Mocidade Independente 2018: escola passa na Avenida com belo visual e boa técnica

Desfile Mocidade 2018. Foto: Juliana Dias/ SRzd

A Mocidade Independente de Padre Miguel entrou na Avenida Marquês de Sapucaí com os olhos no bicampeonato. Sétima e última escola a passar pelo sambódromo no primeiro dia de desfiles do Grupo Especial do Rio de Janeiro, a agremiação apresentou um enredo patrocinado sobre a Índia. Intitulado de “Namastê… a estrela que habita em mim, saúda a que existe em você”, o enredo da tradicional agremiação de Padre Miguel propôs uma união entre Brasil e o país asiático.

Antes mesmo do samba ser entoado pelo intérprete e da bateria ecoar pela Avenida, a entrada da Mocidade foi anunciada com o cheiro forte dos incensos da comissão da frente. Um dos destaques do desfile foi novamente a comissão, que arrancou muitos aplausos do público. Representantes da Índia vieram à frente da escola para trazer boas energias ao desfile.

A verde e branca de Padre Miguel coleciona sete títulos em sua história. Apesar disso, a Mocidade estava desde 1996 sem conquistar um campeonato — cenário que foi modificado após alcançar o primeiro lugar junto com a Portela no último ano.

Enredo

Após o sucesso do tema sobre Marrocos em 2017, a Mocidade Independente apostou novamente em um país para seu enredo. Desta vez, a escola levou à Avenida uma história de união entre Brasil e Índia. O enredo patrocinado mostrou como os dois países estão conectados e como a união das nações promoveu avanços culturais.

A agremiação de Padre Miguel iniciou seu desfile com as bênçãos dos deuses da Índia para um casamento entre o país asiático e o Brasil. Enquanto a comissão de frente dava “Namastê” para a Avenida, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira representava a onisciência divina. No primeiro carro da Mocidade, os deuses Ganesha, Brahma, Vishnu e Shiva abriram o caminho e protegeram o desfile. O segundo setor mostrou como os destinos da Índia e do Brasil estão historicamente entrelaçados. Isso foi representado com a saída dos portugueses da Europa em destino às Índias — mas acabaram atracando no Brasil; e batizaram os nativos da região de índios. O setor também levou os deuses da mitologia Tupi.

O terceiro setor lembrou as influências da Índia no Brasil desde a chegada dos portugueses na América. Ao longo das alas foram abordados os tecidos trazidos da Índia, como a seda usada pelas senhoras do engenho e os tecidos de algodão barato usados pelas mucamas. O setor quatro abordou o mesmo assunto, porém com foco na culinária. A escola enfatizou que vários frutos considerados tipicamente brasileiros são originários da Índia. No quarto carro, sob a benção da deusa hindu Lakshmi, os frutos da Índia floresceram e moldaram a cultura brasileira.

Desfile Mocidade 2018. Foto: Juliana Dias/ SRzd

O quinto setor explorou um choque cultural entre as duas nacionalidades: a relevância dos bovinos para ambas as culturas. Ao longo das alas, diversos tipos de bois foram levados para a Avenida. Desde raças importantes no Brasil que foram importadas da Índia até os bois do folclore de Parintins. No quinto carro alegórico, Kamadhenu, a vaca sagrada hindu interagiu com os ritos folclóricos dos bois brasileiros. Para encerrar o desfile, a Mocidade consagra essa união entre os países. A 24ª ala homenageou o maior grupo de afoxé da Bahia, os filhos de Gandhi. No setor, a escola também fez um paralelo entre o Carnaval e a festa Holi da Índia. As cores pediam por tolerância entre os desiguais, pela liberdade e por mais amor. O último carro fez uma alusão ao Templo de Lótus para representar o triunfo do bem e da fé.

Para Luis Fernando Reis, comentarista do SRzd, o desfile da Mocidade não é merecedor de um bicampeonato. O especialista afirmou que esperava mais da escola. Assista ao vídeo:

Comissão de frente

A comissão de frente da Mocidade iniciou a passagem da escola com um “Namastê” para a Avenida. Coreografada por Jorge Teixeira e Saulo Finelon, responsáveis pelo setor desde 2015, a comissão celebrou o encontro de deuses e monges. Para traduzir isso em uma performance, o setor foi dividido em dois grupos: o primeiro, que representava os monges, passou pela Avenida com incensos e passos mais “calmos”; quando o deus Indra invocava os raios, o grupo de monges se escondia dentro do carro e o segundo grupo, formado por deuses, tomava conta da Avenida. Ambos os grupos fizeram passos que lembravam danças típicas indianas.

Desfile Mocidade 2018. Foto: Juliana Dias/ SRzd

Ainda no carro da comissão de frente, um componente que representava Ghandi estava sentado em uma plataforma que, quando era levantada, exibia uma integrante vestida de Madre Tereza de Calcutá. As fantasias de toda a comissão chamaram bastante atenção. Com muito brilho e tecidos com estampas indianas, a escola apresentou bem o enredo que estava para ser desenvolvido. A performance arrancou muitos aplausos.

De acordo com Márcio Moura, comentarista do SRzd, a comissão de frente passou com grupos muito bem ensaiados, com estudo de gestuais pertinentes à coreografia e figurinos belíssimos. “Dentro do que eles se propuseram a fazer, fizeram com maestria. Passaram por todos os módulos com muita tranquilidade”, afirmou.

 

Casal de mestre-sala e porta-bandeira

O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira representou a onisciência divina. As fantasias de Marcinho Siqueira e Cristiane Caldas estavam com muito brilho e cheias de joias — dignas da opulência de um casamento indiano. De acordo com a comentarista do SRzd Eliane Souza, a porta-bandeira desfilou com suavidade, equilíbrio e simpatia, enquanto o mestre-sala realizou o passo beija-flor, e outros, com segurança. Assista ao vídeo:

Embora este seja o terceiro desfile de Cristiane como primeira porta-bandeira da Mocidade, é a primeira vez de sua parceria com Marcinho na escola. No entanto, o casal já dançou junto em 2014 e 2015 pela União da Ilha do Governador. O Mestre Manoel Dionísio, comentarista do SRzd, ressaltou que a Mocidade deu ótimas condições para que o casal ensaiasse e conseguisse exibir uma apresentação com maestria. Assista ao vídeo:

Desfile Mocidade 2018. Foto: Juliana Dias/ SRzd

Bateria

A bateria da Mocidade comandada pelo Mestre Dudu fez uma ótima passagem pela Sapucaí. Quase no final do desfile, a bateria fez uma paradona durante o trecho “bendita seja a santíssima trindade” para a comunidade cantar. Os componentes abaixaram como se tivessem rezando. Este é o terceiro ano do mestre à frente da bateria da Mocidade. Ele dividiu o comando da “Não Existe Mais Quente” de 2012 até 2015 com os Mestres Andrezinho e Bereco.

Desfile Mocidade 2018. Foto: Juliana Dias/ SRzd

Para Cláudio Francioni, comentarista do SRzd, a agremiação fez uma apresentação impecável. O especialista destacou o andamento que valorizou o samba da escola e as alas de tamborins e repiques. Assista ao vídeo do comentário:

A paulistana Camila Silva reinou à frente da “Não Existe Mais Quente” pelo segundo ano consecutivo. Com uma fantasia exuberante que remete ao setor da culinária, a rainha representou “a noiva da cor da canela”. Totalmente integrada à comunidade verde e branca, Camila já foi rainha da bateria da Mocidade Independente em 2013.

Desfile Mocidade 2018. Foto: Juliana Dias/ SRzd

Samba e carro de som

O carro de som foi agitado por Wander Pires, que assume o posto de intérprete da Mocidade pelo segundo ano consecutivo. Wander já havia sido intérprete da Escola entre 1994 e 1999. O samba-enredo deste ano foi composto por Altahy Veloso, Zé Glória, Paulo Cesar Feital, J Giovanni, Denilson do Rosário, Alex Saraiça e Carlinhos da Chácara e T. Meiners.

O comentarista do SRzd Wanderley Monteiro encheu de elogios o samba-enredo da agremiação. “Quem disse que samba-enredo não pode ser bonito e valente ao mesmo tempo? Neste samba não há uma preparação melódica clássica para os refrões e tudo ficou muito bom. A letra também tem grandes sacadas”, afirmou.

Fantasias, alegorias e adereços

A escolha da Índia como enredo abriu um leque de possibilidades para a Mocidade. País conhecido pela grande variedade de cores, tecidos e joias possibilitou a escola criar um visual rico e atraente. Ainda assim, o carnavalesco Alexandre Louzada deu um jeito de evidenciar as cores da agremiação. O verde e branco da Mocidade estava bastante presente tanto nos carros alegóricos quanto nas fantasias. As alegorias estavam bem grandes, com esculturas muito detalhadas e sem muita informação, o que destacava a informação principal. O comentarista do SRzd Hélio Rainho elogiou a passagem da escola. “Conjunto irrepreensível de fantasias e alegorias da Mocidade. A grife Alexandre Louzada de requinte e bom gosto em toda a escola”, parabenizou.

Desfile Mocidade 2018. Foto: Juliana Dias/ SRzd

Harmonia e evolução

A Mocidade Independente de Padre Miguel passou na Avenida com 28 alas e seis carros alegóricos. A passagem foi bem fluida durante a maioria da apresentação. A escola apenas precisou acelerar nos últimos minutos de desfile. Do começo ao fim, os componentes entoaram o samba-enredo com bastante emoção e incentivaram o público a fazer o mesmo.

Desfile Mocidade 2018. Foto: Juliana Dias/ SRzd

Veja também:

– ‘O Carnaval está sendo engolido. Precisa ser repensado’, diz vice-presidente da Mocidade

– Louzada detalha enredo da Mocidade: ‘Casamento entre Brasil e Índia está só começando’

– Mestre Dudu: ‘Trabalhei muito mais esse ano. Preciso gabaritar’

Veja fotos do desfile

Ficha técnica da escola

Local: Realengo, Rio de Janeiro
Fundação: 10 de novembro de 1955
Cores: Verde e Branco
Presidente: Wandyr Trindade
Carnavalescos: Alexandre Louzada
Diretor de Carnaval: Marquinho Marino
Diretor de Harmonia: Wallace Capoeira e Robson Veloso
Mestre de bateria: Mestre Dudu
Rainha de bateria: Camila Silva
Mestre-sala e porta-bandeira: Marcinho Siqueira e Cristiane Caldas
Coreógrafos da comissão de frente: Jorge Teixeira e Saulo Finelon
Coreógrafos de alas e alegorias coreografadas: Fabiane Tavares e Bruna Neves
Enredo de 2018: “Namastê… a estrela que habita em mim, saúda a que existe em você”
Número de alas: 28
Número de carros alegóricos: 6

Samba-enredo de 2018:

KAMADHENU DERRAMA LEITE EM NOSSO TERREIRO
GANESHA TEM LICENÇA DO CRUZEIRO
DESEMBOCA O GANGES CÁ NO RIO DE JANEIRO
OS FILHOS DE GANDHI HOJE SÃO BRASILEIROS
BRAHMA FOI QUEM GUIOU VELAS DE PORTUGAL
E TROUXE A ÍNDIA AO GANTOIS DA MÃE QUERIDA
PADRE MIGUEL CHAMOU SHÍVA PRO CARNAVAL
E NAMASTÊ PRA TODO POVO D’AVENIDA

HORA DE SE BENZER, HORA DE IR AO MAR
DO SAL À DOCE LIBERDADE
HÁ TEMPO AINDA!
DESOBEDECER PRA PACIFICAR
COMO UM DIA FEZ A ÍNDIA!

TERESA DE CALCUTÁ
Ó SANTA SENHORA, Ó MADRE DE LUZ,
VENHA PRA ILUMINAR
ESSE POVO DE VERA CRUZ

CLAMA O MEU PAÍS
À FLOR DE LÓTUS SÍMBOLO DA PAZ
E A VITÓRIA RÉGIA DA MESMA RAIZ
PELA TOLERÂNCIA ENTRE OS DESIGUAIS

NESSE “HOLI”
EIS O TRIUNFO DO BEM E DA FÉ
NERHU, DOM HÉLDER, CHICO XAVIER
OLHEM PRA ÍNDIA E PRO BRASIL!! ÔÔ

BENDITA SEJA A SANTÍSSIMA TRINDADE!
EM NOVA DHELI OU NO CÉU TUPINIQUIM
RONCA NA PELE DO TAMBOR DA ETERNIDADE
O AMOR DA MOCIDADE SEM INÍCIO, MEIO E FIM!

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