Ciro Gomes acha injusto limitar os gastos sociais e deixar bancos de fora

Ciro Gomes. Foto: Divulgação

Ciro Gomes. Foto: Divulgação

O candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, confrontou ontem o sistema financeiro, que comanda a economia e a política nacional e foi o principal vetor do golpe de Estado de 2016.

A reação foi imediata. Ciro disse que irá estabelecer um limite para para pagamento de dívida por parte do Estado, um instrumento já utilizado nos Estados Unidos.

“Qual é o país do mundo que faz o tabelamento de gastos por 20 anos exclusivamente em cima de educação, saúde, segurança, cultura, ciência e tecnologia, ponte, aeroporto e energia? Ou seja: os interesses populares?”. Na sequência, Ciro afirmou que todos esses itens representam 21% do Orçamento da União, “deixando livre [da hipótese de congelamento] 29%, que é a Previdência, e, pior, 51,7% […] entregue para despesa financeira”.

Além disso, o candidato propôs a criação de um imposto no estilo da extinta Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), mas exclusivamente sobre transações de alto valor. Ato contínuo, foi atacado por representantes do sistema financeiro e do rentismo, que são sustentados pela sangria dos recursos do Estado.

O economista Marcos Lisboa, presidente do Insper, principal centro do pensamento econômico liberal vinculado ao sistema financeiro do país, criticou Ciro.

“Muita coisa nesse momento é jogada sem substância nem detalhamento. Algumas das propostas não têm aderência à realidade”.

Para Lisboa, “o tamanho dos juros pagos pela União está relacionado à sua dívida e a redução dessa despesa só irá acontecer com a continuidade do processo de ajuste fiscal, não com seu enfraquecimento. Não há atalhos e soluções fáceis para isso”. Esta tese já sofre contestação até dentro do financismo, como do economista André Lara Rezende, um dos pais do Plano Real, que desde 2017 critica a política de juros altos a serviço do pagamento da dívida pública para os bancos e os rentistas: “É aquela coisa da loucura: vamos insistir porque o que deve estar errado é a realidade e não a teoria” .

Quase simultaneamente, a Folha de S.Paulo, hoje porta-voz do sistema financeiro, atacou Ciro em editorial: “Ao que parece, pretende enfrentar a ruína orçamentária com maior tributação sobre os ricos —medida que, embora justa, é insuficiente, ainda mais se devidamente acompanhada de menor taxação sobre os mais pobres”.

O jornal tem feito campanha contra qualquer proposta para tributar grandes fortunas ou os ricos, apesar hoje esta ser uma prioridade para governos democráticos em todo o planeta.

As declarações de Ciro foram dadas durante uma sabatina em São Paulo promovida pelo UOL, Folha e SBT.

Ciro confrontou seus entrevistadores ao contrapor a ausência de limites com gastos financeiros (para os ricos) e os limites para os gastos sociais (para os pobres). Falou do caso específico da saúde para exemplificar a sua preocupação. Disse que o gasto total do setor é quase todo dependente da taxa de câmbio, já que, segundo ele, 80% das despesas em hospitais é de materiais importados.

“Aí a taxa de câmbio sai de R$ 2,70 para R$ 3,80, para R$ 4,00, o preço das injeções, das vacinas, dos medicamentos explodem e eu estou nominalmente amarrado na inflação brasileira. Percebe a loucura disso? Não é possível que a gente tenha uma pedra no lugar do coração”.

* Fonte: Brasil 247

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