Cheryl Berno. Foto: Acervo pessoal

Cheryl Berno

Advogada, Consultora, Palestrante e Professora. Especialista em direito empresarial, tributário, compliance e Sistema S. Sócia da Berno Sociedade de Advocacia. Mestre em Direito Econômico e Social pela PUCPR, Pós-Graduada em Direito Tributário e Processual Tributário e em Direito Comunitário e do Mercosul, Professora de Pós-Graduação em Direito e Negócios da FGV e da A Vez do Mestre Cândido Mendes. Conselheira da Associação Comercial do Estado do Rio de Janeiro.

Reforma Tributária aumentará os impostos?

ALERJ convoca fisco e contribuintes para discutir a tributação

A Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro – ALERJ promoveu na sexta, 24 de novembro, uma audiência pública para discutir a reforma tributária. Para o presidente da Comissão de Tributação da ALERJ, o deputado Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSDB-RJ), que conduziu a reunião, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 21 de 2007, em discussão no Congresso Nacional, fere o pacto federativo: “A minuta leva para a União praticamente toda a legislação do ICMS. O estado perderia a sua capacidade de gerir sobre a sua base de arrecadação, o que é muito ruim”, declarou. Luiz Paulo informou que convidará o deputado federal Luiz Carlos Hauly, autor da proposta em discussão na Câmara dos Deputados em Brasília, para discutir a questão em nova audiência pública, ainda sem data marcada.

Os representantes da fazenda estadual no Grupo de Trabalho 47 do CONFAZ – Conselho Nacional de Política Fazendária, que analisam o texto atual do deputado Hauly, da Câmara dos Deputados Federais, foram unânimes em criticar a reforma pretendida, uma vez que representaria congelamento das receitas do Estado, segundo dados apresentados, no que foram acompanhados pelos procuradores do estado que também manifestaram-se contrários ao texto de reforma. O grupo de fiscais presente na audiência mostrou uma proposta um pouco diferente da que tramita na Câmara.

Pelo texto em tramitação, a previsão é de extinção de 10 tributos: IPI, IOF, CSLL, PIS/Pasep, Cofins, Salário-Educação, Cide-Combustíveis, todos federais, do ICMS, estadual, e do Imposto sobre Serviços, o ISS, municipal, o que seria bom, não estivesse sendo proposta a criação de um imposto sobre o valor agregado de competência estadual, o “Imposto sobre Operações com Bens e Serviços” (IBS) e outro sobre a mesma base de cálculo, só que de competência da União, o Imposto Seletivo (IS), que seria exigido sobre o petróleo e derivados; combustíveis e lubrificantes; cigarros; energia elétrica; serviços de comunicação e outros que seriam definidos em lei complementar federal. Ou seja, as mercadorias que representam as maiores receitas de ICMS hoje, passariam a ser tributados pela União Federal. Sem dúvida é preocupante a pretendida tributação por dois entes da federação sobre uma mesma base de cálculo, o que atualmente mesmo vedado já é desrespeitado em algumas situações. Esse compartilhamento de um mesmo imposto entre União e Estados causa apreensão aos contribuintes, já calejados com tributos que incidem até uns sobre os outros.

Outra novidade proposta pela Comissão Especial da Câmara é a criação de um “Super Fisco Estadual” para administrar o novo imposto estadual, que seria cobrado no destino da mercadoria ou do serviço, não como acontece hoje com o ICMS. Para evitar perdas de arrecadação para alguns entes federados, Hauly propõe a criação de dois fundos, que segundo o deputado, compensariam eventuais disparidades na distribuição da receita entre os estados e os municípios. Pelos cálculos dos auditores fiscais presentes na audiência, os estados brasileiros deixariam de arrecadar R$ 62 bilhões por ano, caso o modelo de reforma tributária que está sendo discutido no Congresso Nacional fosse aprovado. O subsecretário da fazenda, Adilson Zegur, explicou que atualmente os estados dispõem de receitas próprias que somam R$ 322 bilhões, incluindo o ICMS, o IPVA e o Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação (ITD). Porém, após a reforma, este valor poderá cair para R$ 260 bilhões, cerca de 20% a menos. “Essa é apenas uma base. O estado pode perder ainda mais com essa mudança. Mas já possível saber que sofreremos um déficit significativo nos cofres, caso a medida seja aprovada”, alertou Zegur.

Não obstante as discussões na ALERJ em torno do texto em tramitação na Câmara dos Deputados, o Jornal Valor Econômico do dia 14 deste mês, noticiou que o assessor do Presidente Temer, Gastão Alves de Toledo, trabalha com um outro plano, que mantém o ICMS e elimina ISS, PIS, COFINS, IPI e CIDE. Como o texto do Governo federal não está disponível para análise, é preciso aguardar, para ver a ideia real da equipe presidencial, uma vez que qualquer detalhe pode fazer toda a diferença em uma lei, ainda mais na tributária, como confirmam as milhares de ações judiciais que discutem todo tipo de tributo. Diversamente do Governo, o presidente da comissão especial da Reforma Tributária na Câmara, deputado federal Hildo Rocha (PMDB-MA), quando o assunto foi discutido em Brasília no dia 22 de agosto passado, divulgou até um e-mail para receber sugestões da sociedade: [email protected].

Em se tratando só da reforma infraconstitucional do ICMS, está em discussão no Senado Federal a mudança da Lei Kandir, que traz as regras gerais para todos os estados e para o Distrito Federal seguirem, o que nem sempre acontece. O senador Wellington Fagundes (PR-MT), relator da comissão mista que analisa alterações dessa lei expressou a sua intenção de votar o texto até o fim de novembro.

Sobre outro tema que envolve receitas tributárias, a “DRU” – Desvinculação das Receitas do Estado, Luiz Paulo aproveitou para informar que está na pauta do Tribunal de Justiça da próxima segunda-feira, o julgamento de uma ação que ajuizou para contestar esse instituto no estado, semelhante à DRU da União, que desvia parte do dinheiro arrecadado com contribuições para o Governo Federal usar como quiser, não para o fim que foram criados os tributos originalmente. Outra informação dada pelo deputado foi a apresentação de emenda na Lei do Orçamento visando a criação, pelo judiciário, de mais uma vara da fazenda pública para julgar as dívidas das empresas e cidadãos fluminenses, a chamada dívida ativa. Atualmente o Poder Judiciário só designa uma das suas muitas varas para julgar as cobranças do Estado, a 11ª Vara da Fazenda Pública.

Neste tema tão árduo, a tributação, merece destaque a necessidade de uma urgente simplificação no pagamento dos tributos, para facilitar a vida dos contribuintes, em especial, no Estado do Rio de Janeiro. Uma das sugestões dadas, como representante da Associação Comercial do Estado do Rio de Janeiro, ACRJ, foi a extinção de declarações duplicadas como é o caso da “GIA-ICMS”, “Declan”, “Dub” e tantas outras, uma vez que as mesmas informações já são obrigatórias nos vários módulos do Sistema Público de Escrituração Digital, SPED. Os contribuintes precisam enviar todo mês, dentro do prazo de cada obrigação eletrônica centenas de informações, sob pena de pesadas multas, cobradas no atraso, no erro e na omissão de qualquer dado. Outra ponderação foi que para muitas alterações não é preciso nem mexer na Constituição Federal, basta alterar as leis inferiores, como é o caso da extinção do PIS e da COFINS, só para dar dois exemplos. Outro ponto que requer atenção: o que fará toda a diferença para os contribuintes são as alíquotas dos novos impostos, mas essas só serão conhecidas mesmo depois da reforma, quando forem editadas as leis regulamentadoras. Assim, na verdade, a análise de qualquer texto de reforma constitucional não traz a segurança de que não haverá aumento de tributos.

Quanto ao ISS, os cerca de 5.574 municípios brasileiros já não concordaram com a última proposta de reforma tributária, a “PEC 233”, que quase chegou a ser aprovada exatamente porque o Governo Federal desistiu na época da extinção do imposto municipal, mas mesmo assim morreu na praia, porque o Estado de São Paulo, após já ter concordado com a passagem gradativa da receita do ICMS da origem para o destino, voltou atrás, tendo sido acompanhado por outros estados da federação, impedindo a aprovação da tão esperada reforma de 2008.

Os municípios alegam que há 30 anos, quando foi promulgada a Constituição do Brasil, ganharam mais obrigações, sem a necessária implementação de receita, por isso são contra a extinção do ISS. Os estados e os municípios costumam reclamar que sem a receita dos seus impostos perderiam autonomia e teriam que viver com o pires na mão, pedindo dinheiro para o Governo federal. No entanto, o Simples Nacional, criado em julho de 2007, têm funcionado bem e representa chance até maior dos fiscos mais fracos receberem porque a Receita Federal costuma ser mais eficiente do que todos os outros na arrecadação dos tributos. Além disto, o avanço dos sistemas eletrônicos permite a arrecadação e o creditamento direto dos valores recebidos aos cofres estaduais e municipais.

Tratando do tema, em evento da Comissão de Assuntos Tributários da OAB, realizado no último dia 16 na Federação das Indústrias do Estado (FIRJAN), uma das maiores autoridades no assunto, o professor e advogado Paulo de Barros Carvalho Paulo de Barros, contou que o presidente Michel Temer, seu ex-sócio, teria dito que prefere usar o termo simplificação e racionalização, ao invés de falar em reforma tributária, que gera apreensão de todos. O professor respondeu, ao ser perguntado sobre a reforma ideal, que valorizaria os princípios constitucionais, os preceitos básicos que devem balizar todas as demais normas. Os mais conhecidos são o da legalidade, segundo o qual só pode ser exigido ou aumentado tributo com base em lei e o da igualdade perante a lei.

Hoje o Deputado Federal Hauly, relator da Reforma Tributária na Câmara está na FIRJAN – Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro para discutir o assunto com as empresas, sempre atentas às mudanças legislativas. Os contribuintes pessoas físicas acabam sendo sendo pegos de surpresa.

Mas, seja lá qual for a reforma levada à votação, o imprescindível é que seja antes amplamente debatida com toda a sociedade brasileira e que se busque a tão aclamada justiça tributária para aliviar a carga sobre a produção e o consumo, uma vez que esses tributos são passados para o consumidor, que quanto mais pobre, mais imposto paga no modelo atual. Continuamos acompanhando o assunto, mande a sua sugestão para repassarmos aos deputados ou envie diretamente para a Comissão Especial da Reforma Tributária: [email protected].

Mais informações acesse o material completo na Câmara dos Deputados:

http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/ECONOMIA/541571-RELATOR-DA-REFORMA-TRIBUTARIA-APRESENTA-OS-PRINCIPAIS-PONTOS-DA-PROPOSTA.html

Comentários

 




    gl