Inocentes de Belford Roxo 2018: escola leva carros alegóricos imponentes

Desfile da Inocentes da Belford Roxo. Foto: Leandro Milton/ Srzd

Com enredo em homenagem aos 452 anos de Magé, a Inocentes de Belford Roxo foi a sexta escola a passar pela Marquês de Sapucaí no segundo dia de desfiles da Série A. O enredo “Mojú, Magé, Majubá – Sinfonias e Batuques” trouxe a história da segunda cidade mais antiga do Rio de Janeiro e a influência africana e indígena na região. O grande destaque do desfile foram as alegorias com grandes estruturas.

Por causa de um problema na finalização do desfile da Acadêmicos do Cubango, a Inocentes de Belford Roxo teve o início de sua passagem na Avenida atrasada. A bateria, que já tinha começado o “esquenta”, decidiu pausar para não cansar os componentes. Após o problema ser resolvido, a escola passou com toda sua exuberância na Sapucaí. No entanto, a agremiação enfrentou problemas na evolução e deixou buracos na Avenida.

Em 2012, a escola foi campeã da Série A com um enredo sobre a cidade de Corumbá. Na sua estreia no Grupo Especial do Carnaval carioca, em 2013, a agremiação desfilou um tema sobre a imigração de sul-coreanos para o Brasil. Sem muito sucesso, a Inocentes foi rebaixada e voltou à principal divisão do Grupo de Acesso. De 2014 até 2017, a escola ficou classificada entre oitavo e décimo lugares.

Enredo

Com uma aposta semelhante a que lhe rendeu o título de campeã da Série A em 2012, a Inocentes de Belford Roxo desfilou um enredo sobre uma localidade pouco falada no cenário nacional. Este ano, a “caçulinha da Baixada” passou pela Sapucaí com o enredo “Mojú, Magé, Mojúbà – Sinfonias e Batuques”, que homenageou os 452 anos do município de Magé.

O enredo fugiu da obviedade de fazer um desfile que apenas descrevesse o local. Wagner Gonçalves, em seu sexto ano como carnavalesco da escola, optou por fazer uma relação entre a cidade e o Brasil. Africanidade, festas religiosas, tribos indígenas, Revolta Armada e Mané Garrincha foram alguns dos pontos que receberam destaque no desfile. Os aspectos regionais de Magé também foram explorados. A escola abordou a importância da região na época da mineração, que serviu de caminho do ouro entre Minas Gerais e o Rio de Janeiro.

Desfile da Inocentes da Belford Roxo. Foto: Leandro Milton/ Srzd

Com uma pesquisa rica, a escola cavou fundo nas raízes que formaram a região e viajaram à África de centenas de anos atrás. Os dois primeiros setores exploraram bastante as heranças que povos africanos deixaram na região. O terceiro setor trouxe a parte histórica de Magé, com povos nativos, engenhos, guerras e o caminho do ouro. O quarto setor trouxe a arte com o carnaval, Mané Garrincha, Heitor dos Prazeres e Folia de Reis.

Luiz Fernando Reis, comentarista do SRzd, elogiou bastante o enredo da agremiação. “Talvez um dos melhores trabalhos que o Wagner Gonçalves apresentou nessa Avenida. […] Um enredo histórico muito bem desenvolvido. Magé tem um passado muito interessante ligado à historia do Rio de Janeiro, e da República”, elogiou.

Comissão de frente

A comissão de frente da Inocentes de Belford Roxo trouxe integrantes vestidos de bonecas Abayomi para interagir com uma criança. De acordo com a pesquisa do enredo, as mães africanas, durante viagens em Tumbeiros, faziam essas bonecas para tranquilizar seus filhos. O coreógrafo Patrick Carvalho, em conversa com o SRzd, revelou que todos os passos foram pesquisados previamente para montar uma coreografia complexa e consistente. “É uma dança visceral, que foi muito bem pesquisada por mim e pela equipe da escola. Foi um trabalho muito gostoso de fazer e que tem uma mensagem bonita por trás”, comentou. O coreógrafo retorna à escola após três anos. Nos últimos carnavais, Patrick foi responsável pelas comissões de frente da União da Ilha, Porto da Pedra e Unidos de Vila Isabel.

Desfile da Inocentes da Belford Roxo. Foto: Leandro Milton/ Srzd

Márcio Moura, comentarista do SRzd, parabenizou a comissão de frente da Inocentes de Belford Roxo. O especialista ressaltou que a coreografia desenvolvida por Patrick Carvalho foi muito bem ensaiada e com movimentos muito precisos. “A galera dele precisa ter um preparo físico muito grande. […] O Patrick tem uma preocupação com o vigor. A coreografia inicia e termina no mesmo pulsar; na mesma batida coreográfica”, analisou. Assista ao vídeo do comentarista:

 

Casal de mestre-sala e porta-bandeira

O primeiro casal da “Caçulinha da Baixada” é formado pelos experientes Peixinho e Jaçanã. Este é o quinto ano que Peixinho desfila pela escola e seu terceiro ano como mestre-sala ao lado da porta-bandeira Jaçanã. A fantasia do casal representou os “batuques africanos”.

Eliane Santos de Souza, comentarista do SRzd, destacou a excelente parceria da dupla que ocupou o espaço de forma ampla. “O casal dançou durante todo o desfile com alegria transbordante e sequencias continuas de expansão e recolhimento”, salientou. Outro comentarista do SRzd no quesito mestre-sala e porta-bandeira, Mestre Manoel Dionísio, não poupou elogios ao primeiro casal da Inocentes de Belford Roxo. “Foi o único casal que dançou a avenida toda. Respirando, sorrindo. Aproveitou as laterais e as frontais. Tudo o que os jurados pedem, eles fizeram. [E ainda] criaram alguns passos dentro da letra do samba-enredo”, concluiu.

Desfile da Inocentes da Belford Roxo. Foto: Leandro Milton/ Srzd

Bateria

A bateria “Cadência da Baixada” do Mestre Washington Paz fez uma boa passagem pela Avenida. Com bons arranjos e bossas bem executadas, os ritmistas também separaram algumas surpresas para encantar o público e conquistar uma boa nota dos jurados. Ao longo da apresentação, a bateria simulou um um navio e levou um canhão de papel picado para causar um efeito diferente. Em conversa com o SRzd, o mestre Washington Paz comentou que seus anos na bateria contribuíram para um bom desfile. “Teve muito ensaio e conseguimos desenvolver um bom trabalho. Cada ano é uma emoção diferente. Em 2019 completamos 10 anos à frente da bateria. Já estou ficando coroa. Daqui a pouco me deslocam para a velha guarda”, brincou.

Desfile da Inocentes da Belford Roxo. Foto: Leandro Milton/ Srzd

Segundo Cláudio Francioni, comentarista do SRzd, a “Cadência da Baixada” deu a volta por cima. “A escola não foi muito bem no último ano, porém, foi um exemplo de superação neste desfile. A ala de tamborim foi excelente. Posso afirmar que foi uma das melhores da Série A”, comentou. Veja o depoimento do comentarista para a página do SRzd:

Novo ano, nova rainha de bateria. Ocupando o lugar que foi de Leticia Guimarães em 2017, a modelo e atriz Denise Dias veio à frente da Cadência da Baixada. No último ano, Denise foi madrinha da agremiação e desfilou à frente do carro abre-alas. A fantasia da rainha de bateria representou o pavio da pólvora dos ritmistas que desfilaram de “revolta da armada”. “Eu to muito feliz com minha fantasia. É um trabalho muito cuidadoso. Todas as pedras foram bordadas a mão”, revelou.  A preparação de Denise para o desfile foi muita intensa envolveu uma dieta com pouquíssimo carboidrato. “Eu tive que fazer uma dieta muito rigorosa para ficar com o corpo que eu queria para o desfile; emagreci cinco quilos em duas semanas. Acabei ficando muito fraca por causa dessa dieta, mas hoje comi dois sanduíches para ter energia”, afirmou.

A Inocentes de Belford Roxo possui uma tradição de reformular o posto de rainha de bateria anualmente. Por ele, já passaram nomes conhecidos do público como Janaína Guerra, Jessica Sodré, Thatiana Pagung, Fernanda Abraão, Isabella Picanço, Luciana Picorelli, Luciene Caetano e Laura Keller.

Desfile da Inocentes da Belford Roxo. Foto: Leandro Milton/ Srzd

Samba e carro de som

Os intérpretes Ricardinho Guimarães e Anderson Paz comandaram o canto da Inocentes de Belford Roxo pela Avenida. Este é o segundo ano de Ricardinho no carro de som da agremiação, enquanto o experiente Anderson fez sua estreia na escola. “É o primeiro ano da minha parceria com o Anderson Paz e espero que não seja o último. Ele chegou para abrilhantar o desfile. Está sendo um aprendizado gigantesco dividir este posto com ele. Só tenho a agradecer a Deus”, afirmou. Anderson também encheu Ricardinho de elogios. “Ricardinho é realmente um parceiro! Ele é um rapaz genial e com certeza chegou para ficar”, comentou.

Sobre o samba-enredo de autoria de Claudio Russo e André Diniz, Ricardinho diz não entender a rejeição que teve por parte do público. “O samba da Inocentes é um samba leve, para cima e guerreiro. Muita gente não botou fé e eu não sei o porquê. Mas vou fazer esse samba acontecer”, disse o intérprete.

De acordo com Wanderley Monteiro, comentarista do SRzd, a Inocentes levou um bom samba e que ganhou vida com os intérpretes. O “samba discorre com uma melodia interessante; inclusive, no refrão do meio. Sem deixar de ser animado. O último refrão ainda tem uma mudança de registro no próprio tom —aumenta a sonoridade sem mudar o tom. O Anderson Paz e o Ricardinho Guimarães, como sempre, não deixaram a ‘peteca cair'”, elogiou.

Desfile da Inocentes da Belford Roxo. Foto: Leandro Milton/ Srzd

Fantasias, alegorias e adereços

Assim como grande parte das agremiações neste ano, a Inocentes de Belford Roxo precisou reaproveitar bastante material para driblar a crise financeira que afetou o Carnaval carioca. A estratégia do carnavalesco para levar um visual mais chamativo e dar volume foi criar em cima do que já possuíam dos outros desfiles. Uma outra saída encontrada para evitar gastos com materiais foi pintar carros alegóricos ao invés de realizar aplicações. Ainda assim, a escola de Belford Roxo conseguiu realizar um desfile luxuoso. Segundo o comentarista do SRzd Hélio Rainho, a escola desfilou com fantasias interessantes, com volume e com significado.

Um dos maiores destaques do desfile da Inocentes foram os carros alegóricos. Com esculturas bastante chamativas e bem desenvolvidas, a escola mostrou bastante imponência e opulência. Os carros que mais chamaram atenção foram o primeiro e o último.

O comentarista Hélio Rainho destacou o bom gosto na idealização das fantasias e dos carros alegóricos. “Ele conseguiu desenvolver esteticamente, através das fantasias e dos carros, aquilo que ele se propôs a contar. […] Teve carros muito bonitos; carros com movimentos e com bastante inovações. As fantasias, embora não estivessem muito suntuosas, tinham bom gosto e criatividade”, afirmou. Assista aos comentários do especialista:

Desfile da Inocentes da Belford Roxo. Foto: Leandro Milton/ Srzd

Harmonia e evolução

A Inocentes de Belford Roxo desfilou com 18 alas e quatro carros alegóricos. Apesar de toda sua imponência, a agremiação deixou buracos na Avenida. O primeiro buraco ocorreu entre uma ala e a bateria durante passagem no primeiro grupo de jurados. Um vão se abriu também entre a última ala e o último carro alegórico.

Desfile da Inocentes da Belford Roxo. Foto: Leandro Milton/ Srzd

Veja fotos do desfile

Ficha técnica da escola

Local: Belford Roxo
Fundação: 11 de julho de 1993
Cores: azul, vermelho e branco
Símbolo: Pomba branca e dois corações
Presidente: Reginaldo Ferreira Gomes
Presidente de Honra: Rodrigo Gomes
Vice-Presidente: Icaro Ribeiro
Carnavalesco: Wagner Gonçalves
Diretor de Carnaval: Saulo Tinoco
Diretores de Harmonia: Luiz Carlos Amâncio, Marcos Jansen e Maurício Carim
Mestre de bateria: Washington Paz
Rainha de bateria: Denise Dias
Intérpretes: Anderson Paz e Ricardinho Guimarães
Primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira: Peixinho e Jaçanã
Segundo casal de mestre-sala e porta-bandeira: Douglas Valle e Thayanne Loureiro
Coreógrafo da comissão de frente: Patrick Carvalho
Coreógrafos de alas e alegorias coreografadas: Mauro Junior e Ricardo Testa
Responsável da Ala de Baianas: Tânia Alvarenga
Responsável da Ala de Passistas: Tina Bombom
Responsável da Velha Guarda: Plinio Athayde
Diretora de Barracão: Sandra Pinheiro (Dinha)
Musas: Luciene Santinha, Mulher Kiwi, Chaveirinho, Michelli, Sheila Santos e Luciana Melani
Enredo de 2018: “Mojú, Magé, Majubá – Sinfonias e Batuques”
Número de alas: 18
Número de carros alegóricos: 4
Número de componentes: 1.800

Samba-enredo de 2018:
Um batuque africano me chamou
A pintura fez da tela, seu lugar
Os prazeres vão se refletir
Nas histórias que eu vou contar
Sai o trem da estação, pra trilhar esta canção
Moju, Magé, Mojúbá!
Luz dos olhos de Olodumare em cada amanhecer

Toca o atabaque, onde a África aportou
Clamando por piedade
Toca o atabaque, onde a lágrima aportou
Maria Conga ergueu a liberdade

Benta água, ritos tão divinos
Sentimentos cristalinos
Pureza a pé, procissão
Se a festa é de Pedro, não demora
Nossa fé, senhora, desta oração!
A tribo que chegou aqui primeiro
Deu o nome feiticeiro às entranhas desse chão

Auê, auê na riqueza da pingueira
Pra escorrer a doçura brasileira

Caminho do nobre metal
Pavio de fogo e fé
Da luta contra o Marechal
Aos dribles na vida, Mané
Folia de todos os reis
E o samba desabrochando em flor
Nas cores do pintor

Querem pemba, querem guia
Querem figa de Guiné
Axé, Magé!
Sinfonia de tambores
Hoje a gira vai girar
Ê mojúbá, ê mojúbá

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