Império da Tijuca 2018: Em grande estilo, agremiação resgata tradição de desfile afro

Império da Tijuca 2018. Foto: Riotur.

A Império da Tijuca voltou a apresentar uma de suas principais marcas nesta sexta-feira (9): um desfile afro. Com o enredo “Olubajé – Um banquete para o rei”, desenvolvido pelos carnavalescos Jorge Caribé e Sandro Gomes, a agremiação surpreendeu na parte plástica. Os destaques ficaram por conta das alegorias e do canto da comunidade. Apesar disso, problemas na fantasia da comissão de frente podem vir a prejudicar a escola na apuração.

Uma escola madura que chegou na Avenida e a chamou de você.

A agremiação, desde 2015 na Série A, segundo o comentarista do SRzd Luiz Fernando Reis, foi “uma escola madura que chegou na Avenida e a chamou de você”. Apesar disso, Luiz Fernando não acredita que a agremiação brigue pelo título, mas tem grandes chances de ficar entre as seis primeiras colocadas.

Dois fatos curiosos também marcaram a apresentação: o uso de chapéus de palha na saia das baianas e os componentes da última alegoria que jogaram pipoca, para a alegria do público presente nas frisas.

Enredo

A Império da Tijuca apostou, por mais um ano, em um tema afro, que já é marca da escola. O enredo apresentado contou a história do orixá Obaluaiê/Omolu desde seu nascimento com a doença de chagas, até a festa de congraçamento, realizada pela escola de samba em plena Marquês de Sapucaí.

O carnavalesco Jorge Caribé explicou ao SRzd, em janeiro, como se deu o desenrolar da história na Avenida: “Começamos com o nascimento de Obaluaiê, que foi escolhido por Olodumaré para vir no ventre de Nanã. Só que Nanã, quando tem a criança, fica apavorada pela doença de chagas que há no filho. Ela coloca essa criança na beira do mar e Iemanjá a adota, levando-a pro reino de Olokum. Anos depois, Iemanjá devolve esse rapaz crescido, curado e bonito e o intima a perdoar sua mãe Nanã. Esse garoto, que foi embora cheio de lepra, volta como o brilho do Sol, que é o Orin. Por isso ele continua coberto com a palha, para não cegar os olhos dos seres humanos. Então, o rapaz se torna o Rei do Sol e da Terra e deixa de ser Omolu para ser Obaluaiê. Ele, então, monta o seu reino em Sapaktá e convida alguns orixás para formarem sua família: Nanã, Oxumarê, Ossain, Irocko e Yewá. A gente fechou nosso Carnaval com o banquete para o Rei, que é uma grande festa de consagração”.

Alegoria Império da Tijuca. Foto: Divulgação Riotur

A divisão do enredo na apresentação da Império da Tijuca se deu em quatro setores. O primeiro representou o nascimento de Obaluaiê; o segundo falou sobre o orixá e o calor da terra; o terceiro mostrou a formação da família de Obaluaiê; e o quarto e último setor foi o banquete realizado pela agremiação em homenagem ao orixá.

Na opinião do comentarista do SRzd Hélio Rainho, a representação do tema em alegorias e fantasias se deu de forma clara. O especialista elogiou o desenvolvimento e a pesquisa do enredo. Segundo Hélio, foi possível entender o tema numa linha contínua no desfile da agremiação.

Comissão de frente

Coreografada por Junior Scapin, o grupo de integrantes masculinos que abriu o desfile da Império da Tijuca representou “O filho do Sol e a cerimônia ritualística da vida e da morte”. Emocionado por retornar à escola, onde ganhou o título da Série A em 2013, o coreógrafo explicou o objetivo da comissão de frente:

“A galera sempre gosta muito quando eu coreografo afro. Esse ano eu estou voltando para a Império da Tijuca com afro, então, é muita dança, muita força, muito teatro. Não trouxe nenhum artifício ilusionista, porque essa é a minha essência: é dança, é pular, é girar, é cair no chão… a comissão pede isso. A gente contou um pouco das mazelas que Omolu passou durante a vida dele. É uma coisa muita forte.”

A comissão apresentou movimento fortes e coreografia muito bem ensaiada.

Na opinião do comentarista do SRzd Márcio Moura, a comissão impressionou pelos fortes movimentos e teve ‘a cara’ do coreógrafo. “Scapin trouxe uma comissão masculina em saudação a Obaluaiê. Impressionou a movimentação dos bailarinos. Andamento e jurados exigem muito dos integrantes. A comissão apresentou movimento fortes e coreografia muito bem ensaiada, características do coreógrafo”, disse o especialista no quesito.

Comissão de frente Império da Tijuca. Foto: Divulgação Riotur

Apesar disso, a apresentação do grupo, nos dois primeiros módulos de julgadores, foi prejudicada por problemas na fantasia. Pedaços de palha que faziam parte do figurino dos dançarinos caíram. Além disso, na primeira cabine, um dos componentes deixou cair o chapéu, o que provavelmente acarretará em perdas de décimos.

Casal de mestre-sala e porta-bandeira

Trajados em uma fantasia em tons de azul, que representou “Iá Omonejá – Mãe acolhedora”, Jeferson Souza e Gleice Simpatia foram os responsáveis pela apresentação do pavilhão verde e branco da Império da Tijuca nas quatro cabines de jurados. Gleice, porta-bandeira, conversou com o SRzd:

“Eu estou me sentindo uma rainha, igual a ela (risos). Nosso diferencial é a leveza, a simpatia. Não é aquilo só sério, aquela tensão. A gente brinca, baila, namora na Avenida… e curte o Carnaval, que é o principal”, falou, em êxtase, a porta-bandeira.

Segundo a comentarista do SRzd Eliane Santos de Souza, “o casal realizou um bailado com sintonia, graça, leveza, postura elegante e altiva. Mestre-sala cumpriu seu ritual com exibição de cruzado, finalizando com bem executado beija-flor. Ele demonstrou segurança na realização do voleio, onde ele realiza giros velozes e para os dois lados. A apresentação da porta-bandeira também foi realizada com leveza e muita alegria. O casal demonstrou sincronismo, harmonia e espontaneidade. A porta-bandeira Gleice realizou giros e meio giros do passo a pano com segurança, favorecendo a movimentação do mestre-sala”.

De acordo com o especialista do SRzd no quesito, Mestre Manoel Dionísio, Jeferson e Gleice se apresentaram muito bem. A porta-bandeira fez jus ao seu apelido ‘simpatia’ e o mestre-sala passou descontraído pela Avenida. O sincronismo dos dois se destacou.

Casal de mestre-sala e porta-bandeira Império da Tijuca. Foto: Divulgação Riotur

Bateria

A Sinfonia Imperial, como é conhecida a bateria do Império da Tijuca, veio para a Marquês de Sapucaí vestida de “Sacerdote Yorubá: Assogbá”. À frente, reinou Laynara Teles, com uma fantasia que representava “Aroni – O segredo do Deus da cura”. A rainha, vestida com uma fantasia ousada, chamou a atenção do público do presente na arquibancada do Setor 1.

“A gente sempre tenta inovar em alguma coisa, porque eu já estou há muito tempo, né? Mas cada dia que entra aqui é uma emoção diferente e a gente sempre tenta dar o nosso máximo”, disse Laynara Teles.

Os ritmistas, comandados pelos mestres Julio Cesar, Jordan e Paulinho, apresentaram bossas que remeteram a toques africanos. Segundo o comentarista de bateria do SRzd Bruno Moraes, a Sinfonia Imperial, apesar de ter iniciado o desfile num andamento acima do esperado, passou bem pela Avenida e foi um dos destaques da apresentação.

Bateria Império da Tijuca. Foto: Divulgação Riotur

Samba e carro de som

A obra dos compositores Marcio André, Elson Ramires, Nuía Rodrigues, Paulo Lopita 77 e Samir Trindade, com participação especial de Neyzinho do Cavaco e J Carlos, impulsionou o canto dos componentes da Império da Tijuca. Interpretado brilhantemente por Daniel Silva, segundo a comentarista Rachel Valença, o samba-enredo da agremiação, de acordo com Wanderley Monteiro, compositor e comentarista do SRzd, não trouxe novidades, mas apresentou partes que contribuíram para o bom rendimento do desfile.

Um refrão final curto e animador para o imperiano, mas sem aquela explosão que se espera de um refrão final.

“A Império da Tijuca trouxe um samba sem novidades melódicas, mas com um refrão do meio que convida para o canto. Na segunda parte, os compositores procuraram manter a pulsação para cima, muito ajudado pela comunidade que cantou com garra esse samba. Um refrão de final curto e animador para o imperiano, mas sem aquela explosão que se espera de um refrão final. A garra da comunidade colaborou para a funcionalidade do samba”, comentou Wanderley.

Fantasias e alegorias e adereços

Com quatro carros alegóricos e 21 alas, a Império da Tijuca passou grandiosa e colorida pela Avenida. Destaque para o abre-alas, “O Reino de Olockun”, acoplado com o símbolo da escola, a coroa imperial. O carnavalesco Jorge Caribé disse trazer elementos lúdicos e fantasiosos no carro. A agremiação investiu bastante em palha e búzios, principalmente na segunda alegoria, “O Feiticeiro Vermelho – O Senhor da Quentura”, a preferida do carnavalesco Jorge Caribé. A última alegoria, que leva o nome do enredo, “Olubajé, um banquete para o Rei”, trouxe uma escultura do grande orixá Obaluaiê articulado.

O diferencial da Império da Tijuca é garra, força, samba no pé.

Segundo o carnavalesco, o objetivo da Império da Tijuca foi brincar o Carnaval e a missão foi cumprida. “Acho que a gente conseguiu, mesmo com dificuldade e falta de grana. O diferencial da Império da Tijuca é garra, força, samba no pé, o povo da comunidade, as pessoas que estão com vontade de levar a escola pro Grupo Especial, missão difícil, mas não impossível”, ressaltou Caribé.

Alegoria Império da Tijuca. Foto: Divulgação Riotur

O carnavalesco também valorizou a tranquilidade com que a escola se preparou para o desfile desta sexta (9). “A maravilha já começou ontem com a saída do barracão. Eu, com 20 anos de carnavalesco, nunca vi uma saída de carro tão tranquila, tão maravilhosa. A gente está em êxtase”.

Segundo Hélio Rainho, comentarista do SRzd, a plástica da agremiação foi maravilhosa e se revelou como o melhor trabalho do carnavalesco Jorge Caribé, que, neste ano, assinou juntamente com Sandro Gomes.

Harmonia e evolução

A Império da Tijuca passou na Avenida com boa harmonia e evolução, com destaque para as alas do terceiro setor, que demonstraram estar com o samba na ponta da língua. Apesar disso, foram percebidos alguns espaçamentos maiores do que os normais entre alas, o que pode acarretar perda de décimos no quesito evolução para escola.

Quando a escola toda está funcionando, acho que ela está brigando entre as seis primeiras colocadas.

Para o comentarista do SRzd Luiz Fernando Reis, “a Império da Tijuca chega nessa Avenida, chama a Sapucaí de ‘você’. Ao contrário da Bangu que chamou de ‘vossa excelência’, aí a Avenida maltrata. As fantasias não são requintadas, não são luxuosas, mas são adequadas, coerentes. Você não sente falta de alguma coisa, como eu senti, por exemplo, na Unidos de Bangu. A Império da Tijuca fez um belo desfile. Não vejo a Império disputando o Carnaval, porque a gente sabe que esse Carnaval tem duas escolas sobrando muito, que são a Unidos de Padre Miguel e a Unidos do Viradouro, mas vimos um Império da Tijuca desfilando muito bem, compacta, sólida, fazendo um belo desfile, com samba funcionando. Quando a escola toda está funcionando, acho que ela está brigando entre as seis primeiras colocadas”.

Ala das baianas Império da Tijuca. Foto: Divulgação Riotur

Veja fotos do desfile

Ficha técnica

Local: Tijuca, Rio de Janeiro
Fundação: 08 de dezembro de 1940
Cores: Verde e branco
Símbolo: Coroa
Campeonatos no Especial: Nenhum
Colocação em 2017: 7º lugar – Série A
Presidente: Antonio Marcos Teles – “Tê”
Carnavalesco: Jorge Caribé e Sandro Gomes
Intérprete: Daniel Silva
Diretores de Carnaval: André Isidio e Luã Teles
Diretor de Harmonia: João Vieira
Mestres de Bateria: Julio Cesar, Jordan e Paulinho
Rainha de Bateria: Laynara Teles
1º casal de mestre-sala e porta-bandeira: Jeferson Souza e Gleice Simpatia
Comissão de frente: Junior Scapin
Enredo 2018: “Olubajé – Um banquete para o Rei”
Número de alas: 21
Número de carros alegóricos: 04

Samba-enredo

Compositores: Marcio André, Elson Ramires, Nuía Rodrigues, Paulo Lopita 77 e Samir Trindade
Participação especial: Neyzinho do Cavaco e J Carlos

QUANDO NANÃ GEROU
ENTREGOU SEU FILHO A YEMANJÁ
COM TODO AMOR ELA CUIDOU
E LHE CUROU, NA IMENSIDÃO DO MAR
SALVE O ESPLENDOR BRILHANTE DA MANHÃ
DO FILHO ILUMINADO DE OXALÁ E NANÃ
ELE VOLTOU…
CAÇADOR, FEITICEIRO, BOM DE GUERRA
BATIZADO SENHOR DO SOL E DA TERRA

OBALUAIÊ JÊJÊ NAGÔ, É OLUAIÊ, CHAMA E CALOR
A CURA DE TODO MAL COBRIU NA PALHA
PODE TER FÉ A MAGIA DO VELHO NÃO FALHA

SAPAKTÁ TRIBO DOS ANCESTRAIS
REINAM MÃES SENHORAS E OS ORIXÁS
OSSAIN NAS FOLHAS O PODER
IROKO, YEWA, ARROBOBOI OXUMARÊ
EU QUERO VER OMOLU DANÇAR
NO OPANIJÉ COM O SEU XAXARÁ
TEM PIPOCA NO ALGUIDAR, MANDIGUEIRO
SINFONIA IMPERIAL CHEGOU NO TERREIRO
ATÔTÔ BALUAIÊ MEU PAI VEM NOS VALER
O BANQUETE PARA O REI VAMOS TE OFERECER
ESPELHO DE GENTE GUERREIRA
QUE DÁ O SUOR NA LABUTA, E FAZ OLUBAJÉ
NO IMPÉRIO DA TIJUCA

ARALOKO, ARALOKO PAJUÊ
Ê PAJUÊ Ê PAJUÊ
VEM O MORRO DA FORMIGA, VEM PRA VENCER

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