Casos de assédio sexual no Carnaval são revelados em livro

Priscila Hirle e Priscila Rosa. Foto: Reprodução Youtube

Os bastidores do Carnaval sempre despertaram a curiosidade de quem não convive com o dia a dia da festa mais popular do Brasil. Como as musas, destaques, beldades e talentos masculinos e femininos são escolhidos? Por que alguns conseguem um lugar ao sol e outros não? Existe mesmo assédio sexual e relação de poder entre quem manda e quem quer o estrelato?

Capa 'Segredo é Você". Foto: Reprodução
Capa ‘Segredo é Você”. Foto: Reprodução

Nem todas estas perguntas já foram respondidas, mas, certamente, a curiosidade continua viva e por isso o assunto, de tempos em tempos, volta à tona. Isto está acontecendo mais uma vez neste início de 2017. E, desta vez, por conta do lançamento do livro “O segredo é Você”, de Priscila Hirle e Priscila Rosa.

Mas quem são as mulheres que resolveram abrir a caixa-preta dos segredos escondidos na intimidade de quem respira o Carnaval? E por que elas resolveram contar tudo o que sabem?

As conquistas e adversidades vivenciadas por ambas durante o tempo em que atuaram no Carnaval do Rio as aproximaram e as motivaram a escrever o livro “O Segredo é Você”. A autobiografia descreve momentos de glória, além de episódios de assédio vividos pelas duas tanto no meio carnavalesco como em outros ambientes de trabalho.

Os divulgadores do livro contam que “atualmente, as duas ‘Priscilas’ se dedicam às suas profissões, cuidam da família e incentivam outras mulheres a superarem as dificuldades e lutarem por seus sonhos”.

O livro aborda diversos temas cotidianos como a autoestima, beleza, saúde, inveja, racismo, machismo e espiritualidade e tem como objetivo inspirar outras mulheres a não desistirem de seus sonhos e alcançarem êxito na vida pessoal e profissional. O lançamento do livro e a sessão de autógrafos serão no dia 28 de janeiro, às 18h, na Livraria Oito Meio (Travessa dos Tamoios 32, Flamengo).

TRECHOS DO LIVRO

PRISCILA ROSA:

“Eu era uma porta-bandeira profissional, recebia para exercer aquela função, adorava. Há dirigente, não devemos generalizar, mas a maioria, que se aproveita das mulheres, sobretudo das mais novas, prometendo-lhes lugar de destaque na escola. Em uma das escolas em que desfilei, um dirigente assediou-me insistentemente, sem sucesso. Dias depois, comecei a sofrer discriminação na agremiação. Depois, recebi um telefonema da secretária de um dos dirigentes me informando que uma pessoa iria à minha casa buscar a bandeira e que eu estava desligada da escola. Tenho certeza que isso aconteceu por motivos pessoais. No ano seguinte, fui convidada a voltar; recusei. É normal que, com tanto tempo ativa no samba carioca, eu tenha presenciado numerosas situações em que dirigentes, ritmistas e foliões constrangeram mulheres, observando-as como se fossem paisagem, como se elas não tivessem valores, princípios, nem caráter, medindo-as pelo tamanho das suas roupas. Homens que fingiam tirar fotos e usavam a oportunidade para tocar as sambistas e modelos sem permissão, que chegavam para dançar e se encostavam nelas, repetidamente convidando-as para programas e dizendo coisas vulgares. São pessoas que confundem tudo e não veem que o trabalho das sambistas e modelos na escola de samba tem a ver com beleza, arte e até com sensualidade, mas não com vulgaridade”.

PRISCILA HIRLE:

“Quando Rainha do Carnaval, eu tinha ciência de que o assédio seria algo naturalmente mais comum do que em qualquer outra ocasião da minha vida. Sofri assédio pesado de homens ricos e alguns famosos. Um deles, empresário, bem mais velho do que a maioria dos homens que frequentam esse mundo do show business, com um copo de uísque na mão, aproximou-se de mim. De repente, ele tentou agarrar-me de forma impetuosa. Estávamos em uma pista de dança, em uma festa com artistas do cinema e TV, inclusive personalidades estrangeiras. Estava feliz naquele ambiente, cheio de gente agradável, quando ele me atacou de forma agressiva, tentando forçar um beijo. Dei-lhe uma forte cotovelada e me afastei já decidida a ir embora do local rapidamente. Minutos depois, quando me encaminhava para a saída do salão, um pagodeiro famoso se aproximou e falou: “Por que você fez isso? Saia daqui agora. Você não sabe com quem você se meteu. Nunca mais volte por essas redondezas, você corre risco de vida”. Saí dali com muito medo e fiquei umas duas semanas sem botar os pés fora de casa. O pessoal me chamava para entretenimentos, eu inventava alguma desculpa e permanecia quieta em casa. Tinha medo de morrer. Fiquei com paranoia mesmo. Achava que alguém estaria na esquina me esperando. Aos poucos, livrei-me dos temores, deixei de ter medo”.

 

As autoras

Priscila Hirle, 38, é carioca de Marechal Hermes, onde teve uma infância e adolescência humilde. A dança, uma de suas vocações, esteve presente na vida de Priscila desde cedo, aos sete anos, quando deu início à pratica de balé e jazz. A experiência foi base importante para o início da sua carreira no samba. Em 2004, mesmo sem nunca ter entrado antes em uma agremiação carnavalesca, foi eleita a Rainha do Carnaval do Rio de Janeiro.

Sempre muito estudiosa, aos 15 anos começou a trabalhar como baby-sitter, ano em que também terminou o ensino médio em enfermagem. Aos 19 entrou para a faculdade de medicina. Antes de se formar, trabalhou por muito tempo em figuração de novelas, séries, programas de TV e filmes. Participou como jurada do concurso para escolha da rainha do bloco Cordão do Bola Preta e do programa de calouros do Raul Gil, na TV Record.

Em 2005, concluiu a graduação em medicina e decidiu se dedicar exclusivamente à profissão e à família. Tem um filho e se pós-graduou em auditoria de saúde, medicina do trabalho, medicina do tráfego e psiquiatria.

Priscila Rosa, 34, integrante de uma das famílias tradicionais do samba, começou a vida artística cedo como passista mirim da escola de samba Salgueiro. Pelo Salgueiro também foi porta-bandeira, posto que depois ocupou na Portela, Mocidade, União da Ilha e Rocinha. Priscila começou a estudar jazz e balé ainda quando era criança e fazia apresentações de samba em grandes eventos.

Participou de diversos documentários sobre Carnaval e samba, fez figuração em filmes e programas de TV e se apresentou por diversas vezes como dançarina no antigo programa “Xou da Xuxa”, da Rede Globo.

Ao lado de Valeria Valenssa (Globeleza) e Carlinhos de Jesus, fez parte do elenco do musical “Ela Brasil”, em cartaz por seis meses. Também atuou como modelo e teve sua passagem na carreira esportiva como atleta de nado sincronizado. Em 2005, formou-se em jornalismo, é cake designer e tem um filho.

 

 

 

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