CHAT FOLIA: Arco-Íris promete misturar luxo e irreverência em enredo lúdico

Bastidores do barracão da GRESM Arco-Íris para o carnaval 2017 (Divulgação)

A estreia do carnavalesco Eduardo Wagner na União das Escolas de Samba de Maquete promete ser grandiosa, isso porque além de um enredo diferente de tudo o que já foi visto em forma de maquete, ele promete ainda usar e abusar de formatos diferentes de fantasias, adereços e trazer alegorias gigantescas e com muito requinte de acabamento. Tudo isso para contar na avenida o enredo “BOO!” em que monstros, fantasmas e vilões são convidados para brincar de carnaval. Venha conhecer um pouco mais sobre a agremiação e seu carnavalesco.

E não se esqueça, o desfile das escolas do Grupo B do Carnaval de Maquete acontece nos dias 14 e 15 de Outubro a partir das 14h30 pelo site www.uesm.com.br

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– Quem são os componentes e quais as funções?

Oficialmente, apenas um componente: eu! (Risos). Tenho um amigo, também carnavalesco, que me deu ideias boas e loucas. Chama-se Cláudio Rego de Miranda. Quando eu era pequeno ele já fazia grandes carnavais aqui em Belém, em minha escola de coração: o Rancho Não Posso Me Amofiná. Trabalhamos juntos aqui e em Macapá (mas nem concretizamos o trabalho, pois o governo do Estado suspendeu o desfile em 2016). E gostamos de olhar nossas ideias. Ele seria um diretor de carnaval. Além disso, alguns outros amigos e até alunos e estagiários se ofereceram para fazer alguma coisa (colar, cortar etc.), mas meu tempo é corrido e acabo não conseguindo ajustar nada. Então, permaneço presidente, carnavalesco, aderecista, escultor, patrocinador… (Risos).

– Explique a escolha do nome, do símbolo e das cores da escola.

Tudo tem a ver com relações afetivas minhas. O nome é uma homenagem a uma escola já extinta aqui de Belém. Viveu apenas durante a década de 1980 e desfilou por seis anos. Mas isso foi o suficiente para criar um imaginário lendário a respeito de seus desfiles, pois trouxe uma renovação plástica e conceitual para os desfiles aqui. Representando um bairro de periferia que não possuía sua própria escola, o Guamá, conseguiu três títulos e ainda rivalizar com as grandes escolas da época (Quem São Eles, Embaixada, Acadêmicos, Rancho). Em 1989, quando assisti pela primeira vez um desfile, foi a que visualmente mais me deslumbrou. A Arco Íris, além de uma revolução visual, trouxe para Belém nomes como Joãosinho Trinta e Laíla, e foi grande personagem do carnaval das escolas de samba em Belém dos anos oitenta. Por isso, o símbolo, o arco íris, é o mesmo, assim como as cores. O que acrescentei foi o cavalo marinho, um dos animais relacionados a meu orixá, Logun Edé.

– Como surgiu a ideia de criar uma escola de samba de maquete e participar da UESM?

Por acaso. No início de 2017 estávamos finalizando o ano letivo na Escola de Aplicação da UFPA, onde trabalho. Os últimos conteúdos seriam Idade Média e Renascimento. Então, como falo muito a respeito de cultura popular em minhas aulas, para descontrair um pouco meus alunos, do primeiro ano do Ensino Médio, propus um trabalho mais prazeroso: criar uma maquete de carro alegórico que tivesse como tema alguma das discussões que estudamos sobre Idade Média e Renascimento. Então, fui pesquisar imagens para exemplificar, na internet. E, pum!!! Descobri a UESM e outras ligas e pessoas fazendo algo que para mim era brincadeira de minha infância: montar desfiles em miniatura! Aí, fiquei apaixonado logo de cara e entrei no site… Assim, aqui estou – revivendo em grande estilo minha infância e adolescência, quando a sala de casa ficava congestionada de carros alegóricos no dia do desfile.

– Como é o seu relacionamento com o carnaval?

Em uma frase: É impossível olharem para mim e não relacionarem minha vida a “carnaval”. Vida profissional, acadêmica e pessoal passeiam, ou melhor, desfilam, pela mesma avenida: a do carnaval. O carnaval e as escolas de samba foram o motivo de eu descobrir a arte na vida. Por isso, hoje, inevitavelmente, o carnaval é parte de mim, imanente e transcendentemente.

– Desfila? Assiste? Produz? Curte blocos, desfiles?

Tudo! Desfilei pela primeira vez em 1999. Executei (e usei) minha primeira fantasia em 2000. E em 2001, assinei um carnaval pela primeira vez. Antes da interrupção e enfraquecimento dos desfiles aqui em Belém, mesmo trabalhando como carnavalesco eu desfilava como destaque em várias escolas. Era uma loucura! Desenho, executo e uso! Adoro blocos e desfiles. Acho que um carnavalesco que não vivencia o carnaval, no sentido amplo da expressão, é mais um “ator tecnicista” que um artista de verdade. Por isso, viver o carnaval é importante para quem trabalha com ele.

– Já participou de outras ligas de carnaval na internet?

Nunca. A Uesm é a primeira.

– Conte um pouco do enredo que vai ser desenvolvido e o samba escolhido.

O enredo é uma ideia que já tenho há tempos, guardada na cabeça. Aqui em Belém nunca foi aceita. (Aliás, aqui poucos enredos foram realmente meus. A maior parte foi indicação de presidentes ou diretorias). Para mim o carnaval e as escolas de samba são um espaço extremamente democrático na cultura popular, por isso, em tempos de tanta intolerância, sempre é bom falar a respeito. A ideia do enredo é mostrar isso: esse espaço em que todos são o que são ou são algo que gostariam de ser! Um lugar onde você pode ser diferente e igual ao mesmo tempo, sem problemas, relaxar as tensões da vida ou carnavalizar momentaneamente o que não pode ser burlesco. Pois o carnaval é isso: fugir às regras e voltar a segui-las, usando um pensamento de Michel Maffesoli.

No entanto, apresentar isso assim, seco, direto, tem mais cara de tese de doutorado que de desfile de escola de samba. Então, o tema foi transformado num delírio carnavalesco (como eu acho que todo enredo deve ser – bem louco). Em resumo, a história é esta: o Rei Momo, prestando atenção na exclusão de algumas personas em sua festa, resolve desfazer o mal entendido. Manda um convite para o mundo da imaginação, direcionado apenas àqueles que são sempre temidos e mal falados: os monstros, os vilões, as assombrações… Os convida para um baile de carnaval em seu próprio castelo. O enredo conta isso, com essas figuras representando todas as minorias e excluídos, encontrando seu lugar nesse grande espaço que é o carnaval.

O samba da Imperatriz caiu como luva para ilustrar minha “epifania carnavalesca”. Gostei muito daquele desfile, em 2005. Patinhos feios, um autor que era pobre e burlou as dificuldades (Hans Christian Andersen), a relação dele com o Brasil. Além da conexão com Monteiro Lobato e o Sítio do Pica-Pau Amarelo. E uma estrofe do samba tem muito a ver comigo, com minha vida e minha infância (“e o menino venceu a pobreza e fez da arte a linda princesa, com quem viveu grande amor”). E numa mistura de afetividades e ideias oníricas, surgiu BOO! Além disso, sou fã da Rosa Magalhães!

– Como está sendo a experiência de produzir um carnaval de maquete? Qual o principal desafio?

Fantástica! Foi uma injeção de ânimo e alegria em minha vida corrida. O maior desafio, no entanto, é fazer tudo sozinho… É uma situação paradoxal: gosto de fazer porque me faz bem, me relaxa; mas, me cansa, toma muito de tempo… (E pergunte se quero parar: claro que não).

– A escola enfrenta alguma dificuldade em encontrar materiais na sua cidade?

Até agora, não. Há muitos lugares bons aqui em Belém para se comprar coisas “estranhas” e de carnaval (lojas de carnaval, de materiais de costura e festas de aniversário). Além disso, ser em miniatura traz possibilidades mais loucas que a situação na escola real. Tudo pode virar alguma coisa.

– Tem alguma aposta em material diferente para este ano? Fale sobre ele.

Penso que não há nenhum material “diferentão”. Talvez seja diferente o uso de muitos materiais em conjunto. Isso me levou para um tipo de plástica que é um pouco arriscado: aquele com muitos elementos, que podem dificultar a leitura visual. Mas, tenho deixado o barco correr… Acredito que até agora essa quantidade de materiais misturados tem dado um resultado que me agrada.

– Qual será o seu diferencial para se destacar em meio às 15 agremiações do Grupo?

Difícil pensar nisso, considerando que as escolas da Uesm são por si singulares. Cada uma possui estética própria, escolha de materiais e usos também. Talvez, por isso, a identidade visual da Arco Íris seja o ponto diferencial. No início eu queria fazer tudo simples, mas minha veia da opulência transformou isso em um desfile luxuoso. O enredo é um pouco diferente das narrativas mais comuns também.

– Qual será o momento mais impactante do desfile?

Sendo sincero e vaidoso, acho todo o desfile impactante. (Risos). Mas, gosto de duas alas um pouco mais: a dos Fantasminhas de Lençol e a dos Bichos Papões, porque são brincalhonas. Os casais de mestre-sala e porta-bandeira também. No entanto, o elemento que é mais simbólico e poético para mim está no último carro. (Não vou contar para não perder a graça e o “impacto”). Mas foi algo que me tocou quando terminei… Olhei pronto e fiquei emocionado.

– Pode nos revelar mais alguns detalhes ou curiosidades?

Hummm… Alguns. Desenvolver um enredo complexo para poucas unidades visuais é difícil. Poucas alas, apenas dois carros, um tripé… Isso dá trabalho, pois temos que adaptar a história e focar nos pontos principais. (Acredito que todos os colegas do Grupo B têm essa dificuldade). Por isso, além das alegorias, criei elementos alegóricos diferentes para aumentar o volume do desfile e reparar o efeito dos muitos cortes que tive que fazer.

– Como professor de artes e ex-carnavalesco você acredita que leva vantagem sobre as demais agremiações devido às técnicas e experimentos já conhece?

Antes de responder, uma realocação de termos. Primeiro, nunca quero ser ex-canavalesco. Quem foi um dia verdadeiramente, de alma, não deixará de ser jamais, e estar na Uesm faz de todos nós carnavalescos em plena atividade. A segunda é que eu prefiro me apresentar como carnavalesco e professor, pois foi nessa ordem que a coisa fluiu. Inevitavelmente, tenho mais facilidade para compor um enredo e conhecer os “macetes” de como fazer isso sem cometer “pecados”, tanto por ser carnavalesco há bastante tempo, como por minha formação em Artes Visuais. No entanto, isso não garante sucesso efetivamente a ninguém, é apenas uma possibilidade. Vejo os trabalhos dos outros colegas da Uesm e fico admirado. São enredos bem-feitos ou bem relidos. Trabalhos primorosos de muitas escolas na execução das maquetes e das fantasias em “foliões” com 5,5 cm. Por isso, em geral, a disputa é muito boa, sem grandes favoritos.

– Acadêmicos do Sabiá também abordará monstros e seres arrepiantes. Como usar a criatividade em meio a dois temas parecidos?

Não vejo problemas. É como uma pesquisa acadêmica. Temos o tema e o objeto. Nossos temas são semelhantes, os objetos não. Com toda certeza a visualidade vai se aproximar aqui ou ali, pois teremos um cortejo de monstrinhos na avenida, mas acho bom, pois são plásticas diferentes, e isso enriquece a coisa. Lembro os desfiles do Império Serrano e da Imperatriz Leopoldinense, em 1994, por exemplo, sobre Catarina de Medicis. Mesmíssimo tema. Mesmo objeto. Desfiles profundamente diferentes, porque, apesar das grandes semelhanças, as abordagens carnavalescas foram diferentes.

 

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