Qual a herança moral deixada por Tancredo Neves e pelo velho Sérgio Cabral?

Aécio Neves e Sérgio Cabral. Fotos: Divulgação

Aécio Neves e Sérgio Cabral. Fotos: Divulgação

Um dos presidentes mais ridicularizados da República, Itamar Franco, na régua da história, prestou um serviço inestimável à democracia e à economia brasileira. O Real, que estabilizou a moeda, teve seu apoio. E, o curioso é que, após sua morte, aos 81 anos, se descobriu que ele era pobre.

O senador Tancredo Neves, que não assumiu a presidência porque morreu antes da posse, abrindo vaga para o seu vice José Sarney, ocupou os postos mais relevantes da República. Inclusive o inédito, no curto parlamentarismo brasileiro, de primeiro-ministro. Ele deixou um patrimônio menor do que seria o compatível com sua trajetória política.

Sérgio Cabral, pai, é outra personalidade importante como jornalista, biógrafo e um apaixonado pela cultura brasileira. Da última vez que estivemos juntos, ele comentou comigo que nada consegue tirar da sua cabeça que os americanos disseminaram o funk no Brasil para que os jovens se desinteressassem pelo samba.

A introdução acima é para dizer que é possível fazer política e ser digno de uma conta bancária justificável com os vencimentos que se ganha. E que se pode ser digno e grande no que se faz, desde que talento, competência e muito trabalho redundem numa obra importante para a sociedade.

Itamar foi digno e relevante para o país. Tancredo se dedicou à política e comprovou sua habilidade e inteligência, mesmo se colocarmos na balança seus erros e acertos. E Sérgio Cabral, pai, foi além de “O Pasquim”, jornal importante na luta contra a ditadura, e eternizou biografias de Tom Jobim, Pixinguinha, Elisete Cardoso, Nara Leão, Grande Otelo…

Presumivelmente, o neto de Tancredo, Aécio Neves, aprendeu com o avô a importância da honestidade e da educação, já que viviam grudados; o hoje presidente do PSDB foi seu secretário particular. E o mesmo poderia valer para o ex-governador Sérgio Cabral, homônimo do pai.

O biógrafo tinha esperanças de ver o filho um dia ser o “presidente do Brasil”. Hoje, acometido de uma doença grave, sua memória só consegue lembrar de lampejos da sua própria infância. Ele não sabe que o filho, por exemplo, está preso no complexo penitenciário de Bangu.

Por que Aécio e Cabral, o filho, se envolveram com propinas e corrupção?

O Ministério Público Federal denunciou o ex-governador do Rio Sérgio Cabral, do PMDB, e mais seis pessoas por corrupção na ação que investiga o desvio de quase R$ 300 milhões  em contratos fraudulentos da área de saúde.

E Aécio… Bem, Aécio informou ao Tribunal Superior Eleitoral, em 2014, quando concorreu à presidência que detinha um patrimônio pessoal de R$ 2.503.521,81. Curioso. Pois agora, em março de 2017,  só do dono do Grupo JBS, Joesley Batista, o “mineirinho” embolsou R$ 2 milhões. Praticamente o que consta no seu patrimônio oficial. Estranho, não é? Alguém pedir emprestado a um empresário o similar ao seu patrimônio de uma vida inteira.

O que os psicólogos consultados para este artigo nos dizem é que Aécio e Sérgio Cabral convivem no seu íntimo com a obrigação de serem maiores do que o seu avô e o seu pai, respectivamente. Se não conseguem sê-lo por talento próprio, que, pelo menos, tenham poder, dinheiro e influência superiores aos “maiores” de suas próprias famílias.

Nem que para isso seja preciso, custe o que custar, alimentar vícios, conviver com desvios de conduta e identidades duplas: cavalheiros na sociedade e outra pessoa na vida privada.

 

 

 

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