União da Gávea divulga sinopse do enredo sobre Elza Soares

Pavilhão da União da Gávea. Foto: Divulgação.

O GRESV União da Gávea homenageará, no Carnaval Virtual 2018, a cantora Elza Soares através do enredo: “Elza Soares: A mulher do fim do mundo desperta o poder feminino!”. O enredo também retratará a força que cada mulher possui dentro de si.

Leia abaixo a sinopse do enredo desenvolvido pelo carnavalesco Bill Oliveira, com o qual a União da Gávea disputará o campeonato em 2018. Em breve, a escola divulgará as informações sobre a disputa de samba.

Elza Soares: A mulher do fim do mundo desperta o poder feminino!

Logo do enredo. Foto: Divulgação.

Sonhei um sonho lindo…
O mundo recriar
Com a voz que pode vencer o mal!
Eu vim do “Planeta Fome! ”
Onde ninguém tem nome
Atravessei desertos e montanhas…
Venci a Dor e a Pobreza
Para me tornar a Dona do Carnaval
Hoje sou fantasia…
Um delírio sem igual
Seguindo a trilha de um “ritmo quente”
Me dissolvi no sangue de cada mulher fervente
Conheci
A Origem Negra que navega em mim…
Sou um “navio humano”
No corpo eu carrego
A raiz e o barro do mangue
Vida à beira do Mar Fecundo…
O poder gerador de estrelas é feminino!
A Lama é feminina…
Dela eu surgi para dançar
Com Sentinelas, Taifeiros, Estrelas,
Madrugadas e Escolas de Samba…
Superei
Miséria, preconceito, abuso e discriminação!
E em momento algum deixei de cantar minha canção!
Assim conquistei, amei, sobrevivi!
Por isso “Me respeita” que “o laço se fechou”
O velho mundo acabou!
O machismo perdeu a vez
Caducou na loucura do freguês!
E cada uma de nós está na sua origem…
Toda mulher é rainha, toda mulher é negra,
Toda mulher é sua mãe…
E sua mãe é geradora de vida!
Vai dizer que não sabia?
“Moço olha o vexame! ”
Então acho bom me escutar
Obedece a minha lei
Segue a minha fé!
“Beba-me! ”
Quebrei a Máquina
Quebrei com a ginga do meu samba
Sou todas as mulheres em uma…
Sou Elza Soares
Sou “Paixão selvagem”
Eu sou a “Dona da Barriga”
Eu sou a mãe de Deus!

A Mensagem da Mulher do Fim do Mundo

Não se trata de um enredo que fale de Elza, mas sim, por Elza! Ou melhor, através de Elza Soares… Por ela observamos o poder da feminilidade e sua importância ancestral.

Bastava dizer isto! Mas em um mundo racional, é bom que acrescentemos algo mais… Mas a razão gosta de tentar explicar tudo e talvez diante desta eloquente figura devamos reverenciar a razão, ou quem sabe fugirmos um pouco para ela…

Em uma sociedade hipócrita, materialista e masculinizada Elza Soares é exemplo ao simplesmente ser quem é… Um símbolo do Poder Feminino. Venceu e provou seu talento!

E agora volta a fazer sucesso quando muitos, especialmente os mais jovens haviam se esquecido dela.

Com um trabalho mitológico, pois carregado de mito e simbolismo em suas letras, com um visual bem construído. Surge agora como uma aparição! Negra, Mulher, ela é todas as mulheres em uma, ela é todas as Negras, e mais, ela é a senhora do mangue, a lama geradora de vida, a Escuridão da Criação dentro do Útero!

Sim esta aparição nos remete ao ancestral, em meio a raízes e em um cenário quase apocalíptico ela é sem dúvida A Mulher do Fim do Mundo! E isto tudo em um momento onde a sociedade está em crise não apenas financeira, mas religiosa, ética e emocional! O sistema capitalista-consumista-falocêntrico está ruindo, este sistema que sempre reprimiu e anulou a mulher, e, portanto, reprimiu e destruiu a natureza. Este sistema social e financeiro que nasceu fadado ao fracasso, está no fim!

Podemos entender que a aparição de Elza Soares é exatamente no fim do velho mundo inventado pelos homens?

Seu trabalho nos faz pensar profundamente. Nos faz enxergar a Mulher Ancestral. E sugere uma sociedade como a primitiva, comandada pela mulher…. Ou apenas harmonizada entre as forças femininas do sentimento e ecologia e as energias masculinas da razão e da tecnologia.

Este poder feminino renasce e o homem que respeita a mulher e entende sua função e valor no mundo. Afinal todos somos filhos de uma mulher. “O filho de Deus nasce de uma mulher na cultura religiosa vigente de nosso mundo ocidental.” Assim começa a nascer aos poucos, como um novo cidadão, que compreende quem sabe, um feminismo espiritual! Isto tudo que parece um delírio… E é delírio, tem que ser delírio. Pois se trata dos domínios do reino da Intuição… da Fantasia… do Feminino emotivo e emocional. Uma trilha de luz onírica a ser seguida, um frenesi feminino! Com fúria que parece vulcão. Uma fúria dentro de nós que nos faz também querer cantar? Esta Fêmea Ancestral desperta além de imaginação a nossa reverência.

Temos no início deste trabalho de Elza Soares, na letra da música “Coração do Mar” que serve de impactante introdução, uma sequência de imagens que nos remete a algo Onírico e Potencial, Divino e Arquetípico e nos leva ao contato com a Raiz Feminina…. a raiz da África, na origem da vida humana na Terra, na Origem no barro e na água ensinada não apenas pela religião cristã e judaica, mas também pelas religiões africanas. É também nesta canção insinuada a origem do povo miscigenado, um “navio humano” de DNA, filho do “navio negro” que vem do mar e aqui desembarca.

O Mar por si só tão simbólico, de onde teria surgido toda a vida! Temos nesta canção o mitologema de Elza Soares, que nos leva até a origem da humanidade e ao inconsciente coletivo no Oceano Escuro Ancestral, onde o “mundo é hospedeiro”… Onde flutuam imagens do inconsciente: “Sentinelas, Taifeiros (Aqueles que servem a comida nos barcos), Madrugadas e Escolas de Samba” Todos estes são elementos da história e da origem de Elza Soares!

Assim Elza se empodera e se diviniza… Senta em um seu trono de galhos e raízes no topo de uma árvore e canta – É a visão de uma Yami Osorongá, que senta na árvore da criação! Aqui devemos saudar! – Esta árvore negra que brota de um mangue úmido e morno cheio de vida potencial. E dali une-se a figura de todas as mulheres do mundo… Ela é Una na Árvore!

E assim carregada de tanto simbolismo e de energia do “coração do mar” do poder do Inconsciente, ela canta em seguida a canção “A Mulher do Fim do Mundo!”

Mais adiante, de novo, ela evoca este poder da terra e do barro, mas agora na canção “Pra fuder!” esta terra e este barro estão fervendo na pele, e fervem de paixão. E fervem como vulcão… Vulcão no corpo.
É a glorificação!

E ainda evoca a “Mulher Selvagem!” Evoca imagens de “Mulheres que correm com lobos” um famoso livro feminista e espiritualista que ganhou o mundo na década de 90!
É a imagem da sexualidade da mulher vivida sem culpa e sem tabu!

O sexo da mulher não mais visto como frágil e sim… Poderoso!
(Tudo isto sugere liberdade sexual que não foi ainda conquistada. Sugere direitos iguais de mando na sociedade que ainda é só fachada! Sugere que não existe posição inferior na cama e muito menos sexo frágil!).

É loucura tudo isto para você? Delírio? Sim é delírio e fantasia… Não precisa fazer sentido… Apenas sinta… Apenas se inspire!
É sonho e é delírio mesmo! Pois apenas o feminino… A Psique…
a alma fecunda podem nos valer quando falamos sobre o que não
podemos ver… Quando “tocamos” em imagens de sonho em verdades onde a razão masculina não consegue chegar: ‘Onde nenhum homem jamais esteve, está a mulher!…’ A Mulher do Fim do Mundo!

A mulher Ancestral, Loba, Selvagem! Mulher que é Feiticeira, Sacerdotisa… Deusa Criadora!
É preciso restaurar o feminino em nós para compreendermos as sutilezas da alma… Mas este feminino hoje desperta mesmo sem nossa vontade e compreensão!

Sua imagem nos oferece uma interpretação da sociedade atual e de seu colapso! O Poder feminino desperta e “Ele” se torna “Ela”. Esta é a bomba feminina…. Até o homem vira mulher para mostrar que esta Mulher vive em cada um de nós!

Todas estas sugestões imagéticas impossíveis para a razão vão de encontro com nosso momento, onde o machista se apega aos últimos vestígios do seu mundo, tentando gerar retrocesso.

Elza Soares é virtual e toca todos com sua mensagem estrondosa de feminilidade! Toca todos os sentidos em seu álbum que inspira o nome do enredo a ser desenvolvido em um desfile virtual pela União da Gávea em 2018! Um projeto, um movimento, Virtual e Viral!

E com sua bossa e malandragem ela parece dizer: “Moço olha o vexame!” E mais… “Beba-me! ” Sou mulher… “EU SOU Negra!” E este “beba-me!” Tem sentido de uma Nova Eucaristia! De comunhão com o corpo da Mulher. E faz tudo com samba!

Ela que tem a Estrela de Padre Miguel por sua guia, que ama a Mocidade Independente, escola de samba que ela ajudou a popularizar, cantando sua bateria com seu “ritmo quente!”

Assim ela ressurge e mostra que sabe ser quem é! E é ser sem vergonha de ser e de viver.
Cumpre sua missão!

E pede se impondo: “Me deixem cantar! Cantar até o fim!”

E agora reconhecida mundialmente, reverenciada, em plena forma, novamente quando menos se espera surge um novo trabalho, não menos carregado de simbologia: “A Mulher e a Máquina”.

Talvez integrando a luta do Criador x Criatura… A alma com a frieza do progresso… Quebra a máquina com sua ginga… A Máquina devoradora que é um moinho de gente… Suga o sumo do povo e ainda oprime o negro. A pele Negra tem Valor!

Temos aqui o progresso e a ecologia em conflito diante de um mundo decadente que nada aparentemente aprendeu sobre as emoções (feminilidade) e a natureza (mulher). Outro conflito entre a razão e a emoção gera confusão dentro de cada um que não sabe para onde correr, em que fé acreditar? Em que político? Em que homem? A mulher traz em si o fogo que aquece e quem sabe dá coração para a máquina?

Concluímos então, que esta mulher não tem conclusão…

Elza é… Elza está!… Pois sempre esteve e sempre estará!

Adendos:
O primeiro texto é inspirado nas energias e arquétipos da vida de Elza Soares,
em sua lição de superação e feminilidade, bem como no poder de sua personalidade
e de sua voz. Mas especialmente em seu álbum “A Mulher do Fim do Mundo” e
“Beija-me (beba-me)”. Agora no recente “A Mulher e a Máquina.”
Alguns elementos que contam a história de Elza Soares estão insinuados: A música; A dor da perda no seio familiar; O preconceito que enfrentou por ser mulher e negra; O amor conturbado com Garrincha; A força de sua personalidade; A estrela da Mocidade Independente de Padre Miguel.
Na justificativa que no texto se apresenta como uma explicação do simbolismo da Mulher do Fim do Mundo, mostra o Poder Feminino que dará norte e lentes ao desfile.

Bill Oliveira
Multimídia, Ilustrador e Pesquisador do Carnaval e da Cultura Popular Brasileira.

Inspirações:
A vida e a obra de Elza Soares.
Seus respectivos álbuns e músicas: “A Mulher do Fim do Mundo”, especialmente nas canções: “Coração Do Mar / Mulher Do Fim Do Mundo” , “Maria Da Vila Matilde” , “Pra Fuder” e o álbum “Beba-me”,
especialmente nas canções: “Dura na Queda”, “Beija-me (beba-me)” e
“Estatutos Da Gafieira”
O seu mais recente trabalho “A Mulher e a Máquina”

Bibliografia:
– Mulheres que correm com lobos, de Clarissa Pinkola Estés, Tradução de Waldéa Barcellos, Editora ROCCO Rio de Janeiro 1999
– Elza Soares Cantando para Não Enlouquecer, de Jose Louzeiro,
Editora Planeta do Brasil 2010.

Glossário de Conceitos e Termos
– Psique: A alma feminina e pode também ser entendida como a alma feminina em todos nós, segundo a Psicologia dos Símbolos de Carl G Jung.
– Inconsciente: O inconsciente é onde habitam os sonhos e os símbolos arquetípicos segundo a Psicologia dos Símbolos.
– Mar Ancestral: Mar inconsciente, refere ao inconsciente coletivo na psicologia dos símbolos.
– Origem na Lama: Teoria da origem religiosa da origem do homem no barro. Não apenas o cristianismo acredita nesta teoria, algumas tribos africanas também.
– Origem na Água: Uma vertente cientifica afirma que a vida na terra veio do oceano, incluindo a humanidade.
– Origem na África: Teoria científica da origem da humanidade no continente africano-negro.
– Yami Osorongá: As Deusas Africanas da Criação. Podem ser representadas como metade mulher e metade pássaro.
– A Deusa Criadora: Algumas religiões antigas da Europa e Ásia acreditam na Deusa como a parceira de Deus Masculino. Ou na energia da criação como uma Entidade Feminina, o que vem confrontar o valor exagerado ao homem em nossa civilização atual.
– Árvore da Vida: A árvore é um símbolo vivo em todas as religiões, está ligada a ancestralidade e a criação do mundo.
– O sistema capitalista-consumista-falocêntrico: A ditadura do homem no mundo capitalista ocidental em que vivemos. A obrigatoriedade de ser masculino para se ter poder e comandar, conquistar e consumir. Ensina que só o homem é forte e reduz a força e a importância da mulher. E ainda é preconceituoso e combate os homens que possuem sua feminilidade aflorada. A ditadura do falo ensina que: “Só o homem tem valor, e todos devem ser heterossexuais.”
– Feminismo Espiritualista: Com a grande popularização das religiões e filosofias orientais, bem como com o retorno da figuria da bruxa medieval, logo após a revolução da década de 70. Surgiu um feminismo apoiado por ideias esotéricas que defende o valor da mulher na sociedade como sendo a geradora da vida, apoiados pelas ideias das religiões consideradas pagãs como a Wicca.

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