Exclusivo: Ilha prepara homenagem ao enredo “Domingo – 40 anos”

Mestre-sala e Porta-bandeira Ilha. Foto: Arquivo/Ilha

Mestre-sala e Porta-bandeira Ilha. Foto: Arquivo/Ilha

Os amantes do Carnaval ganharão uma grande festa em homenagem ao enredo histórico da Ilha do Governador “Domingo”, que completa, em 2017, 40 anos.  A iniciativa é do grupo “Eu sou União da Ilha… Mas quem não é?”. Os apaixonados prepararam um material especial para o SRzd:
1977. O Sambódromo ainda não havia sido construído, e o carro-chefe do nosso Carnaval, as escolas de samba, não tinham um palco fixo para seu show de cores e som.

Naqueles tempos românticos, a história dos desfiles era escrita em avenidas diferentes do Centro do Rio, e as arquibancadas e enfeites apareciam apenas nos idos de fevereiro, encarnando a sazonalidade e a efemeridade do espetáculo do samba.

Naquela época, como hoje, os desfiles vêm, a alegria se exibe, e de repente tudo acaba; no ano seguinte, novo trabalho, novo esforço, novo capítulo. Somente no coração do sambista e nas páginas da memória histórica, esses capítulos não desaparecem, e alguns se preservam ainda mais intensamente do que outros. Foi o caso de um momento inesquecível que a Presidente Vargas teve a honra de abrigar, naquele dia 20 de fevereiro, quando já raiava o Sol.

Desfile da Ilha - Domingo. Foto: Arquivo da Ilha
Desfile da Ilha – Domingo. Foto: Arquivo da Ilha

Na verdade, tecnicamente, já era dia 21, segunda-feira, mas a União da Ilha do Governador, então apenas em seu terceiro ano no Grupo Especial, ainda uma jovem estrela reivindicando seu lugar ao Sol, tentava fazer aquele domingo durar para sempre. E não é que conseguiu?

Depois de mostrar seu charme nos grupos inferiores, ganhar o campeonato do grupo 2 com “Lendas e Festas das Yabás” (1974), fazer sua estreia na elite garantindo a permanência com “Nos Confins de Vila Monte” (1975) e repetir o nono lugar em 1976 com “Poemas de Máscaras e Sonhos”, a tricolor do Cacuia, representando toda a Ilha do Governador, surpreendeu o mundo do samba com algo que foi mais do que um desfile. Foi uma mensagem. Foi um alerta. Foi um descompromissado, lúdico, quase involuntário e descontraído protesto, bem ao estilo da simpatia da avenida, a Alegria da Passarela.

Quando Joãosinho Trinta já protagonizava, na Beija-Flor de Nilópolis, a verticalização do espetáculo, inaugurando as transformações que levariam às alegorias gigantes e ao destaque do aspecto visual que vivenciamos nas últimas décadas, a carnavalesca Maria Augusta, pela quarta vez à frente da concepção do desfile da União, resolveu fazer diferente.

Claro que pesou a falta de dinheiro; a Ilha não tinha mesmo como apostar no luxo. Ancorada em sua jovialidade, espontaneidade e paixão por brincar o Carnaval, porém, ela podia ser original e desafiar a tendência.

Arquivo/Ilha
Ilha do Governador – enredo ‘Domingo’. Foto; Arquivo/Ilha

O enredo se chamava justamente “Domingo”. Uma única palavra, simples e cristalina, que dizia tudo: o objetivo era mesmo mostrar o cotidiano daquele dia da semana para o carioca. Maria Augusta e a União da Ilha tinham uma pretensão modesta e direta, mas que, em sua realização, se provou gigante e arrebatadora.

Não havia pompa, mas a criatividade, a garra e desenvoltura dos componentes e a beleza do “pequeno” e do autêntico construíram um conjunto deslumbrante. Na voz de Aroldo Melodia, um dos maiores intérpretes do mundo do samba, o hino composto por Aurinho da Ilha, Ione do Nascimento, Ademar Vinhaes e Waldir da Vala arrebatou o público com sua poesia e sua sincronia com o delírio visual. Aquele começo de segunda-feira era, literalmente, um domingo no Rio, “colorido pelo Sol”.

Pranchas de surfe, pipas, bandeiras e camisas de clubes de futebol da cidade, a gafieira, o parquinho de diversões… tudo inocente, divertido, num mosaico hipnotizante de alegria, sustentado por uma bateria extraordinária e uma comunidade totalmente dedicada à missão única de fazer daquele um momento de grande festa. Pronto. A mistura perfeita fez nascer um dos episódios sagrados do Carnaval carioca.

Consagrava-se ali também o estilo “Bom, Bonito e Barato”, que seria descrito em enredo três anos depois e que determinou o lugar especial da União da Ilha no rol das grandes escolas de samba. O resultado na apuração foi o terceiro lugar, atrás da campeã Beija-Flor e da vice Portela. Que a gigante de Nilópolis e a querida madrinha, porém, nos perdoem a convicção, mas não houve derrota: no coração e na memória dos amantes loucos desse teatro a céu aberto, a Ilha foi a grande vencedora – ao menos a que teve a conquista mais épica. Não carimbou o título ainda inédito, mas foi ali que ela conseguiu uma glória que jamais poderá perder: a eternidade.

“A grande surpresa do ano foi o fantástico desfile da União da Ilha do Governador”, resumiu Pérsio Gomyde Brasil no livro “Da Candelária à Apoteose – Quatro décadas de paixão”. “Segundo Fernando Pamplona, ‘uma verdadeira pintura de Volpi’. Não venceu, mas foi considerado o melhor desfile do ano”. Paulo Neto, em seu livro “Espelho Meu – um estudo sobre a União da Ilha”, comenta que “em vez dos carros alegóricos gigantescos, pequenos tripés e elementos sem nenhum tratamento especial para a ocasião” e os componentes que “evoluíam despreocupadamente” fizeram com que a reação da plateia fosse “imediata” e “a União da Ilha foi apontada como a grande favorita do Carnaval de 1977”.

O jornalista Anderson Baltar (atualmente, na Rádio Arquibancada, parceira do SRzd), autor de “As Primas Sapecas do Samba”, destaca a ousadia de Maria Augusta. “Ela fugiu da implícita obrigatoriedade de usar as cores da escola”, disse ele em entrevista a “O Globo”, e resumiu: “’Domingo’ é o desfile fundamental para a definição da identidade da União da Ilha. O trabalho de Maria Augusta imprimiu à escola a marca do ‘bom, bonito e barato’, que a segue até hoje, e também foi um marco na história dos enredos. Afinal, a escola fugiu dos temas tradicionais e levou para a avenida uma verdadeira crônica do cotidiano, com uma narrativa lírica de um dos dias mais aguardados da semana”.

Há 40 anos, a União da Ilha foi gigante na simplicidade, competitiva na espontaneidade, imortal na originalidade. Desafiou as potências, então ainda como uma novidade entre as grandes escolas, sem perder sua essência e definindo a personalidade que faria dela o que ela é.

Comemorar esse marco da nossa história agora, em 2017, quando olhamos para as quatro décadas que hoje nos separam daquele momento único, é mais do que um compromisso da comunidade insulana em reverenciar o seu passado: é uma afirmação de que queremos nos inspirar nele para alçar voos maiores no futuro.

O que estamos preparando

Sob o selo DOMINGO 40 ANOS, algumas novidades especiais estão sendo preparadas para homenagear esse desfile épico. Confira algumas delas:

Noite das Campeãs – Troféu Domingo 40 anos

A grande festa tradicional da Ala de Compositores da União da Ilha, já em sua vigésima primeira edição, reunirá, como sempre faz, intérpretes e segmentos das escolas de samba do Grupo Especial, convidadas para apresentar seus hinos oficiais para o Carnaval de 2017. O evento, também como sempre, terá uma atração especial: desta vez será Xande de Pilares.

IlhaDomingoXandeA novidade fica por conta da homenagem temática. A festa sempre tem uma personalidade do samba como tema, inclusive dando nome ao troféu que é entregue aos convidados. Desta vez, o homenageado não será uma pessoa, mas sim o desfile “Domingo”, em seu aniversário de 40 anos. O troféu se chamará Domingo 40 anos. O evento será a partir das 23 horas, no dia 19 de janeiro, véspera de feriado.

Com apoio da campanha “Eu sou União da Ilha… Mas quem não é?” e abertura do grupo Samba do Amigo Meu, o evento promete algumas surpresas e uma decoração especial para relembrar aquele desfile mágico de nossa escola.

Desfile da ‘Cavalinhos Marinhos’

Iniciativa promissora e antenada com as tendências do Carnaval moderno, a nossa escola de samba mirim, a Cavalinhos Marinhos da Ilha, renderá também sua homenagem divertida e cativante ao marco histórico da escola-mãe. Com o enredo “Domingo outra vez na Avenida com a criançada feliz da vida”, os pimpolhos prometem fazer uma bela releitura do enredo de 1977, com uma versão atualizada do domingo carioca e o devido tributo às personalidades que fizeram daquele desfile algo inesquecível. Confira o samba oficial da Cavalinhos:

 

Camisa comemorativa

A campanha “Eu sou União da Ilha… Mas quem não é?” está preparando uma homenagem que você poderá guardar para sempre: uma camisa especial comemorativa dos 40 anos do Domingo. Mais um produto para você mostrar para todo mundo, em todo lugar, o seu amor pela União da Ilha. Aguarde: em breve na loja oficial da escola!

Camisa Festa Domingo-40 anos. Foto: Divulgação
Camisa Festa Domingo-40 anos. Foto: Divulgação

 

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