Em final de samba-enredo, Portela mostra garra para bicampeonato

Primeira porta-bandeira da Portela, Lucinha Nobre. Foto: Max Gomes

Lucinha Nobre, primeira porta-bandeira da Portela. Foto: Max Gomes

A Portela escolheu a polêmica sexta-feira 13 para dar início à grande final dos sambas para o Carnaval 2018. No entanto, os supersticiosos podem ficar tranquilos: o samba-enredo com o qual a tradicional escola de Oswaldo Cruz desfilará só foi anunciado na madrugada deste sábado (14).

Após as apresentações contagiantes de cada finalista, a azul e branca escolheu a parceria de Samir Trindade para ser seu novo hino. O evento foi realizado no Portelão, quadra social da agremiação localizada em Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro.

Compositores da parceria vencedora. Foto: Max Gomes
Compositores da parceria vencedora. Foto: Max Gomes

A vitória, ainda que bastante comemorada, parece não ter surpreendido tanto a comunidade portelense. O samba de Samir Trindade foi o mais bem recebido pela quadra e também agradou bastante os representantes da escola.

“Ganhou o melhor. Não tem como justificar. É só ver a quadra! Foram 50 jurados e apenas sete não votaram no samba vencedor. Agora é esperar para ver o resultado na Avenida”, declarou Jane Garrido, coordenadora da ala dos compositores da Portela. O presidente da Portela, Luiz Carlos Magalhães, ressaltou as boas notas que a escola conquistou no quesito samba-enredo nos últimos desfiles. “A Portela tem acertado muito nos últimos anos e acho que [a escolha desta parceria] é mais um acerto. A gente precisa de um samba forte como este para tudo continuar dando certo”, afirmou.

Logo após o anúncio, Elson Ramires, um dos compositores, compartilhou um pouco de sua emoção. “É muito importante quando o portelense aclama o samba. É uma emoção indescritível a que eu estou sentindo”, comemorou. Gilsinho, intérprete oficial da Portela, destacou a importância que o samba vencedor tem no contexto dos desfiles do Grupo Especial do Rio de Janeiro. “É um grande samba. Vamos trabalhar para ficar ainda melhor. A gente é a segunda escola a desfilar no nosso dia e esse samba tem o potencial para animar do começo ao fim. Temos que fazer a Marquês de Sapucaí tremer”, afirmou.

A atual campeã do Grupo Especial do Rio de Janeiro (junto com a Mocidade) está bastante dedicada a conquistar o bicampeonato. Ao longo da noite, integrantes da escola azul e branca comentaram com o SRzd que os mais diversos segmentos estão trabalhando pesado para conquistar novamente o topo do pódio do Grupo Especial do Rio de Janeiro. O principal desafio da Portela, agora, é aproveitar ao máximo o enredo altamente cultural de Rosa Magalhães. A renomada carnavalesca estreia este ano na escola com a proposta de reinventar a Portela sem perder a essência.

Noite para exaltar o legado e dar as boas-vindas ao novo

Para receber bem o público, um grupo entoou alguns sambas e pagodes populares. A comunidade portelense, aos poucos, ocupou seu lugar na quadra e esperou ansiosamente o grande espetáculo da noite. A celebração foi oficialmente aberta com um show de alguns segmentos da escola. A apresentação foi guiada pelo ritmo da tradicional Tabajara do Samba, apelido dado à bateria da Portela, que estava acompanhada de sua rainha Bianca Monteiro. No palco, casais de mestre-sala e porta-bandeira, passistas, baianas e velha guarda exibiram toda sua graciosidade e paixão pela escola. O espetáculo contou com as vozes dos principais intérpretes da Portela, como Gilsinho.

Passistas mirins e intérprete Gilsinho em apresentação dos segmentos da escola. Foto: Max Gomes
Passistas mirins e intérprete Gilsinho em apresentação dos segmentos da escola. Foto: Max Gomes

Logo em seguida, foi dada a largada para a final dos sambas. Cada um dos quatro concorrentes teve aproximadamente 35 minutos para se apresentar na quadra e conquistar os corações dos portelenses.

A primeira parceria a subir no palco foi a de Jorge do Batuke. Os intérpretes obtiveram sucesso em fazer o público sambar e levantar a energia do local. A torcida estava bem preparada com bandeiras do Brasil, de Israel, de Pernambuco, da Portela e da diversidade. No palco, integrantes caracterizados com elementos do enredo ofereceram um aspecto mais teatral ao que estava sendo cantado.

A segunda apresentação ficou por conta da parceria do Gaúcho. Entre os intérpretes estavam Juliana Diniz, neta de Monarco (figura tradicional da Portela), e Emerson Dias, intérprete oficial da Grande Rio. A torcida levou balões azuis e brancos e imitaram o movimento do mar com uma coreografia ensaiada. Em diversos momentos, os intérpretes fizeram pausas para a torcida entoar o samba finalista.

Em terceiro, veio a apresentação da parceria vencedora. O samba de Samir Trindade não apenas arrastou sua torcida, como também fez grande parte da quadra cantar junto. Era possível ver portelenses entoando versos do samba tanto no chão da quadra, quanto nos camarotes. Ainda que a torcida tenha ido preparada, ela dificilmente se distinguia do restante do público que levantava suas próprias bandeiras. A apresentação foi a mais animada da noite e honrou o favoritismo que conquistou desde sua primeira execução no Portelão.

A quarta e última parceria foi a de Marquinhos do Pandeiro. Os intérpretes, vestidos com trajes que faziam referência ao nordeste, se esforçaram bastante para manter a energia do samba anterior. Entretanto, a resposta do público não correspondeu às expectativas da parceria. A torcida, no entanto, não desanimou e continuou com o samba até o final. Enquanto o resultado não era divulgado, cantores entretinham o público com músicas populares acompanhadas do ritmo da bateria. Após vinte minutos, representantes da escola subiram ao palco e confirmaram que o samba vencedor era o de Samir Trindade.

Enredo complexo, porém de fácil entendimento

A renomada carnavalesca Rosa Magalhães marcou presença na quadra da Portela. Sentada em frente ao palco, a carnavalesca que estreia este ano na escola assistiu às apresentações, beijou a bandeira azul e branca e interagiu com membros da escola. Em conversa com o SRzd, Rosa comentou que as parcerias tiveram sucesso em traduzir a complexidade de seu enredo.

Carnavalesca Rosa Magalhães. Foto: Eliane Pinheiro
Carnavalesca Rosa Magalhães. Foto: Eliane Pinheiro

Entitulado de “De Repente de Lá Pra Cá e Dirrepente de Cá Pra Lá…”, o tema que a Portela levará para a Avenida abordará a imigração de judeus para o Brasil e, depois, sua emigração para os Estados Unidos (veja análise dos colunistas do SRzd). “O enredo é complexo, mas a forma como ele foi apresentado pelo Monarco foi muito simples e de fácil entendimento. E todas as composições captaram isso muito bem. O samba vencedor representa a voz da maioria e a voz da maioria é a voz de Deus”, comentou. Quando perguntada sobre o potencial do samba-enredo na Avenida, a carnavalesca fala sobre a dificuldade de especular. “É sempre uma incógnita o que pode acontecer na Avenida. Mas espero que o povo cante muito”, concluiu.

Sambas bons, porém precisam de ajustes

Nilo Sérgio, mestre de bateria da Portela. Foto: Eliane Pinheiro
Nilo Sérgio, mestre de bateria da Portela. Foto: Eliane Pinheiro

A safra de sambas deste ano da Portela foi muito elogiada pelo mestre de bateria Nilo Sérgio. Em uma conversa com o SRzd, antes do início da disputa, Nilo destacou a qualidade de cada finalista e o potencial que um vencedor precisa ter na Avenida. Embora o mestre de bateria tenha gostado dos sambas, ele acredita que alguns ajustes precisam ser feitos. Ouça o áudio da entrevista:

Um retorno e uma estreia para carregar a bandeira

Após uma belíssima apresentação, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira ​da escola compartilhou um pouco da emoção com o SRzd. A porta-bandeira Lucinha Nobre comentou sobre seu retorno ao posto.

“A emoção é gigante. Eu sou muito fã da Rosa Magalhães. Estou tendo a oportunidade de trabalhar com ela pela primeira vez. Para mim, é a realização de um sonho depois de tantos anos na Avenida. Ser vestida pela Rosa, na Portela – voltando para  a Portela, que é a escola que me recebeu tão bem, que me tratou com tanto carinho, com tanto amor. Eu sempre soube que voltaria para cá e, hoje, eu volto feliz, orgulhosa ​e muito certa e clara do meu papel. Com certeza, a gente vai ensaiar muito para trazer a nota quarenta para a Portela e a emoção de quem sabe ser bicampeã”, declarou.

Lucinha Nobre, primeira porta-bandeira da Portela. Foto: Max Gomes
Lucinha Nobre, primeira porta-bandeira da Portela. Foto: Max Gomes

O mestre-sala Marlon Lamar é um estreante na escola. Vindo de São Paulo, Marlon compartilhou um pouco sobre a emoção de participar do Carnaval carioca.

“É uma honra estar na Portela. É uma honra novamente participar desse grande espetáculo que é o Carnaval do Rio de Janeiro. Estar na Portela não é só a realização de um sonho, mas acho que esse enredo é o que eu vivo”, afirmou. Marlon quis dizer da pegada ativista do enredo, que passa uma mensagem contra a xenofobia.

“É [dizer] ‘não’ à xenofobia. É [dizer] ‘sim’ ao pluralismo que é o Carnaval. Eu venho de outra cidade. A Portela abriu as suas portas para mim. Eu, como paulista, representar não só a cidade de São Paulo, mas o verdadeiro Carnaval, a alma que é o Carnaval. Eu estou muito feliz. Eu acredito muito nesse bicampeonato. E hoje nós vamos escolher o nosso hino que é o pontapé principal para que isso possa acontecer”, afirmou.

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