ENTREVISTA UESM: Thiago Laurentino (Mocidade Louca de Pilares)

Divulgação/UESM

Por Cleiton Almeida

Meus cumprimentos, galerinha da UESM! Com a aproximação do carnaval real, fica a ansiedade pelo carnaval de maquete que logo, logo estará batendo na porta. Porém, por trás da materialidade dos desfiles em miniatura há grandes personagens que muitas vezes não são conhecidos pelo grande público. Uma injustiça, levando em consideração que são essas as pessoas responsáveis por alimentar o ciclo da União das Escolas de Samba de Maquete.

Sendo assim, trago a vocês uma série de entrevistas com os carnavalescos da nossa União! A princípio, com as escolas do Grupo de Acesso, do qual sou coordenador. Meu principal objetivo é que possamos conhecer mais sobre as pessoas que idealizam e materializam seus sonhos de carnaval em miniaturas tão elaboradas. Os mais tímidos e discretos ficaram na coxia e não participaram, enquanto os que querem brilhar cada vez mais entraram no palco e responderam tudo!

É hora de tietar os carnavalescos do universo da maquete! O que será que fazem? Como vivem? O que aspiram? Hoje e agora, no SRzd!

E para começar, entrevistamos o carnavalesco da Mocidade Louca de Pilares. Com vocês…
Thiago Laurentino de Oliveira

1 – Quem é o thilau3responsável pela criação carnavalesca do projeto da escola?
Desde que ingressei na equipe da Mocidade Louca, em março de 2016, eu sou o responsável pelo planejamento e criação do projeto car
navalesco da escola. Acho justo e pertinente que essa função esteja nas mãos do carnavalesco, afinal, esse é um dos seus principais papéis dentro de uma escola de samba. Na realidade, isso não foi nenhuma novidade ou desafio para mim, pois participo do carnaval virtual desde 2008 (quando ainda era membro da VirtuaFolia). Tenho procurado trazer a minha experiência nesse setor de montagem, pesquisa e elaboração de projetos para a Mocidade Louca, uma escola relativamente nova na UESM.

2 – O que você exerce no seu dia-a-dia? Qual sua ocupação?

Eu sou bacharel e licenciado em Letras (português-literaturas) pela UFRJ, instituição onde também obtive o título de mestre em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa). Já atuei como professor substituto e temporário na UFRJ e na Faculdade de Formação de Professores da UERJ. Atualmente, estou cursando o doutorado em língua portuguesa, também pela UFRJ, que concluirei em fevereiro de 2018. Além de professor, atuo desde 2010 como pesquisador, sendo membro de projetos nacionais, como o PHPB (Para a História do Português Brasileiro) e LaborHistórico (Laboratório de História da Língua Portuguesa).

3 – O que o carnaval representa na sua vida? Quais as suas motivações para participar da UESM?
Embora o carnaval não esteja diretamente relacionado à minha carreira profissional, é uma das minhas grandes pathilau8ixões, sem dúvida. Costumo dizer que não me vejo como um profissional de fato, pois sempre participei do carnaval (virtual e real) como espectador ou como admirador mesmo. Minha participação sempre foi mais por entretenimento, diversão mesmo. Mas, em hipótese alguma, descarto uma possível atuação mais séria no carnaval real. Quanto à UESM, ela aconteceu na minha vida de maneira totalmente imprevisível. Já tinha ouvido falar que existiam desfiles virtuais de maquete, mas nunca tinha parado para pesquisar ou assistir antes. Em fevereiro desse ano, conheci o Alerson e então ele me falou de projeto, explicou como tudo funcionava etc. De início, achei tudo uma grande loucura! Achei surreal que as pessoas montassem desfiles com bonecos e maquetes e filmassem, como o carnaval real. Mas, rapidamente, o projeto foi me fascinando, me envolvendo e em pouco tempo aceitei integrar a equipe da Mocidade Louca! E cá estou, completamente dentro do projeto e sem a menor pretensão de abandoná-lo!

thilau44 – Quais suas aspirações no que diz respeito a carnaval?
Como disse anteriormente, não tenho, em princípio, aspirações grandiosas com relação ao carnaval. Trabalho com o carnaval virtual paralelamente à minha vida profissional, ligada ao magistério e à pesquisa acadêmica, e estou feliz assim. O carnaval é e tem sido, nesses anos, meu grande hobbie, válvula de escape, na qual consigo extravasar tensões e até mesmo estimular novas ideias para meus trabalhos acadêmicos. Para ser um pouco mais específico em relação à pergunta, diria hoje que minha maior aspiração é levar a Mocidade Louca ao grupo de elite da UESM e, através da execução de um trabalho criativo e caprichado, ajudar a promover E divulgar a UESM.
Porém, volto a repetir: não descarto possíveis trabalhos futuros com o carnaval. Não costumo fechar as portas para oportunidades que possam surgir.

5 – Todo carnavalesco é um artista. Para você, o que é arte?
Essa pergunta é extensa e bastante complexa. Poderíamos passar essa entrevista inteira discutindo o que é arte e, mesmo assim, muita coisa ainda não seria dita. Ciente do risco que corro em tentar responder, em pouquíssimas linhas, essa pergunta, eu diria que arte não é uma coisa; arte pode ser várias coisas. Talvez a melhor parte esteja justamente no verbo e não no predicativo da frase: o PODE SER é o que me fascina, é a parte mais legal e louca da história. Só pensarmos no próprio projeto da UESM. Somos vários que, às vezes sem muitos recursos, tiramos leite de pedra. Transformamos materiais inusitados e corriqueiros em fantasias e adereços, dando uma bela demonstração desse “pode ser”. Uma forminha de doce pode ser um belo esplendor, uma dúzia de latinhas pode ser uma escultura e por aí vai. Acredito, ainda, que, com o tempo, a gente vá redefinindo, redimensionando o nosso entendimento e nossa forma de conceituar arte. No momento atual, eu diria que conceituo arte como essa capacidade fantástica do ser humano de redimensionar as coisas, os objetos, as pessoas. Dar visibilidade ao invisível; provocar no outro uma sensação que, cotidianamente, não se teria; pensar no impensável; viver o impossível (num mundo que, a cada dia, se torna mais o mundo do absurdo). Arte é isso. É o leque de possibilidades. É o outro olhar, a nova perspectiva, é o “Pode ser” do que já é ou mesmo daquilo que não é ou nunca foi.

thilau56 – Conte para nós quais são as outras artes que te encantam. 
Pela minha formação acadêmica, a literatura é uma arte que me encanta bastante. Mas admiro demais as artes plásticas e o teatro. Esse tripé, na minha opinião, é sensacional. Para relacionar essa pergunta com a anterior, eu diria que a literatura, na maioria dos casos, explora o “Pode ser” daquele que seria, em tese, impossível ou inimaginável. É um sedutor exercício de imaginação. Pensar que inúmeras sequências de letras, palavras e frases são capazes de nos transportar a lugares onde nunca estivemos ou ainda, capazes de nos fazer amar ou odiar pessoas que nunca conhecemos, que nunca existiram, é algo maravilhoso. Já as artes plásticas, sobretudo a escultura, me encanta por conta do “Pode ser” visível o que, em geral, não é ou não seria. O artista plástico salienta, põe em relevo, coloca uma lupa nos nossos olhos, fazendo-nos ver e pensar sobre coisas incríveis que nos cercam e que, muitas vezes, automatizados nas tarefas diárias, não percebemos. O teatro, por sua vez, é o “pode ser” real. É real. Naqueles minutos em que dura a peça, a encenação, aquilo ali é real, a história é vivida por pessoas de carne e osso, que conseguem nos fazer sentir as paixões e frustrações como se fossem nossas. É algo mágico e envolvente.
Não por acaso, acho que essas três artes têm tudo a ver com os desfiles das escolas de samba. Eles são um pouco disso tudo. Mais do que explicado porque gosto tanto!

7 – Como você identifica seu estilo como carnavalesco? Quais suas inspirações, suas marcas, seu jeito de criar?
Como carnavalesco, eu me vejo um artista relativamente eclético. Principalmente em relação a temáticas. Gosto de desafios e todo tema que me desafie, tanto na parte de projeto quanto na parte de execução, é um potencial enredo para mim. Já fiz homenagem a escritor, a compositor, já fiz enredos mais na linha abstrata, como dinheiro e magia, e outros mais “tradicionais”, como marchinhas e carnaval. Meu estilo é assim, meio indefinido, bem na linha do “Pode ser”, rsrs. Inspirações: Dos mais antigos, Joãosinho Trinta é, com certeza, uma referência constante. Tanto pela questão de enredos ousados e inusitados quanto pelas propostas estéticas arrojadas e criativas. Um gênio da arte popular brasileira. Pegando os mais novos (ou não tão antigos), eu seleciono o trabalho da mestra Rosa Magalhães, em quem me inspiro principalmente pelo intenso e constante trabalho de pesquisa, que já rendeu e ainda rende em enredos maravilhosos, e pela riqueza de detalhes, pela perfeição técnica e suntuosidadthilau7e dos seus desenhos. Outros artistas, como o Renato Lage, Roberto Szaniecki, Chico Spinosa e Milton Cunha, também me inspiram muito com seu
s primorosos trabalhos, que já nos renderam imagens inesquecíveis do carnaval das escolas de samba. Quanto a marcas minhas e jeito de criar, eu não sei muito o que dizer. Não sei nem se eu já teria uma marca ou um estilo próprio definido. Mas, em geral, meus trabalhos são marcados pela pesquisa intensa e minuciosa, meus projetos costumam ser bem amarrados, coesos e coerentes, meus desfiles tem setores claramente perceptíveis e que sugerem uma progressão, início-meio-fim, tudo isso elementos que considero essenciais para uma boa apresentação de um enredo. Uma outra coisa, que é muito mais uma meta artística do que propriamente uma marca é a tentativa de equilibrar, de dosar um estilo “clean”, limpo, objetivo e direto na linguagem das alegorias e fantasias com um detalhismo e um acabamento minucioso. São coisas que nem sempre andam juntas, mas eu procuro persegui-las. Não sou fã das alegorias com excesso de informação, extremamente carregadas e de difícil leitura. Eu gosto da fácil leitura, em que o espectador bate os olhos e identifica o que está sendo representado ali. Mas não me agrada a ideia de que um desfile de fácil leitura não pode ou não precisa ser requintado e detalhado. Pode sim! Uma coisa não elimina a outra. E é assim que eu procuro montar meus trabalhos.

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8 – Finalize com algo que achar pertinente.
Bom, para finalizar, eu gostaria de agradecer a oportunidade de estar falando um pouco sobre mim, minha carreira e meu trabalho. Agradecer a todos os membros e organizadores da UESM, parabenizo a todos pela seriedade e cuidado com que conduzem o projeto. Sou muito feliz de poder fazer parte disso e espero que meu trabalho possa engrandecer um pouco o projeto. Aos que ainda não conhecem ou sabem pouco sobre o carnaval de maquete, sugiro que vejam os vídeos disponíveis no YouTube e apreciem esse trabalho tão original e interessante, que vai além de ser uma reprodução do carnaval real, pois, aos poucos, está desenvolvendo uma linguagem artística própria. Vejam, curtam e divulguem! Todos nós, os artistas loucos envolvidos nos bastidores, ficamos muito contentes e satisfeitos com o reconhecimento e a divulgação do nosso trabalho. Excelente carnaval (real e virtual) a todos em 2017! Beijão!

Na semana que vem você continua acompanhando esta série de reportagens com mais um representante do Grupo A.

E se prepare, pois as escolas estão preparando novos desfiles para 2017.
Participe, inscreva sua escola pelo email: [email protected]


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