos substitui Patrick Carvalho, que levou o Prêmio SRzd Carnaval de Melhor Comissão de frente em 2016 .

Ele conseguiu trazer a atmosfera do rádio.

Para o comentarista do SRzd de comissão de frente, Márcio Moura, Jardel Lemos fez um dos trabalhos mais importantes da carreira. “Foi a coreografia mais teatralizada de sua carreira. Ele fez praticamente uma apresentação das Rainhas do Rádio. As bailarinas fizeram todo o gesto das Rainhas do Rádio. Foi um trabalho super sério, ele conseguiu trazer a atmosfera do rádio”.

Casal de mestre-sala e porta-bandeira

Porto da Pedra. Foto: Juliana Dias/SRzd

Primeiro casal da Porto da Pedra, os experientes Rodrigo França e Cintya Santos mostraram todo o seu desempenho em frente aos jurados, provando que samba e interação não faltam. Devidamente coreografado, o casal esperava sua vez enquanto um dos bailarinos da comissão de frente finalizava parte da apresentação, enrolando um “tapete vermelho” que havia sido estendido. À frente do casal, Machine, o Síndico da Sapucaí, figura ilustre no Carnaval.

Trouxeram a linha tradicional, perfeito.

Empolgado, o comentarista do SRzd Mestre Manoel Dionísio salientou o bom trabalho do casal. “Gostei muito, fiquei muito feliz e satisfeito, fizeram aquilo que eu adoro em mestre-sala e porta-bandeira. Trouxeram a linha tradicional. Perfeito”.

Machine Foto: Juliana Dias/SRzd

Bateria

À frente da bateria, Mestre Pablo se deparou com um dilema: sua bateria ia bem, mas foi atrapalhada pela evolução da escola. Ele até tentou segurar seus ritmistas, mas não era muito seu trabalho. Apesar disso, a bateria contou com bom desempenho. Vestido de Caubi Peixoto, homenageando o mestre da Música Popular Brasileira, o mestre arrancou comentários positivos.

Todas as apresentações do mestre Pablo foram prejudicadas pela harmonia da escola.

Para o comentarista do SRzd Bruno Moraes, as apresentações em frente às cabines julgadoras foram prejudicadas. “A bateria começou num andamento muito pra frente, caiu um pouquinho e foi até o final com esse andamento. Sobre as bossas, Mestre Pablo é experiente. Ele acabou testando uma bossa nos boxes, e foi a que deu certo e acabou refazendo em todos os boxes de julgadores. Um outro ponto foi a questão da harmonia da escola. Todas as apresentações do mestre Pablo foram prejudicadas pela harmonia da escola.”

Dani Storino e Mestre Pablo. Foto: Juliana Dias/SRzd

Cria da escola, Dani Storino – a Dani Passista – assumiu o posto de Rainha da Bateria Ritmo Feroz. “Eu represento a Rainha do Rádio, a maior de todas, e é muito gratificante estar representando a bateria Ritmo Feroz, que é o coração da escola, e eu me identifico muito, é uma emoção muito grande. Eu já fui passista, já fui diretora de ala de passistas, musa, e esse vínculo com a bateria existe desde sempre. Desde que eu entrei na Porto da Pedra, sempre fui muito bem recebida por todos, e posso dizer que todos da bateria são meus amigos”.

Samba e carro de som

O intérprete Luizinho Andanças foi o defensor do samba da Porto da Pedra em 2018. Após estar na Arrastão de Cascadura, que foi rebaixada para a Série D da Liga Independente das Escolas de Samba do Brasil (LIESB), desfile na Intendente Magalhães, Luizinho mostrou seu potencial.

O canto da comunidade com a marcação da bateria levou o samba para o abismo quase descaracterizando o próprio ritmo do samba.

Para o comentarista do SRzd Wanderley Monteiro, “a Porto da Pedra trouxe para a Avenida um samba que tem uma primeira parte mais interessante melodicamente. O canto da comunidade com a marcação da bateria levou o samba para o abismo quase descaracterizando o próprio ritmo do samba. Na metade da segunda parte, cai um pouco, mas logo volta a subir o canto. O refrão final no CD não explode na Avenida. Com o canto da comunidade, teve outra evolução”.

Fantasias, alegorias e adereços

O Rio de Janeiro foi o ponto de partida da viagem proposta por Jaime Cezário no desfile da escola. O veterano, que segue em sua terceira passagem pela Porto da Pedra (2000, 2012, 2016 até hoje), quer lutar pelo retorno da agremiação ao Grupo Especial, onde não figura desde 2012, quando também tinha Cezário como carnavalesco. Desde o retorno, há dois anos, o profissional que é, além de carnavalesco, arquiteto, decorador de interiores, cenógrafo, pesquisador de Carnaval, mantém boas colocações, tendo garantido o 5º lugar nos últimos dois anos (2016 e 2017).

Porto da Pedra. Foto: Juliana Dias/SRzd

A mais luxuosa do primeiro dia de desfiles da Série A

O comentarista do SRzd Hélio Rainho destacou o ótimo trabalho de Cezário. “Poucas pessoas esperavam que a Porto da Pedra viesse com uma plástica mais simplista, mas muita gente se surpreendeu com o luxo. O uso de materiais com uma temática simples. O enredo conseguiu avançar até seu desenvolvimento final de uma maneira exemplar. Eu acho que o Cesário se superou esse ano. A mais luxuosa do primeiro dia de desfiles da Série A”.

Harmonia e evolução

A Porto da Pedra foi quase perfeita. Com o mínimo de erros, agremiação mostra mais um bom Carnaval, seguindo os dois últimos anos, onde figurou na 5ª posição.

É a melhor escola da noite.

Segundo o comentarista do SRzd Luiz Fernando Reis, foi o melhor desfile do primeiro dia da Série A. “Eu gostei muito do desfile. Um enredo simples, fácil, homenageando as Rainhas do Rádio, um enredo que a gente conseguiu entender do início ao fim, fez um belíssimo desfile. Um dos melhores desfiles, não vou dizer dos últimos anos, porque no ano passado também fizeram um ótimo desfile, mas eu vejo a Porto da Pedra como a melhor escola que desfilou(O comentário foi feito antes do final do desfile, onde faltavam outras exibições). É a experiência de um carnavalesco, então o Jaime Cezário tem anos de Avenida, ele sabe exatamente dosar isso. Ele vem trazendo, há três carnavais, um trabalho maravilhoso na Porto da Pedra. Para mim, é a melhor escola da noite”.

Veja fotos do desfile

Ficha técnica da escola

Bandeira do Porto da Pedra.jpgFundação: 8 de março de 1978
Cores: vermelho e branco
Presidente: Fábio Montibelo
Carnavalesco: Jaime Cezário
Diretor de Carnaval: Junior Cabeça
Diretor de Harmonia: Amauri de Oliveira
Mestre de bateria: Pablo
Rainha de bateria: Dany Storino
Mestre-sala e porta-bandeira: Rodrigo França e Cintya Santos
Coreógrafo da comissão de frente: Jardel Augusto Lemos
Alas: 21
Carros alegóricos: 4

Samba-enredo

Autores: Bira, Oscar Bessa, Duda Sg, Márcio Rangel, Alexandre Villela, Guilherme Andrade, Adelyr, Bruno Soares e Rafael Raçudo
Intérprete: Luizinho Andanças

– Ouça o samba-enredo da Porto da Pedra

Vem reviver
Tempos de glamour e de fascinação
No ar, a magia de uma nação
Sonhos de feliz cidade
Num rio de saudades mergulhei
E encontrei lindas melodias
Onde a poesia fez morada
A realeza embalava
Um repertório de amor
Corações arrebatou

A alma do Brasil ecoou, reluziu
Ao som da Rádio Nacional
Paixão sem igual
Que nos encantou, sintonizou

Ah! Tão belas vozes em notas musicais
Imortais
Rainhas que o povo escolheu pra amar
E a vida inteira adorar
Um súdito aos teus pés eu sou
No meio da rua cantando eu vou
Ao baile da consagração
Ser mais um fã em devoção
Meu Porto da Pedra num cortejo triunfal
Faz o seu carnaval

São dez estrelas a brilhar
Nas ondas da emoção
Meu tigre vem coroar
As divas da canção

 

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