Haddad abre o jogo e fala sobre Lula, PT, Doria e Bolsonaro: ‘o próximo ano será quente’

Fernando Haddad. Foto: Divulgação "RedeTV"

Fernando Haddad. Foto: Divulgação

O ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação Fernando Haddad , possível candidato à presidência da República, concedeu entrevista ao programa “Mariana Godoy Entrevista” da “RedeTV”.

Na conversa, que faz parte da série que a atração realiza com os presidenciáveis, Haddad garantiu que o PT não tem “Plano B” e se mostrou confiante na candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele apontou os principais desafios do próximo presidente da República e enfatizou a economia e a educação como áreas prioritárias no país.

Questionado se já se acostumou à ideia de ser o  segundo’ do Partido dos Trabalhadores para concorrer à presidência da República caso Luiz Inácio Lula da Silva fique inelegível, Fernando Haddad foi cauteloso.

“Vou responder essa pergunta delicada com muita sinceridade. O PT está 100% convicto de que o presidente Lula concorre em 2018.” Ele continuou: “O PT está 100% convicto do ponto de vista político, porque lidera todas as pesquisas, mas também do ponto de vista jurídico”.

Haddad mostrou segurança com a possível candidatura de Lula, mesmo com uma ação a ser julgada no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4).

“A legislação admite vários recursos para além dessa condenação em segunda instância. E também, eu quero te dizer o seguinte, não sei se chegou ao seu conhecimento um livro de 122 juristas, dentre os quais professores de ilibada reputação que dão aulas em universidades, nas melhores faculdades de direito do país. Escreveram um livro alentado sobre a sentença e dizendo por que é que tecnicamente ela deve ser reformada em alguma instância, ou pelo TRF-4 ou, talvez, pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), de maneira que o partido, o presidente e os seus advogados estão muito seguros dos argumentos que levaram à consideração do Judiciário”.

O ex-prefeito de São Paulo explicou por que recebeu a recomendação do ex-presidente Lula para viajar pelo país.

“Eu fui ministro da Educação durante quase sete anos. É raro um ministro da Educação ter ficado tanto tempo no cargo e eu fiquei numa situação em que o Brasil estava vivendo um momento excepcional na área da educação, com a expansão das universidades, com a expansão das escolas técnicas, com bolsas de estudo do Programa Universidade Para Todos (Prouni), com financiamento estudantil pelo Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), com construção de creches. Então, o presidente Lula entende que o trabalho do ministério da Educação no meu período teve uma capilaridade muito grande e ele entende que a educação é um eixo de disputa no ano que vem prioritário, nós temos que retomar a agenda da educação sem o quê, na visão dele, e na minha também, dificilmente o país sairá da crise, porque você tem que dialogar com o futuro, tem que dialogar com a juventude, tem que recuperar a esperança. Então, a educação para nós, vai voltar ao centro das atenções, se depender do presidente Lula”, detalhou.

Haddad disse que não tem viajado o país como futuro ministro da Educação caso Lula volte ao Planalto.

“Estou como ex-ministro da Educação, que está sendo convidado por quase todas as universidades do país para fazer palestras para explicar o que foi aquele momento e as dificuldades que o governo Temer está impondo às universidades e institutos federais nesse momento.”

Questionado se as dificuldades vão além das financeiras, o petista observou: “A financeira é a mais grave, porque tem havido cortes importantes, a expansão do ensino médio federal foi suspensa, fala-se muito em reforma do ensino médio e isso não vai acontecer sem o apoio ao ensino médio federal, que é o melhor do país em termos de qualidade, então, tem toda uma agenda para ser concluída na educação, que foi iniciada no período do Lula e que ele quer retomar. Então, essa reconexão com a inteligência do país, que está instalada nas universidades, nos institutos, é fundamental para a superação da crise. Esse foi o objetivo dele quando me pediu que visitasse os estados”.

Como ex-ministro da Educação, Haddad falou sobre o que é possível fazer para que o ensino básico deixe de lado a precariedade no país.

“Em primeiro lugar, temos que continuar apoiando a educação infantil. Nós triplicamos a matrícula em educação infantil no país, sobretudo na creche, não havia atendimento de creche no Brasil. Hoje é uma realidade. Em São Paulo, quando fui prefeito, nós abrimos mais de cem mil vagas de educação infantil em quatro anos. Então, como isso foi possível? Foi criado no governo Lula o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), que é um fundo que financia da creche até o ensino médio todas as matrículas. Em segundo lugar, a curva do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) começou a crescer. No período anterior ao Lula, o Ideb caía. (…) Em terceiro lugar, a educação profissional e a educação superior tiveram uma expansão inédita no Brasil. Quais são os gargalos da educação hoje? Ensino médio, que ainda está bastante descuidado, que é de responsabilidade dos governadores, portanto nós temos que convidar os governos de estado a assumirem uma responsabilidade maior pelo ensino médio, as escolas estaduais, e, do ponto de vista do magistério, nós criamos o Piso Nacional do Magistério. Foi importante, foi durante a minha gestão, mas é insuficiente para a valorização da carreira. Ainda atrai poucos talentos a carreira do magistério. Eu diria que são duas questões que estão na ordem do dia e que precisam ser enfrentadas”.

Ao ser perguntado se teria uma estratégia para melhorar a capacitação dos professores, Haddad esclareceu: “Nós tínhamos uma ideia que foi abandonada. Estava sendo gestada em 2010, 2011 e depois não prosperou, que era criar um concurso nacional para ingresso na carreira docente, como se nós fizéssemos uma prova nacional para o ingresso na carreira docente, não fizéssemos uma prova local. Com isso, nós constituiríamos um banco de professores, aos quais seria atribuída uma nota, de acordo com a prova, e que prefeitos e governadores poderiam contratar a partir dessa classificação professores para a sua rede. No nosso entendimento, isso seria um caminho de valorização da carreira, porque os melhores professores iam ser disputados por prefeitos e governadores, que teriam que remunerar melhor para atrair os mais bem colocados do concurso nacional. Então, a nossa ideia era criar um concurso nacional. Voltei a falar com o presidente Lula sobre essa ideia e, provavelmente, ele incluirá no programa de governo dele a agenda de transformar isso em realidade”.

Fernando Haddad. Foto: Divulgação "RedeTV"
Fernando Haddad. Foto: Divulgação “RedeTV”

Haddad foi questionado se cogitaria sair do PT para poder “dialogar melhor com outras bases da política paulistana” e respondeu de forma direta.

“Eu estou filiado ao PT há 32 anos e acredito que o Brasil precisa de um partido trabalhista, de um partido com as característica do PT no que diz respeito à sua agenda, uma agenda radical de combate à desigualdade. O Brasil tem um problema crônico que é o pior problema, que compromete todo o nosso desenvolvimento, que é a desigualdade. E surgiu um partido nos anos 80, que está vivendo um momento difícil, mas que ao longo da sua história foi o que mais representou avanços nessa pauta que eu considero prioritária, como cidadão. Eu sou uma pessoa de classe média, eu poderia ter outra filosofia de vida, mas eu tenho essa filosofia. Eu vivo num país muito desigual e a mim causa repulsa viver num país tão desigual”.

Ao ser confrontado com a informação de que o PT não é o único partido com uma agenda de redução da desigualdade, Haddad concordou, mas fez uma distinção entre seu partido e os outros.

“É evidente que não, mas foi o partido que mais fez em proveito do combate da igualdade de oportunidades. Está vivendo um momento difícil? Está vivendo um momento difícil. Num país com poucas instituições, com uma institucionalidade muito baixa, você pode trocar de partido como quem troca de roupa, ou você pode cogitar a hipótese, até pelo meu histórico, de reconstruir se tiver que reconstruir, de requalificar se tiver que requalificar e eu te digo isso com muita sinceridade, eu não tenho dificuldade de conversar com nenhum segmento da sociedade por ser do PT. Eu converso com empresário, eu converso com cientista, eu converso com artista, eu converso com estudante, eu ando pela cidade em todos os ambientes, de ricos, de pobres, e eu não tenho dificuldade de discutir com as pessoas uma agenda para o país”

O ex-prefeito da capital paulista comparou o PT a outros partidos quando comentou o envolvimento de alguns nomes da legenda com a corrupção.

“O PSDB está com problemas. Essa semana tivemos um problema grave com o PSDB. Será que os fundadores do PSDB vão procurar sanear ou vão sair do PSDB? O mesmo vale para o PT, o mesmo vale para o PMDB. Os partidos, hoje, têm membros que estão com problemas, só que são os partidos que nós temos e estão vivendo essa crise em função do fato de que nós construímos um sistema partidário que era inconsistente em função do financiamento empresarial, em função das coligações proporcionais, uma série de regras que colocaram o sistema em xeque, só que todos nós, cidadãos, vamos ter que reconstruir um sistema partidário, não tem como nós escaparmos disso!”.

Diante da possibilidade de um “outsider”, uma pessoa de fora da política, assumir o Planalto a partir das eleições de 2018, como Jair Bolsonaro que, apesar de legislador, nunca teve uma experiência no Poder Executivo, Luciano Huck ou Joaquim Barbosa, Haddad disse o que pensa sobre o assunto:

“Eu entendo o sentimento, mas acredito que o brasileiro não fará isso.” Ele prosseguiu: “A minha opinião sobre o brasileiro é que na ‘hora h’ ele vai tentar compatibilizar experiência, quilômetro rodado, portanto, com honestidade, com caráter, com valores e eu penso que ele vai tentar encontrar no sistema político pessoas que representem essa agenda. O risco de alguém de fora, sem experiência, num momento de crise é absoluto. Você pode até se sentir familiarizado com alguma pessoa, simpatizar com alguma pessoa, mas o risco de você eleger um presidente num momento de crise aguda sem nenhuma experiência é a mesma coisa que escalar o Luciano Huck ou o Bolsonaro para entrar nos 7 a 1 contra a Alemanha, vai virar 12 a 1. Nós estamos num momento de crise, não adianta buscar gente inexperiente para resolver os problemas dramáticos que nós estamos vivendo, tem que ser gente que entende do riscado, que tem quilômetro rodado, que tem bagagem para resolver. Os problemas que nós temos para enfrentar não são simples e se a gente abrir mão de bagagem, se a gente abrir mão de estofo nessa hora, nós vamos estar assumindo um risco desnecessário”.

Fernando Haddad apontou para onde, sob seu ponto de vista, o próximo presidente da República deve direcionar sua prioridade.

“Para a economia, claramente, porque nós precisamos gerar oportunidades de trabalho para as pessoas, o desemprego é um mal horrível e a gente tem que combater isso de todas as formas, porque as famílias dependem disso para viver. Então, a economia tem que entrar no eixo, nós não podemos crescer 0, não podemos crescer 1% ao ano e para isso há fórmulas consagradas, por exemplo, investimento público em infraestrutura, em construção civil, precisa ser retomado.”

Ao ser confrontado com os problemas de corrupção envolvendo as construtoras, Haddad fez suas considerações.

“Tem obras que estão 80% prontas, tem escola técnica que está 80% pronta a obra e você não gasta 20% para abrir. Como é que você vai deixar de investir em educação? Como é que você vai deixar de matricular pessoas em universidades? A juventude quer continuar entrando na universidade. Nós tínhamos três milhões de universitários no começo da década passada, nós estamos com oito milhões de universitários, isso é uma mudança de qualidade, você está formando massa crítica no país. Você não vai gerar emprego? Imaginar que só o empresário vai gerar emprego sem uma combinação de investimento público-privado é uma loucura. Nenhum país do mundo abdica do investimento, nós temos que voltar a investir, temos que criar um ambiente de negócio, recuperar a confiança do investidor privado, está todo mundo recolhido, todo mundo esperando acontecer alguma coisa. (…) Quando nós lançamos o Prouni, sem dinheiro, foi uma troca de impostos por bolsas de estudo, oferecemos mais de dois milhões de bolsas de estudo para os prounistas, gente que não estaria na universidade. Será que não podemos fazer parcerias desse tipo com a iniciativa privada? Será que só tem empresário corrupto no país? Não tem um empresariado que possa fazer parceria com o Estado?”

Ele foi questionado se o brasileiro é corrupto e aproveitou para criticar a perda de importância na gestão Doria de um órgão criado por ele.

“Nós temos um sistema de governança totalmente precário. Aqui em São Paulo, quando eu tomei posse, eu criei uma secretaria de combate à corrupção, chamada Controladoria Geral do Município. Em três meses, ela desbaratou uma quadrilha que tinha desviado R$ 500 milhões, dos quais nós já recuperamos quase a metade, a cidade recuperou quase a metade, mais de R$ 500 milhões desviados no nariz do prefeito de São Paulo”.

E prosseguiu:

“Essa secretaria perdeu o status de secretaria na atual gestão, na minha opinião um equívoco. Você tinha que manter o status de secretaria, porque estava fazendo um bom trabalho, quem está fazendo um bom trabalho tem que ser prestigiado. Você promove quem está fazendo um bom trabalho, não rebaixa. Então, tem jeito, a gente tem tecnologia, se não vamos cair na ideia de que o Brasil não tem saída. O Brasil tem muita saída. Cinco anos atrás o Brasil era um dos países mais importantes do mundo. Chamava a atenção dos Estados Unidos, do G20, da Unasul, da África, do Oriente Médio. O que nós estamos vivendo hoje é que não combina com nosso destino. Nosso destino é outro e não esse”.

Questionado sobre como o PT mudará se os mesmos nomes seguirem na legenda, Haddad observou: “O problema de toda reforma política é que ela tem que contar com uma energia interna que não se manifesta, porque a tentativa dos parlamentares, sobretudo, é sempre preservar os seus mandatos, então você não consegue fazer uma reforma por isso, mas numa crise você faz, porque vai ter pressão popular, vai ter pressão do Supremo Tribunal Federal, como aconteceu, as coisas estão se mexendo. Uma reforma que tem que estar na ordem do dia é a reforma partidária. Os partidos não podem continuar sendo essas caixas-pretas, em que tem comissão provisória de partido que tem 20 anos. Imagina uma comissão provisória de 20 anos? Deixou de ser provisória. No entanto, por que é que se mantém assim? Para o cacique continuar mandando nos departamentos, nos diretórios regionais da sua instituição. Então, tem que haver também uma reforma partidária. teve algum avanço? A proibição do dinheiro de empresas em campanha eleitoral, na minha opinião, foi um avanço. A coligação proporcional só acabou para 2020, foi um erro, deveria ter acabado para a próxima eleição, para dar condições de governabilidade para o próximo presidente, mas em 2020 vai acabar. Provavelmente, em quatro anos, nós vamos ter uma redução drástica do número de partidos, isso vai ajudar, porque você não tem tantos ideários assim. Você tem uma social-democracia, um trabalhismo, um liberalismo, um conservadorismo, mas você tem meia dúzia de visões de mundo que precisam estar representadas, isso vai acontecer no Brasil, vai diminuir o número de partidos, o que vai dar melhores condições de participação”.

Haddad conclamou a participação popular nas decisões políticas do país de forma mais efetiva.

“Nós também temos que mobilizar a democracia de outras maneiras. A participação não pode só acontecer em eleição. As cidades têm que estar mobilizadas. Eu passei quatro anos à frente da prefeitura de São Paulo, a quantidade de conferências e audiências que nós fizemos para aprovar faixas de ônibus, para aprovar onde ia ser construído hospital, como ia ser o plano diretor, como é que ia ser o Carnaval. Nos mínimos detalhes, você chamava audiência pública para conversar com as pessoas sobre as mudanças que estavam acontecendo e as pessoas reclamavam que era pouco ainda”.

O ex-prefeito de São Paulo afirmou que o próximo ano será “quente”.

“A vida política vai passar por uma transformação grande a partir de 2018”.

Provocado a dizer se 2018 precisará de muita testosterona, em alusão a uma afirmação polêmica feita por Ciro Gomes, Haddad foi mais agregador: “É um ano que precisa mobilizar mentes e corações, eu diria. Mentes e corações. Só mente não vai adiantar, só coração não vai adiantar. As duas coisas combinadas, cada um de nós tem de dar o melhor de si para a gente retomar o país, retomar as rédeas do país”.

Diante da afirmação de que não dá mais para defender Lula, feita por um internauta, Haddad discordou:

“Eu acho que 40% das pessoas não só defendem o Lula como querem votar nele. Eu acho o seguinte, eu sou totalmente contra a impunidade, eu digo isso. Se um parente meu cometesse um ilícito, eu ia defender a punição. Podia ficar muito triste no dia em que isso acontecesse, mas paciência, né? Tem uma lei, errou, paga. Agora, eu realmente não consigo ver no processo a discussão que está sendo feita. Eu vejo assim, o Eduardo Cunha tinha dinheiro no exterior, dólar, euro, o outro [Aécio Neves] pediu R$ 2 milhões, o outro [Rodrigo Rocha Loures] pegou uma mala, o outro [Geddel Vieira Lima] tinha um apartamento com R$ 52 milhões. E aí quando eu vou para o caso do [Lula] eu não consigo, cadê a escritura? Eu não consigo ver onde é que está o ponto. Eu acho que o dia em que aparecer uma prova cabal acho que todo mundo vai dizer ‘lamento, mas tem que pagar pelo que fez’, agora acho que forçar uma situação para tirar alguém da disputa eu não acho muito correto.” Haddad disse que enquanto não houver provas da culpa de Lula, ele permancerá ao lado dele e foi além: “E isso vale para outros também. Outro dia me perguntaram do Alckmin. Surgiu uma boataria do Alckmim e eu falei: trabalhei quatro anos com o governador, ele do PSDB e eu do PT, trabalhei quatro anos com ele e nunca ouvi de um empresário um ‘a’ a respeito da conduta dele (…) Agora, apareceu uma prova definitiva, tudo bem, mas pode ser do partido que for. Se eu sei que a pessoa é correta eu vou defender e vou ser adversário político, vou disputar eleição com a pessoa, mas eu não vou usar uma acusação de um delator bandido, de um delator mentiroso, porque a delação, nós temos que tomar muito cuidado com esse instrumento. Ele é útil? Ele é, desde que alguns cuidados sejam tomados”.

Indagado se a chegada de Lula à presidência não significaria uma ruptura de vez no país, Haddad foi direto:

“Vamos para a experiência. Quem teve o maior apoio popular de todas as classes sociais da história do país? De empresários, de pobres e ricos, de negros e brancos, de mulheres e homens, de LGBT, do que você quiser? Quem foi a pessoa que angariou mais apoio no exercício da presidência na história do país? Então, eu acho o seguinte, vamos ver o que o Lula vai propor, vamos ver o que o Alckmin vai propor, vamos ver o que o Bolsonaro vai propor e vamos escolher a melhor proposta para o país, abaixar a bola e escolher a melhor proposta para o país. O país está precisando de proposta agora, está precisando de saídas”.

Haddad não poupou a ex-presidente Dilma Rousseff de críticas ao falar sobre as promessas de campanha que foram quebradas quando ela assumiu o segundo mandato. Entre as medidas contrárias à promessa da petista estava a posse de Joaquim Levy como ministro da Fazenda.

“Eu acho que foi um erro grave, como aconteceu com o Fernando Henrique Cardoso no primeiro mandato, que falou que ia manter o câmbio em paridade com o dólar real e no dia 13 de janeiro perdeu. Mas ele não foi impedido de governar e tentar corrigir o erro que cometeu. Fernando Henrique cometeu o mesmo erro no primeiro mandato e teve quatro anos para corrigir, quase fez o sucessor, mas teve o mandato respeitado. Teve confusão, teve gritaria, mas completou o mandato, foi importante para o Brasil respeitar a institucionalidade e foram 16 anos de estabilidade, oito anos do Fernando Henrique e oito anos do Lula. Então, nós temos que aprender a respeitar as regras do jogo, porque do mesmo jeito que eu acho que a Dilma errou naquela virada, o Aécio aproveitou a oportunidade para desestabilizar o país. Em nome da moral e dos bons costumes? Olha só o que depois se revelou”.

Bolsonaro é um sintoma de um problema que estamos vivendo

O ex-prefeito de São Paulo disse se crê na chance de Jair Bolsonaro se tornar presidente do país.

“Eu acredito que ele vai ter votos em função do clima que está no país. Nós estamos com um tecido doente, isso gera sintomas, na minha opinião o Bolsonaro é um sintoma de um problema que estamos vivendo. Então, nesse sentido, eu acredito que ele tenha intenção de voto, mas não como a cura, ele vai agravar o problema, ele não vai curar o problema, mas ele vai ter votos. Agora, daí a chegar à presidência eu acho que o Brasil pode mais, muito mais do que isso”.

Fernando Haddad fez um artigo para a revista Piauí em que apontou os erros cometidos pelo PT com a classe média e ratificou sua opinião:

“Eu disse isso na Piauí e depois que eu escrevi essas linhas, saiu um estudo científico mostrando que foi exatamente o que aconteceu. Os ricos ficaram mais ricos, os pobres ficaram bem menos pobres, e uma determinada classe média perdeu posição relativa. Não perdeu poder de compra, mas perdeu posição relativa. Isso gerou um certo ressentimento, como alguém que foi descuidado, como alguém que não teve as suas ambições, suas pretensões, seus desejos, seus anseios observados. Eu penso que nós devemos fazer uma reconsideração disso, porque de alguma maneira o modelo econômico a ser pensado deve contemplar também essas camadas, sobretudo os empreendedores. Há muito empreendedorismo no Brasil, que precisa de um olhar mais atento, na minha opinião. Houve um apoio ao empreendedorismo, talvez não o suficiente para promover mais cidadania. A gente olhou muito o empresário e o trabalhador e o empreendedor, talvez, não tenha tido o espaço que merece em uma sociedade tão complexa como a nossa”.

O petista deu sua opinião acerca das privatizações dos bancos públicos: “Acho um absurdo as propostas que estão surgindo para vender os bancos públicos. Os bancos públicos em 2008 foram fundamentais para o Brasil enfrentar a maior crise do capitalismo internacional depois de 1929. E vamos lembrar que em 2010, o Brasil cresceu 7,5% em função da alavancagem de crédito, de promoção tanto do consumo quanto da produção, então os bancos públicos têm um papel fundamental. Uma boa parte do que aconteceu na Europa tem a ver com o fato de que o sistema era todo privado e teve que contar com dinheiro público para se restabelecer, porque podia ter uma quebradeira do sistema financeiro e o nosso sistema estava bem, nós não tivemos nenhuma crise bancária no Brasil.” Haddad observou: “Sem Banco do Brasil você não vai ter agricultura, você não vai ter agronegócio, você não vai ter agricultura familiar. O banco de fomento à agricultura familiar e ao agronegócio é o Banco do Brasil. Sem a Caixa Econômica Federal você não tem ‘Minha Casa, Minha Vida’, você não tem saneamento, você não tem nada. Sem BNDES, você não tem o pouco da indústria que sobrou, depois dessa quebradeira que aconteceu. Então, esses três bancos, cada um com a sua característica e a sua vocação, fomenta setores importantíssimos da economia”.

O político falou, também, sobre a estatal brasileira de petróleo: “A Petrobras está sendo fatiada e vendida nesse momento e eu sou a favor de manter a governança sobre o pré-sal. O pré-sal não é qualquer coisa. O pré-sal coloca o Brasil em uma situação que é delicada em mais de um sentido. Primeiro, aguça o apetite das potências estrangeiras sobre o Brasil. Está todo mundo de olho no nosso pré-sal, inclusive as petrolíferas americanas. Dois, se a gente não souber o que fazer com o petróleo, nós vamos gastar o dinheiro da pior maneira possível, como se fosse um bem infinito e não é, ele é finito. Então, você tem que usar o dinheiro do pré-sal naquilo que vai dar consistência no nosso desenvolvimento de longo prazo, desenvolvimento sustentável. A decisão de vincular o pré-sal à educação foi a mais correta, porque se nós educarmos uma geração, essa geração educada vai facilitar o trabalho da escola no que diz respeito à geração futura”.

Crítica a ‘farinata’, chamada por muitos de ‘ração humana’,  apresentada por Doria

O ex-prefeito da capital paulista criticou João Doria ao ser questionado sobre a ‘farinata’, chamada por muitos de ‘ração humana’, produto apresentado pelo atual gestor da cidade como um alternativa para combater a fome da população mais pobre da cidade.

“A atual administração, da gestão Doria, cortou um programa de suplementação alimentar que tinha 20 anos, que era o Leve Leite. Posso até defender com mais liberdade, porque não foi nem de uma administração do PT, não foi nem Erundina, nem Marta e nem eu, foi Paulo Maluf que fez, Leve Leite, tinha 20 anos. Cortou a suplementação alimentar alegando que as crianças estavam obesas, que as crianças não precisavam de suplemento. Aí você corta o leite e introduz a ração, a farinata, que nome tenha. Eu não consigo ver consistência nessa decisão. O que eu vi foram famílias reclamando do corte do leite.” Diante da informação de que algumas pessoas vendiam ou trocavam o leite recebido na escola, Haddad observou: “O que é delas, se você dá para as pessoas… Tinha gente que fazia bolo, tinha gente que dava para o filho meio pacote, dava para o vizinho a outra metade, tinha gente que trocava por carne, que trocava por medicamento. Nós fizemos pesquisa sobre o que as pessoas faziam com o leite no começo da nossa gestão, eram as mais variadas destinações”.

Mariana Godoy pergunta a todo presidenciável por que ele gostaria de ser presidente do Brasil. Depois de negar essa possibilidade, Haddad respondeu apontando para a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva:

“Eu gostaria que o projeto do qual eu fiz parte voltasse à presidência da República porque é um projeto que eu vivi intensamente e vi dar certo. Eu participei do Governo Federal de 2003 até janeiro de 2012. Eu vi um Brasil diferente, eu vi um Brasil que eu sonhava na infância e na adolescência e que eu imaginava que nunca ia chegar. O que aconteceu depois não faz sentido para o potencial que nós criamos de desenvolvimento humano nesse país. Eu quero retomar esse sonho, não quero que aquilo seja um sonho de uma noite de verão. Eu quero que aquilo seja um sonho que se transforme em realidade. Isso estava acontecendo, não temos por que abdicar da realização desse sonho. Quero viver aqueles bons tempos de novo”.

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