Cresce o número de escolas de samba do Rio que ameaçam não desfilar em 2018

Desfile da Mocidade Independente em 2017. Foto: Riotur

Desfile da Mocidade Independente em 2017. Foto: Riotur

Depois do forte posicionamento nesta sexta(10) do presidente da União da Ilha, Ney Filardi,(aqui) agora Mocidade, Mangueira, Unidos da Tijuca e São Clemente, também ameaçam não desfilar no Carnaval 2018. A crise foi bem explicada aqui no SRzd em reportagem assinada pelo jornalista Sidney Rezende, diretor do Srzd(aqui).

O principal argumento das escolas de samba para defender a liberação integral da subvenção é que elas realizam um evento que traz recursos para a cidade, arrecadação para a Prefeitura e incentivo ao turismo. E não o oposto.

A tese é compartilhada pelo presidente da ABIH, Associação Brasileira da Indústria de Hotéis, Alfredo Lopes: “Contamos com o Carnaval, pois é, ao lado do revéillon um grande momento para o Rio. O mercado imobiliário está desaquecido, e a atividade do setor petrolífero ainda vai demorar a se restabelecer”.

Alfredo Lopes se mostrou a disposição para ajudar no entendimento entre a prefeitura, a Liesa e as escolas de samba:

A Riotur (órgão da prefeitura), reconhece que a festa movimenta R$ 3 bilhões no período, aumentando a arrecadação de impostos. Em 2016 e 2017, cada escola do Grupo Especial recebeu R$ 2 milhões da prefeitura, por ano. Em 2015, a subvenção tinha sido de R$ 1 milhão. O então prefeito Eduardo Paes decidiu dobrar o valor para compensar a suspensão de repasses do governo do estado, que já enfrentava dificuldades financeiras.

Se a tese de Crivella prevalecer, as escolas passarão a receber o mesmo que recebiam antes da posse de Eduardo Paes no primeiro governo.

As escolas dos grupos de acesso também receberão menos recursos da prefeitura, mas os cortes não foram divulgados. Apenas no caso do Grupo A (cuja campeã é promovida ao Grupo Especial), a subvenção do município este ano foi de R$ 1 milhão por escola.

— Com R$ 1 milhão a menos, não temos condições de fazer o carnaval. Se a subvenção for reduzida, a Mangueira, em lugar de desfilar na Marquês de Sapucaí, vai se apresentar para a comunidade na Rua Visconde de Niterói — disse ao Extra o presidente da verde e rosa, Chiquinho da Mangueira.

Ao mesmo jornal o presidente da Unidos da Tijuca, Fernando Horta, criticou o corte e disse que Crivella tem agido diferente do que disse em campanha eleitoral.

— Este ano, ele sequer entregou as chaves da cidade ao Rei Momo. Fica a dúvida se foi ou não por convicções religiosas (o prefeito é bispo licenciado da Igreja Universal) que ele não foi à Sapucaí. O fato é que com R$ 1 milhão a menos não dá para desfilar. O prefeito está dando as costas para um evento que traz muito mais retorno para a cidade do que é investido pela prefeitura — disse Horta

O vice-presidente da Mocidade, Rodrigo Pacheco, diz que a ameaça de não desfilar é uma realidade para “todas as escolas”

– A Mocidade considera impossível produzir um espetáculo a altura do carnaval do Rio de Janeiro com 50% da subvenção atual. O desfile das escolas de samba traz bilhões aos cofres públicos todo ano. É uma grande festa cultural e primordial também sob o ponto de vista turístico, uma marca da nossa cidade. Não pode ser reduzida desta forma. As escolas são importantes bandeiras culturais da história do Rio de Janeiro. Merecem mais consideração e respeito. Geramos empregos, movimentamos a economia e oferecemos oportunidade de entretenimento e inserção social a uma camada considerável da população. Se as pessoas tivessem noção dos gastos para manter uma agremiação, teriam mais atenção com esse aspecto. Ao invés de cortes, precisamos de repasses mais regulares. Desta forma teríamos mais organização e fluxo de caixa para administrar da melhor maneira possível, diz Pacheco.

Uma das alternativas proposta por Pacheco, no passado, seria isentar ou reduzir o ISS pago pelas escolas. Ele chegou a elaborar um documento sobre isso.

A prefeitura, por sua vez, argumenta que não tem recursos para fazer tudo, e que optou por priorizar as creches que cuidam das crianças carentes:

Leia abaixo a versão da Prefeitura:

Crivella quer dobrar os recursos destinados a crianças atendidas em creches

O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, já iniciou os estudos para aumentar o repasse de verbas para creches conveniadas com o município. A intenção do prefeito é dobrar a diária que as instituições recebem por criança, que atualmente é de R$ 10,00. Hoje, cerca de 15 mil alunos são atendidos em 158 unidades. A nova diária de R$ 20,00 deve começar a ser paga a partir de agosto.

Parte da verba de subvenção destinada às escolas de samba do grupo especial será remanejada para ajudar nesse projeto. Para a realização dos desfiles em 2017, foram repassados às agremiações cerca de R$ 24 milhões. Metade desse valor será revertida para melhorar a alimentação e o material escolar das crianças.

– O valor que é pago hoje é muito pouco até mesmo para comprar um iogurte. O que estamos fazendo é refletir como gastar melhor. Se vamos usar esses recursos para uma festa de três dias (Carnaval) ou ao longo de 365 dias ao ano – pondera o prefeito.

Apesar do remanejamento, o Carnaval do Rio vai receber novos investimentos em 2018. A Avenida Marquês de Sapucaí passará por obras para melhorar as condições de infraestrutura oferecidas às escolas de samba. O planejamento prevê a modernização dos sistemas de luz e som, além da instalação de telões por toda a passarela. O remanejamento da verba não quer dizer que as escolas de samba ficarão sem recursos, uma vez que o Conselho de Turismo poderá investir diretamente nas agremiações por intermédio de um fundo setorial ou por cadernos de encargos.

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