Laíla está fora da Beija-Flor: ‘Não tenho destino certo e quero trabalhar’

Laíla. Foto: SRzd

Laíla. Foto: SRzd

A três meses de completar 75 anos e mais de 60 de Carnaval, Laíla e a Beija-Flor pareciam ser uma só entidade, daquelas para sempre. Nesta sexta-feira (24) a história construída, entre idas e vindas, por longos 30 anos ganhou um ponto final.

Aniz Abrahão David, o Anísio da Beija-Flor, presidente de honra da escola de Nilópolis, o recebeu para uma conversa franca, amigável e cercada de emoção. Educado com o subordinado, Anísio sabia que passada a introdução Laíla diria algo como não querer aceitar o novo sistema de trabalho que se pretende para a Beija-Flor de 2019 em diante.

O presidente logo adiantou que na Beija-Flor não se demite ninguém, e que se a conversa fosse por aí, Laíla é que precisaria solicitar seu desligamento. Aliviado por tantos meses tensos, difíceis, em que o diretor de Carnaval da agremiação foi obrigado a engolir sapos, uma das lendas da festa decidiu não prosseguir na agremiação.

Amo o Anísio. Tenho muito respeito por ele.

“Não foi fácil. Eu quero agradecer profundamente ao meu povo. E pedir desculpas, também, à comunidade nilopolitana. Sou muito grato a todos que colaboraram com a minha trajetória. Desde o Salgueiro até a Beija. Amo o Anísio. Tenho muito respeito por ele”, desabafou.

Para onde irá uma das lendas do Carnaval do Rio de Janeiro? O próprio Luiz Fernando Ribeiro do Carmo, nome que consta na certidão de nascimento, tratou de deixar claro que neste momento ainda não tem rumo definido: “Não tenho destino algum. Estou aberto à vida nova. Quero trabalhar. Ainda tenho muito a dar ao Carnaval”.

A “saída amigável” permite a Laíla abrir negociações com coirmãs. E ele garante que não existe a proposta que muitos dão como certa, a sua ida para a Grande Rio, dentro de um projeto de fazer a escola retornar da Série A para a elite do Carnaval do Rio. Pelo menos, até o momento.

Quero trabalhar. Ainda tenho muito a dar ao Carnaval.

Os amigos próximos e membros da família ouvidos pelo SRzd garantem que “Laíla fez o que se tinha que fazer. Ele precisa superar os seus problemas de saúde e recuperar a paz interior”. Para se ter uma ideia do que isso significa, num só ano, Laíla, por três vezes, escapou do hospital depois de assinar termo de responsabilidade para não desamparar a agremiação. Antes de se despedir da escola que permaneceu mais tempo, ele consultou seus guias e deixou sua decisão repousar nos braços de Oxalá, Xangô, Iansã e Oxum.

Laíla gosta de dizer que “dentro de uma escola de samba, para quem aprendeu cedo no Morro do Salgueiro, se sente um menino pronto para realizar. Sou exigente. Quando ninguém acreditava, criei a Independentes da Ladeira, que era uma escola-mirim. Tenho 60 anos de Carnaval. Estudo tudo sobre Carnaval para que ele seja sempre mais forte”.

Em tempo, o Morro do Salgueiro, situado na Tijuca, no Rio, foi o lugar que Laíla teve seu primeiro contato com o samba e o Carnaval, e onde criou, nos anos 50, uma Escola de Samba Mirim, chamada Independentes da Ladeira, que foi um grande sucesso na época, funcionando como espécie de trampolim para o convite feito pelo Acadêmicos do Salgueiro. Líder nato e apaixonado por seu trabalho, Laíla acumulou profundos conhecimentos harmônicos e melódicos, tendo trabalhado, ainda, como cantor, músico e compositor.

A primeira junção de sambas-enredo foi feita por Laíla, em 1975, em “As Minas do Rei Salomão”; e de lá para cá, todas as junções de sambas-enredo feitas por ele, nas diversas escolas por onde passou, foram sucesso.

É produtor do CD de sambas-enredo das Escolas de Samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro, e, desde 1995, estava na Beija-Flor.

Laíla teve rápidas passagens pela Unidos de Vila Isabel, Unidos da Tijuca, Grande Rio e até pelo Carnaval de São Paulo, na Peruche. além de ter estado nos Carnavais de Belém e Porto Alegre. Na década de 1980, participou da transmissão dos desfiles do Grupo Especial pela Rede Globo de Televisão e participou da gravação do CD com os sambas-enredos das escolas do Grupo Especial.

Comunicado da Beija-Flor sobre o desligamento de Laíla:

Gratidão: é a partir deste importante valor que a Beija-Flor de Nilópolis anuncia nesta segunda, 26, o desligamento de Luiz Fernando do Carmo, o Laíla, do quadro de funcionários da escola. A saída do diretor de carnaval e membro da comissão de carnavalescos acontece amigavelmente em comum acordo entre ele e a diretoria da agremiação, que agradece pela essencial participação de Laíla na formulação de seus últimos 23 desfiles.

Nesses 23 anos de parceria ininterrupta, a escola aprendeu muito com Laíla e certamente o ensinou bastante.

Em sua terceira passagem pela azul e branca, iniciada em 1995, o dirigente ajudou a Beija-Flor a conquistar oito vitórias, incluindo o histórico tricampeonato (2003, 2004 e 2005) e um bi (2007 e 2008). Uma das principais figuras da equipe de carnavalescos, desenvolveu também trabalho relevante junto à comunidade, reforçando os resultados nos quesitos Harmonia e Evolução, que ajudaram a garantir a conquista do campeonato do Carnaval 2018.

Trabalhando diariamente pela renovação de seu estilo de desfiles, a Deusa da Passarela reconhece e enaltece a importância das ideias de Laíla e de sua disposição para as tentativas de transformar não só a escola, mas também o maior espetáculo da Terra.

Nesses 23 anos de parceria ininterrupta, a escola aprendeu muito com Laíla e certamente o ensinou bastante. A equipe de carnaval da agremiação de Nilópolis, representada pelo patrono Anísio Abrahão David, deseja caminhos abertos e prósperos a quem tanto lutou para que os nossos estivessem sempre livres e vitoriosos. Obrigado, Laíla! Um grande abraço da Família Beija-Flor!

Comentários

 




    gl