Análises dos comentaristas: Unidos de Bangu, Império da Tijuca, Sossego, Porto da Pedra, Renascer e Estácio

Unidos de Bangu. Foto: Divulgação/RioTur

Seis escolas da Série A passaram pela Sapucaí na primeira noite de desfiles do Carnaval 2018, nesta sexta-feira (9): Unidos de Bangu, Império da Tijuca, Acadêmicos do Sossego, Porto da Pedra, Renascer de Jacarepaguá e Estácio de Sá. O SRzd esteve na Avenida com seu time de comentaristas que analisaram o desempenho das agremiações. Veja abaixo:

Unidos de Bangu

Alegoria Unidos de Bangu. Foto: Gabriel Monteiro / Riotur

Luiz Fernando Reis (harmonia e evolução): “A Bangu, infelizmente, não conseguiu fazer um bom Carnaval. A gente percebia que sua proposta de enredo de Carnaval estava requintado. Estava luxuoso, mas com a falta de recursos, ele diminui muito. Diminui em alegoria, diminui em fantasia. O projeto foi muito bom, mas faltou tentar um projeto mais original, talvez”.

Márcio Moura (comissão de frente): “Saulo e Jorge trazem uma comissão que tem na força cênica seu diferencial. Simples na indumentária, mas absolutamente pertinente à proposta. Adereços de mão, ora tocos de madeira, ora estandartes auxiliaram na coreografia. O enredo foi contado literalmente na comissão, que termina coroando um dos seus integrantes. Um ponto forte da escola até esse momento”.

Wanderley Monteiro (samba e carro de som): “É um samba valente, com variações melódicas entre menor e maior. Um samba que passou bem na Avenida, embora algumas alas não cantaram tanto quanto as outras, mas não comprometeu o desfile da escola. Thiago Brito e Leandro Santos puxaram o samba com categoria, com valentia. Achei que o samba se apresentou muito bem e puxou a escola”.

Eliane Santos de Souza (casal): “O casal da Unidos de Bangu desenvolveu a coreografia com a maioria dos movimentos obrigatórios para o bailado, mas pude observar que havia um problema com a fantasia da porta-bandeira que prejudicou a realização dos movimentos coordenados do casal, que, na adversidade, não perdeu a altivez e a elegância que o cargo lhe impõe. O mestre-sala se esmerou em improvisos para suprir a perda da naturalidade da dança causada pela falha na indumentária. O mestre-sala realizou movimentos muito bem feitos, como o sapateado, quando ele tem que executar muitos passos miudos e rápidos, quando ele tem que se esmerar na corte e isso com muita elegância. Apesar da adversidade vista causada por problema na fantasia da porta-bandeira, o casal caminhou com simpatia, reverenciando o público e as pessoas que estavam presentes”.

Manoel Dionísio (casal): “Movimentos terminados na hora certa, que deu a impressão de que ensaiaram muito para o desfile”.

Claudio Francioni (bateria): “A bateria abriu com chave de ouro os desfiles da Série A do Carnaval 2018. Mestre Leo é um grande talento da nova geração. Sua bateria veio muito equilibrada, timbres equilibrados, bom volume de caixa, bom volume de repiques. Uma frente da bateria bem equilibrada, com chocalhos e cuícas com boa execução. Tamborim com desenho bacana. Uma pequena falha ou outra na execução do carreteiro. Surdos com suas marcações com uma afinação um pouco mais alta, uma característica do Leo. Queria destacar o conjunto de bossas, que foi muito criativo, de muito bom gosto, muito bem encaixado ao samba. Elas [as bossas] tiveram muito boa execução. Foram executadas na frente dos julgadores sem falhas. Apenas uma vez que ele tentou fazer uma bossa assim que saiu do primeiro recuo, ele entrou na Avenida, tentou uma bossa, onde os instrumentos silenciavam e, na retomada, do ritmo, houve um pequeno desencontro entre o carro de som e a bateria. Depois, ele não repetiu essa bossa em frente aos jurados para não correr risco. O primeiro julgador não pode tirar ponto dessa pequena falha, porque estava longe dele. Outro detalhe é que o final da bateria, a parte traseira, estava com pouco volume de caixa. Se tivesse um pouco mais de volume de caixa, ficaria mais equilibrado, mas não prejudicou o desempenho da bateria.

Hélio Rainho (fantasias, alegorias e adereços): “Os enredos africanos têm uma pegada muito parecida. O que nós percebemos é que a escola até começou de uma forma mais equilibrada, mas a partir do segundo carro começaram a aparecer muitos problemas. Embora sempre estivesse muito bem representadas as cores, as fantasias ficaram um tanto quanto abstratas. Por um lado, faltou requinte e bom gosto. Mas a ideia foi boa”.

Império da Tijuca:

Desfile da Império da Tijuca 2018. Foto: SRzd/Juliana Dias
Desfile da Império da Tijuca 2018. Foto: SRzd/Juliana Dias

Luiz Fernando Reis (harmonia e evolução): “A Império da Tijuca chega nessa Avenida, chama a Sapucaí de ‘você’. Ao contrário da Bangu que chamou de ‘vossa excelência’, aí a Avenida maltrata. As fantasias não são requintadas, não são luxuosas, mas são adequadas, coerentes. Você não sente falta de alguma coisa, como eu senti, por exemplo, na Unidos de Bangu. A Império da Tijuca fez um belo desfile. Não vejo a Império disputando o Carnaval, porque a gente sabe que esse Carnaval tem duas escolas sobrando muito, que são a Unidos de Padre Miguel e a Unidos do Viradouro, mas vimos um Império da Tijuca desfilando muito bem, compacta, sólida, fazendo um belo desfile, com samba funcionando. Quando a escola toda está funcionando, acho que ela está brigando entre as seis primeiras colocadas”.

Márcio Moura (comissão de frente):  “Scapin trouxe uma comissão masculina em saudação a Obaluaiê. Impressionou a movimentação dos bailarinos. Andamento e jurados exigem muito dos integrantes. A comissão apresentou movimento fortes e coreografia muito bem ensaiada, características do coreógrafo”.

Wanderley Monteiro (samba e carro de som): “A Império da Tijuca trouxe um samba sem novidades melódicas, mas com um refrão do meio que convida para o canto. Na segunda parte, os compositores procuraram manter a pulsação para cima, muito ajudado pela comunidade que cantou com garra esse samba. Um refrão de final curto e animador para o imperiano, mas sem aquela explosão que se espera de um refrão final. A garra da comunidade colaborou para a funcionalidade do samba”.

Hélio Rainho (fantasias, alegorias e adereços): “A plástica da agremiação foi maravilhosa e se revelou como o melhor trabalho do carnavalesco Jorge Caribé, que, neste ano, assinou juntamente com Sandro Gomes”.

Bruno Moraes (bateria): “Apesar de ter iniciado o desfile num andamento acima do esperado, passou bem pela Avenida e foi um dos destaques da apresentação”.

Eliane Santos de Souza (casal): “O casal realizou um bailado com sintonia, graça, leveza, postura elegante e altiva. Mestre-sala cumpriu seu ritual com exibição de cruzado, finalizando com bem executado beija-flor. Ele demonstrou segurança na realização do voleio, onde ele realiza giros velozes e para os dois lados. A apresentação da porta-bandeira também foi realizada com leveza e muita alegria. O casal demonstrou sincronismo, harmonia e espontaneidade. A porta-bandeira Gleice realizou giros e meio giros do passo a pano com segurança, favorecendo a movimentação do mestre-sala”.

Manoel Dionisio (casal): “Jeferson e Gleice se apresentaram muito bem. A porta-bandeira fez jus ao seu apelido ‘simpatia’ e o mestre-sala passou descontraído pela Avenida. O sincronismo dos dois se destacou”.

Acadêmicos do Sossego:

Alegoria Acadêmicos do Sossego. Foto: Divulgação Riotur

Luiz Fernando Reis (harmonia e evolução): “A Sossego acabou não realizando um grande Carnaval. O que me revoltou foi um grupo de mais de 200 pessoas vestindo camiseta da escola e eu queria entender como alguém permite isso. Você tem uma escola, precisando de componentes para vestir a ala, contar o enredo, e você coloca 200 pessoas que nem participam do desfile. Elas são colocadas à frente. Acho que o Sossego acha que isso a fará grande e eu garanto que não vai. O que a fará grande é fazer grandes Carnavais. E o Sossego acabou não fazendo um grande Carnaval. Das três primeiras escolas, a Império da Tijuca sobrou com uma vantagem muito grande. Quem se recorda da Série B, essas duas escolas, Sossego e Bangu, lembraram a Série B. E a Império da Tijuca lembrou a Série A”.

Márcio Moura (comissão de frente): “Figurinos simples e coreografia correta marcaram a estreia do coreógrafo Thiago Manhães à frente da comissão na Marquês, apesar de pouco tempo de ensaio, pois substituiu o antigo coreógrafo às vésperas do Carnaval”.

Cláudio Francioni (bateria): “Bom desempenho na ala de agogôs e caixas, porém com algumas imprecisões nas bossas e na levada rítmica”.

Wanderley Monteiro (samba e carro de som): “A letra explorou bem o enredo e Nêgo deu show mais uma vez. Achei que podiam usar mais as nuances melódicas que um tom menor proporciona. De qualquer forma, conduziu firme a escola com sua comunidade”.

Eliane Santos de Souza (casal): “O casal da Acadêmicos do Sossego, com releituras baseadas na letra do samba, realizou um bailado com bastante sintonia, demonstrando concordância dos movimentos coordenados. A porta-bandeira ao fazer um pé e empurrar o corpo com o outro realizou o famoso passo patinete descrito por Vilma Nascimento. Coube ao mestre-sala exibir com giros seguros o passo beija-flor, que faz parte do movimento cruzado descrito por Élcio Pevi. Ele também realizou um movimento próximo à carrapeta, dançando com estilo próprio e acompanhando o tema-enredo proposto pela escola”.

Manoel Dionisio (casal): “São bons, sei que eles dançam. Mas não sei por que, este ano, eles utilizaram muita performance. Tanta performance que não dá para notar a característica da dança. Estão utilizando muito os movimentos em cima da letra do samba. Não sei se agrada ao público e aos jurados, mas em termo de dança de mestre-sala e porta-bandeira característica, sincronismo, olho no olho, faltou isso. Sei que eles sabem fazer isso, mas quem sabe estava dentro da coreografia deles. Acho que tinham condição de fazer muito melhor do que vocês fizeram.

Porto da Pedra:

Desfile da Porto da Pedra 2018. Foto: SRzd/Juliana Dias
Desfile da Porto da Pedra 2018. Foto: SRzd/Juliana Dias

Márcio Moura (comissão de frente): “Foi a coreografia mais teatralizada de sua carreira. Ele fez praticamente uma apresentação das Rainhas do Rádio. As bailarinas fizeram todo o gesto das Rainhas do Rádio. Foi um trabalho super sério, ele conseguiu trazer a atmosfera do rádio”.

Manoel Dionísio (casal):  “Gostei muito, fiquei muito feliz e satisfeito, fizeram aquilo que eu adoro em mestre-sala e porta-bandeira. Trouxeram a linha tradicional. Perfeito”.

Eliane Santos de Souza (casal): “O casal apresentou um bailado com a realização da maioria dos movimentos descritos no livro de José Carlos Rego. Durante o cruzado, o mestre-sala realizou piruetas simples após o beija-flor. A porta-bandeira executou o balanço, evoluindo para frente de forma segura. Assim, como durante seus giros e meio giros ao redor do mestre-sala. A mão marcada na cintura embelezou e deu graça ao seu gestual. A dança foi desenhada com calma e o casal ocupou um bom espaço da Avenida no percurso e diante da cabine dos julgadores. Foi evidenciada a sincronia do par. O mestre-sala utilizou com espontaneidade o adereço de mão. Era um microfone em forma de bastão”.

Bruno Moraes (bateria): “A bateria começou num andamento muito pra frente, caiu um pouquinho e foi até o final com esse andamento. Sobre as bossas, Mestre Pablo é experiente. Ele acabou testando uma bossa nos boxes, e foi a que deu certo e acabou refazendo em todos os boxes de julgadores. Um outro ponto foi a questão da harmonia da escola. Todas as apresentações do mestre Pablo foram prejudicadas pela harmonia da escola.”

Wanderley Monteiro (samba e carro de som): “A Porto da Pedra trouxe para a Avenida um samba que tem uma primeira parte mais interessante melodicamente. O canto da comunidade com a marcação da bateria levou o samba para o abismo quase descaracterizando o próprio ritmo do samba. Na metade da segunda parte, cai um pouco, mas logo volta a subir o canto. O refrão final no CD não explode na Avenida. Com o canto da comunidade, teve outra evolução”.

Hélio Rainho (fantasias, alegoria se adereços): “Poucas pessoas esperavam que a Porto da Pedra viesse com uma plástica mais simplista, mas muita gente se surpreendeu com o luxo. O uso de materiais com uma temática simples. O enredo conseguiu avançar até seu desenvolvimento final de uma maneira exemplar. Eu acho que o Cesário se superou esse ano. A mais luxuosa do primeiro dia de desfiles da Série A”.

Luiz Fernando Reis (harmonia e evolução): “Eu gostei muito do desfile. Um enredo simples, fácil, homenageando as Rainhas do Rádio, um enredo que a gente conseguiu entender do início ao fim, fez um belíssimo desfile. Um dos melhores desfiles, não vou dizer dos últimos anos, porque no ano passado também fizeram um ótimo desfile, mas eu vejo a Porto da Pedra como a melhor escola que desfilou. É a experiência de um carnavalesco, então o Jaime Cezário tem anos de Avenida, ele sabe exatamente dosar isso. Ele vem trazendo, há três carnavais, um trabalho maravilhoso na Porto da Pedra. Para mim, é a melhor escola da noite”.

Renascer de Jacarepaguá:

Márcio Moura (comissão de frente): “Foram enormes árvores conduzidas por Heitor Villa-Lobos. A surpresa ficou pela aparição de animais e de um índio, que saíam do caule dessas árvores. Teve um colorido representativo da fauna brasileira. Mais uma comissão recheada de teatralidade”.

Hélio Rainho (fantasias, alegorias e adereços): “A Renascer teve um bom conjunto de alegorias; teve [também] um conjunto interessante de fantasias. Talvez pudesse ter sido um pouco mais criativa em algumas concepções”.

Wanderley Monteiro (samba e carro de som): “Um samba feito por craques: Claudio Russo, Moacyr Luz e, com a belíssima interpretação do Diego Nicolau, que também assina a obra. O samba cresceu na Avenida, bem diferente daquele que se ouve no CD. Ao som da bateria e impulsionado pelo canto da escola, ele não somente funcionou, como agradou bastante”.

Cláudio Francioni (bateria): “A bateria da Renascer conseguiu ter um excelente desempenho mais uma vez”.

Estácio de Sá:

Desfile da Estácio de Sá 2018. Foto: SRzd/Juliana Dias
Desfile da Estácio de Sá 2018. Foto: SRzd/Juliana Dias

Hélio Rainho (fantasias, alegorias e adereços): “Plasticamente, a leitura foi correta e de fácil entendimento. Deu pra identificar todos os elementos. O enredo trouxe elementos que já passaram muitas vezes pela Avenida. Não vi nada de novo que pudesse considerar relevante”.

Márcio Moura (comissão de frente): “Ariadne Lax estreia com o pé direito na Marquês. Em função dupla (responsável pela coreografia dos casais da escola e comissão de frente), sua comissão foi uma das mais bem vestidas da noite. Como um espetáculo teatral, contou a história em dois atos. Caixas que viraram barraquinhas de venda foram bastantes aplaudidas”.

Eliane Santos de Souza (casal): “Casal maravilhoso! No início, eu estranhei os giros mais rápidos, mas depois eu entendi. Eles alternavam e, na hora da cabine dos jurados, se apresentaram com muita leveza e com bailado tradicional”.

Manoel Dionísio (casal): “Uma apresentação muito boa. Foi muito bonito. O que mais me chamou atenção foi que eles realizavam giros rápidos e voltavam para um ritmo mais lento sem perder o sincronismo e a suavidade”.

Bruno Moraes (bateria): “Bateria com uma pegada e energia impressionante e com bossas muito fortes. Gaganja fez uma estreia com muita personalidade”.

Wanderley Monteiro (samba e carro de som): “A Estácio veio vendendo alegria. Um samba de linguagem simples, como pedia o enredo, porém muito animado e mexendo com o orgulho do estaciano. Uma segunda parte que começa pra cima, mas logo descansa a bela interpretação do Serginho do Porto e todo carro de som e um refrão final para sacudir o folião”.

Luiz Fernando Reis (harmonia e evolução): “Uma grata surpresa, uma satisfação muito grande de assistir a esse desfile. É muito bom a gente ver a Estácio desfilando como ela desfilou: arrebatadora. Um conjunto de fantasias impecável. Tarcísio Zanon (carnavalesco) está de parabéns, ele acertou a mão. Alegoria contando muito bem o enredo. Gostei muito da Estácio. Acho que ela sobrou na noite de hoje. O problema da Estácio é que quando ela vinha para a concentração, ela não acompanhou o comboio da Lierj e ela pode perder ponto. Fala-se até que ela perderia 1 ponto, porque ela perde um décimo a cada meia hora de atraso e ela se atrasou muito. Isso pode prejudicar a escola. Mas na Avenida, o que a gente viu foi um Carnaval impecável”.

Comentários

 




    gl