Acadêmicos do Sossego 2018: Escola faz desfile para se manter na Série A

A Acadêmicos do Sossego foi a terceira escola a entrar na Avenida Marquês de Sapucaí na primeira noite de desfiles da Série A, nesta sexta-feira (9). Em seu segundo ano na principal divisão do grupo de acesso, a azul e branca do Largo da Batalha, em Niterói, desfilou o enredo “Ritualis”. Desenvolvido pelo carnavalesco capixaba Petterson Alves, o tema de 2018 buscou passear pela diversidade dos diferentes rituais da humanidade.

Apesar de um enredo interessante, a agremiação fez um desfile mediano. Em uma rápida conversa com o SRzd, o presidente da Acadêmico do Sossego, Wallace Palhares, compartilhou que a escola, este ano, não veio para disputar campeonato. “Ainda estamos dando uma volta por cima. Primeiro queremos que a Sapucaí se torne nossa casa. Por isso, especialmente este ano, a gente veio para se manter na Série A. Porém, se derem mole, chegamos no topo”, comentou o presidente.

Após completar quatro anos na Série B em 2016, a Acadêmicos do Sossego conquistou o campeonato com um enredo em homenagem ao centenário do poeta Manoel de Barros. Em 2017, a escola marcou sua estreia na Série A. A agremiação, no último ano, desfilou com um enredo sobre a atriz e cantora Zezé Motta — com o qual alcançou a décima primeira posição.

Alegoria Acadêmicos do Sossego. Foto: Divulgação SRzd

Enredo

“Ritualis”, enredo escolhido para o segundo ano da Acadêmicos do Sossego na Série A do Rio de Janeiro, foi desenvolvido pelo carnavalesco Petterson Alves. Com alguns campeonatos no Carnaval do Espírito Santo no currículo, o carnavalesco capixaba busca, agora, um título em solo carioca.

É o sonho de qualquer carnavalesco fazer um show na Marquês de Sapucaí.

Petterson foi responsável por assinar por dez anos os desfiles da Mocidade Unida da Glória (ES) e o último desfile da Independente da Boa Vista (ES), atual campeã capixaba. “É o sonho de qualquer carnavalesco fazer um show na Marquês de Sapucaí, independentemente do grupo”, afirmou em conversa com o SRzd. O carnavalesco comentou também sobre a crise no Carnaval. “Foi um trabalho árduo, porque cheguei em um ano de crise no Rio de Janeiro. A proposta da escola desde o início foi apenas para se manter na Série A”, concluiu.

A Sossego iniciou seu desfile voltando aos primeiros rituais da humanidade. Atividades como caça, colheita e fertilidade foram exploradas logo nas primeiras alas. Em seguida, no segundo setor, a escola passeou pelas grandes religiões antigas. Foram representados o culto ao deus egípcio Anúbis, as atividades cotidianas do povo celta, o Brit Mila dos judeus, o misticismo dos muçulmanos e o transmutação da carne dos cristãos. Com o crescimento do cristianismo na Europa, as antigas religiões sofreram perseguição em nome de um único Deus. Este fato histórico foi tema do segundo carro da agremiação.

O terceiro setor trouxe as grandes navegações europeias que descobriram “novas” terras e “novos” ritos. Os rituais dos nativos-americanos e dos povos africanos ganharam destaque nas alas deste setor. O quarto e último setor trouxe os rituais típicos do povo brasileiro. Com a mistura de diversas culturas, o brasileiro desenvolveu um conjunto peculiar de atividades simbólicas.

Acadêmicos do Sossego 2018. Foto: SRzd.

Comissão de frente

A comissão de frente da Acadêmicos do Sossego levou para a Avenida uma coreografia em alusão a um dos primeiros rituais da humanidade. A ala comandada por Thiago Manhães trouxe 14 caçadores da idade da pedra atrás da musa Alessandra Mattos, que fez o papel de uma presa selvagem que se transformava em mãe natureza. A apresentação foi desempenhada quase sem problemas. No entanto, na frente do segundo grupo de jurados, um dos caçadores não conseguiu cuspir fogo. O erro foi corrigido durante a apresentação na frente da terceira cabine de jurados.

Para o comentarista do SRzd Marcio Moura, “figurinos simples e coreografia correta marcaram a estreia do coreógrafo Thiago Manhães à frente da comissão na Marquês, apesar de pouco tempo de ensaio, pois substituiu o antigo coreógrafo às vésperas do Carnaval”.

Destaque da comissão de frente, a atriz Alessandra Mattos retornou à Sapucaí para este desfile após três anos afastada do Carnaval carioca. “Por problemas nas negociações, acabei ficando afastada da Sapucaí. Mas estou muito feliz em retornar. E, agora, com uma responsabilidade ainda maior. Desfilar na comissão de frente é muito complicado. Um erro é fatal. Rainha de bateria não conta ponto; é a cereja do bolo”, comentou Alessandra. Antes do desfile, a atriz estava bastante ansiosa por causa de um atraso na entrega de parte de sua fantasia.

O responsável pela comissão de frente da Acadêmicos do Sossego foi o bailarino profissional Thiago Manhães. Thiago já atuou em programas de televisão, na última edição do festival de música Rock in Rio e em comissões de frente de diversas escolas de samba. No último ano, o coreógrafo foi componente da comissão de frente da Portela, campeã do Carnaval de 2017, junto com a Mocidade.

Acadêmicos do Sossego 2018. Foto: SRzd.

Casal de mestre-sala e porta-bandeira

Wesley Cherry e Naninha Fidélis desfilaram pelo segundo ano consecutivo como primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Acadêmicos do Sossego. Representando a vida, a fantasia do casal trazia detalhes que remetiam a vida na idade da pedra. A fantasia do mestre-sala tinha estampa de desenhos rupestre, enquanto a da porta-bandeira possuía muito brilho. Em conversa prévia com o SRzd, Naninha afirmou que estava confiante para sua performance. “Com os anos que eu já tenho de Avenida fica mais tranquilo. Tenho certeza que vou fazer um bom trabalho com meu parceiro”, comentou.

Acadêmicos do Sossego 2018. Foto: SRzd.

Bateria

A bateria da Acadêmicos do Sossego trouxe bastante interação. Com bossas coreografadas, o mestre Átila tentou animar tanto os componentes da Escola como a arquibancada. De acordo com o comentarista do SRzd, Claudio Francioni, a bateria da Sossego teve um desempenho razoável. “Bom desempenho na ala de agogôs e caixas, porém com algumas imprecisões nas bossas e na levada rítmica”, afirmou.

Bateria Acadêmicos do Sossego. Foto: Divulgação Riotur

A rainha Maryanne Hipólito, de 19 anos, fez uma bela apresentação na frente da bateria de Mestre Átila. Apesar da pouca idade, Maryanne tem uma considerável história no Carnaval do Rio de Janeiro. A jovem já passou pelo Sambódromo diversas vezes com escolas da Série A e do Grupo Especial. Para o desfile da Sossego, a rainha da bateria estava vestida com uma fantasia que representava uma sacerdotisa antropofágica. “Eu sou uma rainha da época dos rituais de canibalismo. É uma fantasia muito confortável e leve”, comentou Maryanne. A rainha de bateria afirmou também que pretende inspirar outras garotas de sua comunidade. “Sempre quero mostrar para as meninas que elas podem crescer. Eu fui passista e agora sou rainha de bateria, e concilio essa rotina com meus estudos na faculdade”, concluiu.

Rainha de bateria Acadêmicos do Sossego. Foto: Divulgação Riotur

Samba e carro de som

O carro de som da Acadêmicos do Sossego foi comandado pelo intérprete Nêgo, que faz sua estreia na escola. Em conversa com o SRzd, ele se mostrou animado com a estreia e afirmou que seus vocais combinam perfeitamente com o samba da escola. “Sou intérprete há muitos anos. O mais premiado da Sapucaí. E o samba da Sossego tem uma grande letra e uma boa melodia”, disse o cantor.

Para o comentarista do SRzd Wanderley Monteiro, “a letra explorou bem o enredo e Nêgo deu show mais uma vez. Achei que podiam usar mais as nuances melódicas que um tom menor proporciona. De qualquer forma, conduziu firme a escola com sua comunidade”.

A Acadêmicos do Sossego, em mais um ano, traz um samba-enredo irreverente. Após apostar em um samba sem rimas em 2016, desfile que rendeu o campeonato para a Escola na Série B, e um samba-diálogo em 2017, a azul e branca trouxe, este ano, um samba-enredo sem verbos. A canção é de autoria dos compositores Felipe Filósofo, Ademir Ribeiro, Sérgio Joca, Orlando Ambrósio, Macaco Branco, Mário da Vila Progresso, Pacote, Xandinho Nocera, Fabio Borges, Ivan Câmara e Bertolo.

Diferente do habitual — e como alternativa para economizar com os gastos — a Sossego não realizou um campeonato de sambas para definir o hino da Escola em 2018. Ao invés disso, a escola apostou em Felipe Filósofo, compositor que venceu as competições dos últimos dois anos e contribuiu para aumentar a visibilidade da escola.

Fantasias, alegorias e adereços

A Escola entrou na Avenida com fantasias simples. Apesar de tentar explorar bastante com os materiais disponíveis, faltou um maior cuidado com o acabamento. De acordo com o carnavalesco, a falta de recursos fez com que a agremiação corresse atrás. “Usamos muita palha e muitos materiais alternativos. Tudo dentro das condições da escola e que se encaixava no enredo. A surpresa estava na escola conseguir fazer um bom desfile”, afirmou o carnavalesco. O azul da escola estava bastante presente. Apesar das fantasias pouco elaboradas, os carros alegóricos conseguiram se destacar.

Acadêmicos do Sossego 2018. Foto: SRzd.

Harmonia e evolução

A Acadêmicos do Sossego desfilou com 18 alas e três carros alegóricos. Com poucos componentes, a agremiação atravessou a Sapucaí sem problemas e sem deixar buracos. Apesar de cantarem, os componentes não pareciam muito animados.

O que me revoltou foi um grupo de mais de 200 pessoas vestindo camiseta da escola e eu queria entender como alguém permite isso.

Para o comentarista do SRzd Luiz Fernando Reis, “a Sossego acabou não realizando um grande Carnaval. O que me revoltou foi um grupo de mais de 200 pessoas vestindo camiseta da escola e eu queria entender como alguém permite isso. Você tem uma escola, precisando de componentes para vestir a ala, contar o enredo, e você coloca 200 pessoas que nem participam do desfile. Elas são colocadas à frente. Acho que o Sossego acha que isso a fará grande e eu garanto que não vai. O que a fará grande é fazer grandes Carnavais. E o Sossego acabou não fazendo um grande Carnaval. Das três primeiras escolas, a Império da Tijuca sobrou com uma vantagem muito grande. Quem se recorda da Série B, essas duas escolas, Sossego e Bangu, lembraram a Série B. E a Império da Tijuca lembrou a Série A”.

Acadêmicos do Sossego 2018. Foto: SRzd.

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– Mestre Átila fala sobre desafio de entender mente dos jurados

Ficha técnica da escola

Local: Largo da Batalha – Niterói
Fundação: 10 de novembro de 1969
Cores: Azul e Branco
Presidente: Wallace Palhares
Carnavalesco: Petterson Alves
Diretores de carnaval: Almir Jhunior e Paulo Brandão
Diretor de harmonia: Greg Tavares
Mestre de bateria: Átila
Rainha de bateria: Maryanne Hipólito
Primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira: Wesley Cherry e Naninha Fidélis
Intérprete: Nêgo
Coreógrafo da comissão de frente: Thiago Manhães
Coreógrafo de alas e alegorias coreografadas: Vinícius Rodrigues
Coordenadores da ala de passistas: Giliard Pinheiro e Pâmela Nascimento
Enredo de 2018: Ritualis
Número de alas: 18
Número de carros alegóricos: 3

 

Samba-enredo de 2018:

Os acordes da lira
No santuário da vida
Do sono profundo à imortalidade
Ó natureza, a cada colheita, fertilidade
Aliança aos filhos de Abraão
Alvorada oriente em oração
Ó cordeiro de Deus
Reino do céu, Reis dos Judeus
Labaredas de fogo, Lua cheia, heresia
Entre a cruz e a espada, Sabá, bruxaria

Sangue, sacrifícios, crânios no altar
Culto ao sol banho de rosas, maracá
Espíritos da floresta, feiticeiros
Corpo e alma em equilíbrio, curandeiros

Negra magia, ogans, mambus
Atabaques, raízes vodus
A saia na gira, cintilante azul
Velas brancas para o Cruzeiro do Sul
Brasil, mas tolerância
Súplica de esperança
Mensagem de Olorum
Lágrimas de Oxalá nesse chão
Proteção do povo de Aruanda
Lavagem pra festa profana

Moringa água de cheiro, arruda e guiné
Mães de santo na avenida, Axé
Salve, São Sebastião! Oxóssi caçador!
Sossego, ritual de amor!
Sossego, ritual de amor!

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